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Trump reitera ameaças com bíblia ao contrário num país virado do avesso
Com os Estados Unidos imersos em protestos, uns agressivos, outros pacíficos, o presidente americano ameaçou recorrer ao exército para pôr cobro às ações violentas. Pelo meio, as forças abriram caminho com recurso a gás lacrimogéneo para Trump falar defronte de uma igreja, empunhando uma bíblia do avesso.
À medida que se multiplicam os protestos pelo território norte-americano, cresce também de tom o discurso coercivo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, depois de numa primeira fase ter colocado o exército sob alerta, ameaça agora recorrer à força para controlar os protestos mais violentos.
"Sou o vosso presidente da lei e ordem. Vou mobilizar todos os recursos federais disponíveis, civis e militares, para pôr fim aos motins e pilhagens, para acabar com a destruição e os fogos postos e para proteger os direitos dos americanos cumpridores da lei", declarou Trump na noite de segunda-feira.
Ante as reticências ou indisponibilidade declarada de "mayors" e governadores recorrerem à força disponibilizada pela Casa Branca, Trump pressionou os aqueles dirigentes no sentido de assegurarem uma presença policial "esmagadora" para dominar a violência.
"Se uma cidade ou um Estado se recusar a tomar as medidas necessárias para defender a vida e a propriedade dos seus residentes, vou mobilizar as forças militares americanas e resolver o problema rapidamente", rematou.
Estas palavras de Donald Trump foram proferidas a partir dos jardins da Casa Branca e terão feito eco a escassas centenas de metros, onde forças militares e de segurança recorreram a gás lacrimogéneo e balas de borracha para afastar protestos pacíficos contra a morte de George Floyd e abrir caminho para que o presidente pudesse depois passar.
Minutos depois, Trump posava defronte da chamada "igreja dos presidentes" empunhando uma bíblia virada do avesso, numa metáfora do momento que os próprios Estados Unidos atravessam.
Trump "não é um líder", é um "ditador"
As declarações de Trump foram mal recebidas por diversos setores da sociedade norte-americana, da política ao desporto, passando pela igreja.
"[Trump] nem sequer rezou. Não mencionou o nome de George Floyd e não teve uma única palavra para as pessoas alvo desta horrenda expressão de racismo", disse Mariann Budde, bispo da diocese episcopal de Washington.
Outra reação notada, e contundente, foi a de Gregg Popovich, treinador dos San Antonio Spurs, equipa da NBA: "É mais importante para ele (Trump) tranquilizar o pequeno grupo de seguidores que valida a sua insanidade. O sistema tem de mudar. Farei tudo o que puder para ajudar, porque é isso que os líderes fazem. Mas ele não pode fazer nada que nos coloque num caminho positivo, porque ele não é um líder."
Já o senador democrata do Oregon, Ron Wyder, classificou as palavras de Trump como um "discurso fascista" e a também senadora democrata, Kamala Harris, asseverou que "estas não são palavras de um presidente, são palavras de um ditador".
Protestos sem fim à vista
As manifestações e ações de protesto que eclodiram desde a morte bárbara de George Floyd já chegaram a centena e meia de cidades americanas, causando pelo menos sete fatalidades e milhares de feridos e detidos. Os últimos óbitos foram confirmados na noite de segunda-feira, em Chicago.
A morte violenta de Floyd foi o rastilho para manifestações que estão agora longe de se cingir a este caso, pois assumiram uma dimensão transversal contrária ao racismo e violência que muitos consideram endémico na forma de as forças de segurança atuarem.