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Loucura de Março: desporto universitário de milhões, atletas recebem zero

Quinta-feira arrancou o “March Madness”, o torneio do NCAA (National Collegiate Athletic Association), que coloca frente a frente as melhores equipas de basquetebol universitário dos Estados Unidos.

Jamie Rhodes/Reuters
21 de Março de 2015 às 10:00
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A alcunha do torneio traduz-se por "Loucura de Março", o que faz sentido perante o fanatismo que alguns norte-americanos dedicam a este evento desportivo. Durante três semanas, 68 equipas vão tentar entrar para a história do basquetebol amador, enfrentando-se num torneio de eliminação directa.

 

Para os europeus pode ser estranho dar tanta atenção a um desporto jogado por estudantes, mas só no ano passado a NCAA arrecadou uma receita de 989 milhões de dólares (914 milhões de euros). Com uma despesa de 909 milhões de dólares, a NCAA terá assim tido o seu maior excedente em pelo menos dez anos, segundo contas do USA Today. De longe, a maior percentagem dessa receita vem dos direitos televisivos e de marketing, quase tudo o resto da venda de bilhetes para os jogos do torneio.

 

Há cinco anos, a NCAA renovou o seu contrato de direitos televisivos com a CBS e a Turner Sports até 2024, por um valor de 10,8 mil milhões de dólares, uma média de 720 milhões de dólares por ano.

 

Como se explica um valor tão elevado? Bom, o facto de as receitas de publicidade ultrapassarem os mil milhões de dólares é capaz de ajudar. Nenhuma época de playoffs dos grandes desportos norte-americanos gera tanto dinheiro. Um anúncio de 30 segundos na final do torneio pode custar 1,5 milhões de dólares.

 

Segundo a Bloomberg, o bilhete mais barato para o jogo da final – marcado para 6 de Abril, em Indianápolis – custa 195 dólares. O mais caro, 4.061 dólares. Um pacote que inclua as meias-finais varia entre 425 a 11.600 dólares. As grandes marcas querem um pedaço. Coca-Cola, AT&T, Burguer King, LG, etc. Há dois anos, a cidade que recebeu a final, Atlanta, recebeu 100 mil visitantes, que terão trazido 70 milhões de dólares em receita.

 

Para as equipas, os resultados financeiros podem variar muito, dependendo do número de jogos que vençam. Só por chegarem ao torneio, podem ganhar 1,7 milhões de dólares. Recebem cinco milhões se passarem à terceira ronda e 8,3 milhões de chegarem às meias-finais.

 

O torneio é tão grande, que é um acontecimento nacional quando Barack Obama anuncia a sua escolha para vencedor do torneio, antecipando os resultados das 63 partidas que serão jogadas. Este ano, escolheu Kentucky. Uma opção de baixo risco, uma vez que é o grande favorito.

 

Estima-se que em todo o mundo serão apostados cerca de 12 mil milhões de dólares nos resultados do torneio, apenas 1% dos quais serão apostados em Las Vegas.

 

Jogadores que passam fome

 

Já reparou que em todos estes números nunca referimos quanto é que os jogadores ganham? É porque eles não recebem nada. Essa tem sido a grande polémica dos últimos anos. A NCAA recusa-se a pagar aos seus atletas, argumentando que eles são estudantes e jogadores amadores. Não são trabalhadores, nem profissionais. Estão proibidos de receber qualquer tipo de compensação devido ao seu estatuto. Jogadores já foram castigados por lhes ter sido oferecido um desconto no dia de aniversário, treinadores por pagarem um almoço a um jogador que tinha acabado de perder o pai. Os jogadores têm de assinar um contrato que os compromete a obedecer a um manual de regras de 440 páginas.  

 

O tema voltou a ser discutido este Verão, quando Shabazz Napier, jogador da UConn, disse que enfrentou noites de "fome" enquanto estava na universidade. "Temos noites de fome, em que não temos dinheiro suficiente para comprar comida. Às vezes é preciso dinheiro. Não digo que se deva esticar até às centenas de milhares dólares para jogar, porque muitas vezes não vão lidar bem com o dinheiro. Às vezes, há noites de fome, em que não tenho o que comer, mas mesmo assim tenho de jogar aquilo que sou capaz."

 

A NCAA perdeu recentemente um processo em tribunal contra Ed O’Bannon, um antigo jogador da UCLA, que contestava o facto de não ter recebido nada pelo aproveitamento da sua imagem em jogos de vídeo e outro tipo de produtos de marketing. A NCAA recorreu da decisão.

 

Segundo o site NerdWallet, o valor médio de um jogador de basquetebol universitário de uma das 25 melhores escolas do país vale 488 mil dólares por ano. Uma das maiores estrelas da actualidade, Jahlil Okafor, vale deverá valer 2,6 milhões.

 

De recordar que apenas 1,2% dos jogadores universitários chegam a profissionais. 

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