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Paraíso do dinheiro no Médio Oriente, Dubai está a perder brilho
Desde o aparecimento das primeiras torres reluzentes no deserto, o Dubai passou por mudanças rápidas. O emirado está familiarizado com altos e baixos. Mas o que está a acontecer agora é diferente: uma purga lenta.
As emblemáticas construtoras da cidade continuam a avançar. Os guindastes estão por toda a parte. Mas ninguém sabe ao certo quem ocupará todo o novo espaço destinado ao comércio e a escritórios. Os centros comerciais do Dubai já estão visivelmente menos cheios de lojas e restaurantes do que antes. Os expatriados, força vital da economia, começaram a fazer as malas e a voltar para casa - ou pelo menos a falar sobre o assunto devido ao aumento do custo de vida e de se fazer negócios. Os pilares corporativos, como a empresa aérea Emirates e a construtora imobiliária Emaar Properties, revelaram lucros decepcionantes no terceiro trimestre. O mercado de acções está a ter o seu pior ano desde 2008.
O desconforto comercial já era aparente em Abril, quando o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum convocou uma reunião com mais de 100 executivos no seu palácio com vista para o Golfo Pérsico. Os líderes levantaram problemas, como as taxas elevadas do governo - que estão a corroer a vantagem comparativa de uma Dubai livre de impostos - e as regras rígidas para os vistos, que empurram os estrangeiros para fora quando estes perdem os seus empregos. O conclave foi seguido de uma enxurrada de decisões, que ainda estão a avançar pelo sistema.
Mas uma solução para o que vai mal no Dubai pode estar além dos poderes do seu governante. O xeque Mohammed e seus antecessores transformaram uma vila de pescadores num centro de finanças, comércio e turismo na região - mas agora essa região está a mudar, talvez para sempre.
Guerra ou comércio?
A queda do petróleo desde 2014 afectou os grandes consumidores dos estados vizinhos do Golfo, que migravam para o Dubai (turistas da China e da Índia estão a preencher a lacuna, mas são mais atentos aos preços). Os sauditas, em particular, estão a sentir o aperto porque o seu próprio governo está a impor austeridade fiscal e a confiscar riqueza privada. O papel da cidade como entreposto comercial está a ser minado pela guerra tarifária global - e, em particular, pela iniciativa dos EUA de fechar o comércio com o vizinho Irão.
Existe também um problema mais profundo. O Dubai prosperou como uma espécie de Suíça do Golfo, um lugar para fazer negócios separado das rivalidades muitas vezes violentas do Oriente Médio, diz Jim Krane, autor do livro "City of Gold: Dubai and the Dream of Capitalism", de 2009.
Agora, o estado do qual o Dubai faz parte, os Emirados Árabes Unidos, tornou-se um participante activo nestes conflitos, lutando em guerras civis da Líbia ao Iémen e juntando-se ao boicote ao Catar liderado pelos sauditas.
"O Dubai encontra-se nesta situação, basicamente, não por sua culpa própria", diz Krane. "Pode-se entrar em guerra com os vizinhos ou negociar com eles. Mas é muito difícil fazer ambas as coisas."
"Surpresa desagradável"
As histórias de cidadãos do Catar que receberam ordens para deixar os Emirados Árabes Unidos abalaram empresas que atendem a região a partir de sedes no Dubai. Os executivos americanos mostraram especial preocupação com a perspectiva de serem forçados a escolher lados, afirmou Barbara Leaf, que foi embaixadora dos EUA nos Emirados Árabes Unidos até Março.
"Isto lançou uma sombra", conta. "Foi uma surpresa muito desagradável quando empresas com sede nos Emirados Árabes Unidos descobriram que já não podiam voar ou enviar mercadorias directamente para Doha." A disputa continua, apesar de os EUA estarem a exercer uma pressão renovada por um acordo.
(Texto original: A Haven for Money in the Middle East, Dubai Is Losing Its Shine)