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Gurría: “Trabalhadores não vão jantar discursos sobre globalização”

O secretário-geral da OCDE esteve esta manhã no Parlamento português, defendendo os méritos da globalização, mas alertando para o descontentamento que também tem gerado e a necessidade de os governos actuarem.

Bruno Simão
04 de Julho de 2017 às 14:33
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Numa audição na Assembleia da República, José Angél Gurría relacionou o descontentamento dos trabalhadores com os resultados "imprevisíveis" de eleições e referendos a que temos assistido nos últimos tempos. E é incontornável que entre as principais raízes desse descontentamento está a globalização.

 

"Com ou sem razão, grande parte desse descontentamento vem da globalização", sublinhou o responsável máximo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), perante os deputados portugueses. Embora note que a globalização retirou milhões de pessoas da pobreza e gerou novas oportunidades de crescimento, criou também uma bolsa de perdedores - principalmente nas economias avançadas - que a vêem como um problema.

 

"Os ganhos são difusos, enquanto os custos de repercutem de forma mais acentuada e clara. Quando se fecha uma grande fábrica que é o centro da actividade económica isso tem um efeito brutal imediato", apontou Gurría. "Não pode ter o discurso de que a globalização é boa para mil milhões de trabalhadores, mas não para aquela pequena cidade. Os trabalhadores não vão jantar discursos sobre globalização."

 

O secretário-geral da OCDE lembrou os deputados portugueses que, mesmo que algumas das percepções estejam equivocadas, a raiva e a frustração da população tem origem em problemas reais. O resultado é "um sentimento generalizado de que o sistema actual não lhes serve ou é injusto".

 

Qual é a solução para a OCDE? Para a instituição, o proteccionismo não pode ser a opção. "Os trabalhadores não vão ter uma perspectiva filosófica sobre a globalização, mas a solução não é recuar. Não podemos dizer que não vamos fazer parte da globalização. A questão é como a podemos organizar para melhorar a vida em sociedade."

 

Gurría defendeu que os governos nacionais devem ajudar os trabalhadores mais prejudicados pela globalização, com políticas que melhorem a empregabilidade e que incentivem a mobilidade para sectores ou regiões mais dinâmicas. Além disso, uma vez que as desvantagens se acumulam e transmitem de geração para geração, é necessário criar oportunidades para todos, com apostas claras na educação. Noutros domínios, investir em Investigação & Desenvolvimento é um ponto sempre repetido, assim como a redução das barreiras de entrada a novas empresas e promoção de maior concorrência. Na área fiscal, seria desejável que todos os países se pautassem pelas mesmas regras.

 

No caso concreto de Portugal, a instituição mantém as recomendações feitas em Fevereiro: alargar as prestações de desemprego, desenvolver as qualificações dos trabalhadores e fazer mais progressos na resolução do problema da dualidade do mercado de trabalho nacional. Portugal devem ainda continuar a melhorar o seu ambiente de negócios e a eficiência da sua justiça. 

Confrontado com os deputados de esquerda sobre a insistência desde os anos 90 nas recomendações para flexibilizar os mercados de trabalho - que poderão ter também dado origem ao actual descontentamento dos eleitores -, Gurría não considerou que elas estivessem erradas, tendo referido casos em que as reformas deram frutos. Ainda assim, admitiu que as recomendações eram insuficientes, uma vez que apenas referiam a flexibilidade para reduzir os custos de trabalho. 

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