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Lagarde: "Portugal tem de intensificar esforços para preparar o futuro"

A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, veio a Portugal e deixou uma receita para o país preparar o futuro. "Não estamos a enfrentar uma recessão, mas é bem claro que os riscos aumentaram," avisou.

Bloomberg
01 de Março de 2019 às 19:10
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"Portugal tem de intensificar esforços para preparar o futuro" – foi esta a mensagem que Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional deixou esta sexta-feira, na reunião do Conselho de Estado. A líder do FMI elogiou os esforços dos portugueses, mas avisou que "é provável que as águas da economia mundial se venham a tornar mais traiçoeiras", pelo que será necessário "implementar agora as reformas", mesmo que seja "difícil".

A apreensão de Lagarde quanto ao rumo da economia mundial é evidente. No discurso, tal como foi preparado para ser lido, repetiu os avisos sobre a conjuntura. Citou Vasco da Gama para dizer que não se pode ter "medo da escuridão" e que é "importante avançar mesmo quando o horizonte [é] sombrio".

Pediu a Portugal que "não se deixe ficar à deriva" e notou que "os riscos no resto do mundo são cada vez maiores". E "é provável que representem a principal fonte de instabilidade para a economia portuguesa", admitiu, para depois defender: "Poderá ser difícil implementar agora as reformas, mas elas ajudarão durante uma tempestade."

A receita de Lagarde para Portugal

A diretora-geral do FMI deixou um conjunto de recomendações concretas para Portugal seguir, se quiser tornar-se mais "resistente" ao abrandamento económico.

Desde logo, é preciso reforçar mais o saldo orçamental subjacente. Isso "ajudará a acelerar o ritmo de redução da dívida" e a diferenciar Portugal dos outros países altamente endividados. "O ajuste agora pode permitir um abrandamento mais tarde, quando necessário", explicou, na linha da afirmação já dita no passado de que "é preciso arranjar o telhado enquanto faz sol".

Depois, há que implementar "reformas estruturais para aumentar a poupança, o investimento e a produtividade". Tais reformas são "essenciais para melhorar o padrão de vida, ajudando a desalavancar a economia e a reduzir as vulnerabilidades". Lagarde argumenta que são "itens fundamentais incluem melhorar o funcionamento do mercado de trabalho, simplificar a regulamentação, e melhorar a eficiência dos processos judiciais. Estas reformas podem ser orientadas de forma a proteger os mais pobres e a reduzir a desigualdade. De facto, Portugal tem um historial sólido de aplicação de reformas e proteção aos mais vulneráveis".

Disse ainda que é preciso "preparar o futuro". Lagarde referia-se à transformação tecnológica e defendeu que para Portugal estar preparado tem de criar "instituições reguladoras que protejam os consumidores sem asfixiar a concorrência", desenvolver "um sistema de ensino orientado para as necessidades dos trabalhadores do futuro" e criar "redes de proteção sólidas para que quem perde o seu emprego por causa da tecnologia não seja deixado para trás."

Por fim, é preciso continuar a reparação do sistema bancário. "Nos últimos anos têm sido alcançados progressos no restauro dos balanços dos bancos; a nossa mensagem é para continuar a avançar com este importante trabalho".

Os riscos mundiais

Christine Lagarde também deixou ao Conselho de Estado a sua avaliação da economia mundial. Destacou três desafios: o aumento das tensões comerciais, a subida do endividamento mundial, e o abrandamento da China, que se pode revelar mais rápido do que o esperado. Para enfrentar estes riscos será necessária "mais cooperação internacional, não menos" e com alguma urgência, porque a janela de oportunidade "pode não durar muito tempo".

Depois, lembrou que o crescimento da zona euro "já alcançou o seu máximo", antecipando-se uma redução do ritmo de subida do PIB este ano, para 1,6% – ou menos. É que esta previsão será revista na reunião da Primavera, em Washington, sinalizou, sem confirmar claramente que será em baixa, mas notando que a Alemanha terá uma revisão "significativa" por causa das dificuldades do setor automóvel e pela menor procura externa, bem como Itália, por causa dos riscos na dívida soberana e no setor financeiro.

Frisou ainda o risco do Brexit desordenado e avisou que, a concretizar-se, "também afetará Portugal".

Perante este cenário, a diretora-geral do FMI repetiu que é preciso uma capacidade orçamental central para a zona euro, "corretamente dimensionada", mesmo que tal coloque "preocupações legítimas" de alguns Estados-membros sobre transferências permanentes. Lembrou também a necessidade de avançar com a união do mercado de capitais e de concluir a união bancária, com o seguro de depósitos comum.
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