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Lagarde espera que políticos portugueses não cedam às tentações nas eleições
A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, afirma, em entrevista ao Expresso, que espera que os políticos portugueses não cedam às "tentações normais" de "todas as eleições" e recomenda um reforço da arquitetura da zona euro.
"Espero que não cedam às tentações normais que vemos em todas as eleições", afirma Christine Lagarde, em entrevista publicada hoje no jornal Expresso, quando questionada sobre se será uma tentação para o Governo abrandar o esforço de consolidação orçamental, numa altura em que o défice está no nível mais baixo em mais de 40 anos e se aproximam as eleições de outubro.
"Para os políticos é sempre tentador fazer isso. Espero que tenham a sabedoria para olhar para os riscos que vêm de fora", refere a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), acrescentando que "Portugal é uma pequena economia aberta que depende bastante do que acontece no exterior, seja em Espanha ou no resto da zona euro, seja o ‘Brexit’ ou sejam as tensões no comércio internacional".
Na entrevista, a diretora-geral do FMI, que participou no Conselho de Estado, que decorreu sexta-feira no Palácio de Belém, em Lisboa, a convite do Presidente da República, refere também que Portugal não deve interromper a descida da dívida pública.
"Interromper o crescimento da dívida pública e reduzir o rácio dívida/PIB foram feitos importantes, mas a dívida ainda é muito alta", afirma Christine Lagarde, acrescentando que "perder os benefícios daquilo que foi conseguido seria uma pena".
A diretora-geral do FMI defende ainda que a arquitetura da zona euro tem de ser complementada, nomeadamente com um "verdadeiro orçamento da zona euro", e indica que "países que têm margem orçamental, como a Alemanha, a Holanda e mais alguns, devem utilizá-la para investir e estimular a economia da zona euro".
"A arquitetura da zona euro necessita de ser complementada. Isso significa ter uma união bancária mais profunda e mais forte, significa melhorar a união orçamental – nós defendemos um verdadeiro orçamento da zona euro – e significa implementar um mercado de capitais da zona euro, para as empresas terem acesso a financiamento de uma forma mais fácil e ampla do que agora", afirma Christine Lagarde ao jornal.
Questionada sobre as armas disponíveis, caso ocorra uma nova crise semelhante à de 2008, a diretora-geral do FMI responde que "não existe tanta margem orçamental e monetária como existia em 2008".
"Mas, comparativamente com há dez anos, o sistema também está mais forte", refere Christine Lagarde, recomendando que "todos os países devem reforçar as suas almofadas, melhorar a sua posição, fazer as reformas certas e preparar a sua economia e a sua sociedade para a transformação que estamos a ver no horizonte".
No final do Conselho de Estado, a diretora-geral do FMI elogiou, sexta-feira, os "enormes progressos" de Portugal, mas frisou que "Portugal deve intensificar os seus esforços para estar preparado para o futuro", o que passa, nomeadamente, por reforçar o sistema bancário e implementar reformas estruturais para aumentar a poupança, o investimento e a produtividade.