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Republicanos isolam Trump na recusa a compromisso com transição pacífica de poder
Um conjunto de membros republicanos do Congresso americano, entre os quais o líder da maioria conservadora no Senado, descarta a ameaça feita pelo presidente dos Estados Unidos de não se comprometer com uma transição pacífica de poder.
Alguns membros do Partido Republicano decidiram dar mostras de autonomia face ao presidente dos Estados Unidos. Esta quinta-feira, congressistas republicanos de relevo afastaram a possibilidade de Donald Trump não aceitar uma eventual derrota nas presidenciais de 3 de novembro e ignoraram a sua recusa em comprometer-se com uma transição pacífica de poder.
"Haverá uma transição ordeira, tal como tem havido a cada quatro anos desde 1792", escreveu, no Twitter, Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado (câmara alta do Congresso) norte-americano, assegurando ainda que o vencedor das presidenciais "irá tomar posse a 20 de janeiro [de 2021]".
The winner of the November 3rd election will be inaugurated on January 20th. There will be an orderly transition just as there has been every four years since 1792.
— Leader McConnell (@senatemajldr) September 24, 2020
As afirmações feitas por diversos membros do Partido Republicano coincidem na garantia de que, tal como prevê a Constituição, seja quem for o derrotado nas eleições, o mesmo terá de conceder a presidência. No entanto, como realça a imprensa americana, apesar desta posição antagónica face a Trump, nenhum republicano condenou diretamente a ameaça feita pelo atual presidente e a maior parte das principais figuras do partido persiste remetida ao silêncio.
Um dos nomes que resolveu falar foi o senador republicano Marco Rubio, pese embora rejeitando comentar as declarações de Donald Trump, argumentando não ser um" comentador capacitado". Rubio é presidente do Comité de Informações do Congresso que recentemente produziu um relatório que conclui que a interferência com vista a enfraquecer a confiança no resultado de uma determinada eleição pode ter "consequências significativas ao nível da segurança nacional e eleitoral".
Seja como for, o ex-candidato à nomeação para candidato presidencial do Grand Old Party (GOP) admite que o resultado final das presidenciais deste ano até pode demorar mais tempo até ser conhecido, contudo "será válido". Sem surpresa, uma figura importante a falar foi Mitt Romney, precisamente o único senador republicano que votou pela condenação do presidente no processo de destituição este ano chumbado no Senado.
"Uma transição pacífica de poder é fundamental para a democracia; sem isso, temos a Bielorrússia. Qualquer sugestão de que um presidente possa não respeitar essa garantia constitucional é tão impensável como inaceitável", declarou Romney no Twitter.
Fundamental to democracy is the peaceful transition of power; without that, there is Belarus. Any suggestion that a president might not respect this Constitutional guarantee is both unthinkable and unacceptable.
— Mitt Romney (@MittRomney) September 24, 2020
O Politico escreve que a congressista Liz Cheney também assegurou que os líderes americanos não deixarão de fazer cumprir a Constituição, uma declaração logo secundada por Steve Stivers, que também é deputado na Câmara dos Representantes (câmara baixa). Por sua vez, o senador Ben Sasse (Nebrasca) lembrou que Trump "diz coisas tontas" e que nos Estados Unidos "sempre houve transições pacíficas de poder e isso não vai mudar".
Trump contra voto por correspondência
Apesar de, desde há vários meses, Donald Trump ter vindo a admitir a hipótese de não aceitar o resultado das presidenciais de 3 de novembro, esta quarta-feira assumiu, pela primeira vez, e de forma desassombrada, que não põe de parte a possibilidade de uma transição violenta de poder.
O motivo invocado pelo magnata nova-iorquino para admitir a possibilidade de não aceitação do resultado eleitoral prende-se com as insistentes críticas ao voto por correspondência, sobretudo porque esta modalidade de voto está a ganhar relevância devido a uma crise pandémica que já causou mais de 200 mil mortes nos EUA.
Trump admitiu já publicamente ter nomeado o doador do partido Republicano e seu aliado de longa data, Louis DeJoy, para liderar o Serviço Postal dos EUA e, a partir desta função, descredibilizar o voto postal.
Quando faltam 40 dias para a eleição presidencial, o candidato democrata Joe Biden continua a liderar destacado as sondagens. Segundo a média de sondagens nacionais calculada pela NBC, Biden lidera com 50,3% das intenções de voto face aos 41,8% obtidos pelo presidente.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 23, 2020