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Os Kennedy, primeiro volume está nas bancas, assinantes recebem livro completo

Assinantes da SÁBADO recebem livro completo, que chegará nos próximos dias. O primeiro volume já está nas bancas com a edição semanal.

20 de Abril de 2018 às 19:58
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O primeiro volume do livro "Irmãos, a História Oculta dos Kennedy" chegou, esta quinta-feira, às bancas juntamente com a edição semanal da revista SÁBADO, que irá oferecer durante as próximas semanas mais três volumes da obra do jornalista David Talbolt. Os assinantes da revista, por sua vez, vão receber nos próximos dias o livro completo.

Verificámos que – devido ao volume - o envio deste, junto com a revista poderia gerar algumas dificuldades na entrega, eventualmente prejudicando um considerável número de Assinantes na recepção atempada da própria revista. Desta forma, optámos pelo seu envio separadamente da revista. Por ser Assinante, continua a beneficiar de todas as vantagens: garante a totalidade das ofertas de capa e não paga quaisquer despesas adicionais, pois os portes de envio são por nossa conta.

A audiência do Presidente John Fitzgerald Kennedy (JFK) ao ministro dos Negócios Estrangeiros de Salazar, em que debateram a posição dos Estados Unidos da América em relação à política colonial portuguesa, foi no dia seguinte ao do discurso televisivo do estadista americano sobre os mísseis russos em Cuba. E, como registaria Franco Nogueira no seu diário (Um Político Assume-se), "no pensamento de Kennedy, não deve haver espaço senão para o problema de Cuba; mas por acto de vontade quis dar-me a imagem do chefe que nesse transe de drama sabe aguentar a rotina e é capaz de dialogar sobre assuntos alheios à crise". 

O diplomata julgava que JFK estava somente preocupado com a ameaça cubano-soviética, sem desconfiar que travava um combate ainda mais intenso com a sua própria administração, como se percebe ao ler Irmãos - A História Oculta dos Kennedy, do jornalista David Talbot, que a SÁBADO vai oferecer, a partir da próxima semana, com prefácio de Francisco José Viegas e caixa arquivadora para colocar os quatro livros em que foi dividida uma obra que permite novas leituras da História. 

John Kennedy surge habitualmente como um "duro" da Guerra Fria - sobretudo devido ao discurso em Berlim (o da célebre expressão Ich bin ein Berliner), quando carros de combate americanos e soviéticos estiveram frente a frente e um comandante militar yankee queria mesmo disparar contra o Muro, e ao bloqueio naval a Cuba, no momento mais perigoso do confronto entre as superpotências. 

Mas essa imagem tem escondido outra realidade: Kennedy foi o primeiro líder americano a procurar acabar com a "histeria" anticomunista que se implantara no país e, contrariando os medalhados oficiais do Pentágono e os mestres de espionagem da CIA, a sua primordial preocupação foi sempre evitar uma guerra nuclear. "Manteve a paz" - era o epitáfio que queria para si, pois vivia assombrado com a hipótese de um conflito apocalíptico e sem sobreviventes. 

E, como se apurou décadas volvidas, se JFK se tivesse vergado, por exemplo, perante as pressões na Crise dos Mísseis - em que tanto o Estado-Maior das Forças Armadas como os responsáveis dos Serviços de Informações ignoravam o verdadeiro potencial já instalado em Cuba, o real número de soviéticos e as ordens que estes tinham para retaliar em força se houvesse qualquer ataque americano -, "o mundo teria sido reduzido a uma pilha de escombros fumegantes". 

Kruschev chora no Kremlin 
No dia 22 de Novembro de 1963, Robert Kennedy recebe o telefonema do director do FBI a comunicar-lhe que o irmão tinha sido abatido em Dallas e desconfia logo da CIA, da Máfia ou dos exilados cubanos - nunca pensando em Fidel nem em Kruschev. Aliás, como se descobriria mais tarde, ele e a viúva enviaram uma mensagem secreta ao líder soviético em que afastavam a hipótese de o crime ter sido planeado pelo país comunista, pois acreditavam numa poderosa conspiração interna. 

Ao saber do atentado na Dealey Plaza, e apesar das desavenças, Kruschev chorou em pleno Kremlin. E Fidel acabara de ler uma mensagem, entregue por um jornalista francês, em que JFK se mostrava determinado a obter uma coexistência pacífica com Cuba, quando se levantou para ouvir a notícia na rádio - e comentaria que, se esse passo tivesse sido dado, Kennedy seria "um Presidente ainda maior do que Lincoln". No mesmo dia, a CIA (cuja actividade se pautava pela atitude "que se lixe o Presidente!") pretendia que entregassem uma caneta envenenada ao governante de Havana. 

Em Irmãos - A História Oculta dos Kennedy, percebe-se muito bem que o mais importante assassinato político do século XX teve direito à pior investigação criminal da História. Lee Harvey Oswald, usando uma espingarda de repetição rudimentar que lhe custara a ninharia de 12,78 dólares, consegue fazer três disparos com a precisão de um profissional em menos de seis segundos - "feito que nem o competente atirador que estava [então] à frente da National Rifle Association conseguiu igualar". E houve uma "bala mágica", que matou o Presidente e, também, o governador do Texas. O único agente dos Serviços Secretos a agir não obedeceu a uma ordem para ficar quieto. O médico pessoal foi afastado da autópsia, cujo relatório contrariava a sua certidão de óbito, ao sustentar que o orifício na garganta tinha sido provocado, não por um tiro de frente, mas pela saída de uma bala. A Comissão Warren ignorou as testemunhas que diziam terem escutado muito mais que três disparos, alguns vindos do pequeno monte que ficava diante do carro. E há a inacreditável execução de Oswald por Jack Ruby, transmitida em directo pela televisão - um secretário de Estado até julgou que a emissão mudara para um filme de gangsters de Edward G. Robinson. Além do filme de Zapruder, de que apenas se reproduziram alguns frames na época (e nunca o que mostra o tiro frontal), ter ficado escondido até 1975 nos cofres da revista Life. 

Perante tais evidências, David Talbot passou três anos a tentar perceber o que fez Robert Kennedy (o implacável procurador-geral, que, antes e durante a Presidência de JFK, perseguira os maiores mafiosos e os políticos corruptos), como Supremo Magistrado dos EUA, para investigar a morte do irmão. E concluiu que, se Bobby declarava publicamente que aceitava a tese oficial, no máximo secretismo fazia diligências para apurar a verdade. Esperava vir a conquistar a Casa Branca para confirmar que tinha sido um plano que envolvera a CIA, os "seus sequazes na Máfia" e o mundo dos exilados cubanos - mas, antes desse momento, também ele seria abatido, em 1968, em Los Angeles. 

Além da vasta bibliografia, com livros canónicos e "teorias da conspiração", o jornalista David Talbot analisou documentos entretanto desclassificados: gravações feitas na Casa Branca; registos telefónicos de Robert; memorandos da CIA, do FBI e do Pentágono; material que foi sendo libertado por cubanos, russos e mexicanos. Também os depoimentos perante a Comissão Warren (1963), o Comité Church (1975) e o Comité Especial da Câmara Sobre Assassínios (1978); e os prestados para o projecto de História Oral da Biblioteca JFK. Até leu as notas inéditas da primeira entrevista feita à viúva, que foi publicada numa versão muito suave; e viu o esboço de um romance "estranhamente confessional" de um especialista em contra-informação da CIA, que recriava um atentado como o de Dallas. Para esclarecer aspectos menos claros ou precisar o sentido de declarações enigmáticas, entrevistou 150 pessoas, dos colaboradores próximos dos Kennedy até aos seus declarados inimigos. 

A retirada do Vietname 
A "sentença de morte" dos Irmãos Kennedy começou com a Baía dos Porcos, uma operação de cubanos que queriam derrubar Fidel e que contava com o apoio dos Serviços Secretos e das chefias militares, mas que estava condenada ao fracasso - a menos que a Casa Branca, perante a iminente desgraça, entrasse em pânico e desse ordem para os aviões de combate e um destroyer irem dar cobertura ao golpe. Para espanto dos oficiais mais graduados e dos "espiões de capa e espada", a firmeza com que o jovem Presidente recusou que a Força Aérea e a Marinha se envolvessem no caso (rejeitando, assim, a "diplomacia do vaso de guerra") definiu, para sempre, as suas relações com o Pentágono e com a CIA - e acarretou-lhe o ódio de cubanos e da Máfia, que sonhavam voltar aos tempos lucrativos naquela ilha antes da chegada dos "barbudos" ao poder. "Mas pensam que vou carregar na consciência a responsabilidade pela mutilação e assassínio imorais de crianças como as nossas que aqui vimos [a brincar] esta noite?", desabafaria JFK. 

Há outras surpresas no livro, como a intenção de retirar do Vietname, com um primeiro contingente, dos 16 mil conselheiros militares colocados em Saigão, a regressar no mês seguinte ao do crime de Dallas. Ao contrário do pretendido pelas chefias das Forças Armadas, pelos responsáveis dos Serviços Secretos e pelos "falcões" da sua própria equipa - que advogavam o envio de divisões de combate e bombardeamentos sobre o Vietname do Norte -, Kennedy previa a retirada total em 1965 (já no seu segundo mandato). Apesar de não haver nada escrito, a informação é confirmada até por Robert McNamara, que então apoiava a decisão - ma s, com Lyndon Johnson, mudaria radicalmente, sendo um dos arquitectos do envolvimento dos EUA no Vietname. JFK entendia que o principal dever de um Presidente era manter a sua nação afastada da guerra - e aquele era um conflito em que o Vietname do Sul devia vencer o Vietname do Norte, sem esperar que os americanos resolvessem o problema. 

E levanta-se a questão mais pertinente: no fundo, quem tinha mais poder? O chefe do FBI bisbilhotava a vida do Presidente; a CIA tinha uma política externa própria (contrariando a Casa Branca), que incluía atentados contra dirigentes estrangeiros e o derrube de governos; o Pentágono, para quem a Universidade de Harvard era "uma escola de comunistas", desprezava as ordens do Comandante Supremo; e o Chefe do Estado não tinha a certeza se os "centuriões da velha ordem" não iniciariam uma guerra sem a sua aprovação - mesmo Johnson, ao voar de Dallas para Washington já como Presidente, desconfiando que podia ter havido um golpe de Estado, questionava-se: "Será que os mísseis já vão no ar?" 

Por coincidência, antes daquela tarde em que caiu uma "chuva de cartuchos" sobre a limusina descapotável, mas que o Relatório Warren "reduziu" a três balas, como recordava Franco Nogueira, o último ministro dos Negócios Estrangeiros que JFK tinha recebido, a 7 de Novembro, acolhendo-o "como a um velho amigo", tinha sido… o português.

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