Notícia
Frank Carlucci: o americano que acreditou na vitória da democracia em Portugal
Frank Carlucci, o embaixador dos EUA em Portugal durante os anos de brasa após a revolução de 25 de Abril de 1974 morreu domingo com 87 anos. Martins da Cruz, que privou com ele, diz que se perdeu "um bom amigo" do país.
A 16 de Setembro de 2003, Frank Carlucci e Mário Soares reencontraram-se na residência do embaixador norte-americano em Lisboa, na rua de Sacramento à Lapa. Os dois deixaram marcas fortes no período pós-revolução de 25 de Abril de 1974. Soares faleceu a 7 de Janeiro de 2017. Carlucci, que liderou a diplomacia dos Estados Unidos em Portugal entre 1975 e 1978, morreu no domingo aos 81 anos. O óbito foi tornado público esta segunda-feira, e ocorreu na sequência de complicações relacionadas com a doença de Parkinson.
Frank Carlucci, nos períodos de "brasa" da revolução era catalogado como o homem da CIA em Portugal e "persona non grata" para a esquerda radical. Mário Soares, o amigo dos americanos. Carlucci acabou por ser agraciado a 24 de Novembro de 2003 com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
O reencontro desse dia foi testemunhado pela jornalista Teresa de Sousa, que na edição de 23 de Setembro do Público, o relata desta forma, usando as palavras de Carlucci. "O dr. Soares e eu passávamos aqui muitas horas a conversar sobre os problemas políticos portugueses, sobre as relações entre os nossos dois países e como seria possível fazer de Portugal uma democracia de tipo ocidental. Falávamos horas e horas..." Soares pega-lhe na palavra: "Estar aqui [na embaixada dos EUA] ajudava a perceber o que era Portugal e que talvez não fosse assim tão fácil alterar a sua natureza. Como os comunistas pensavam."
Os F-16 que Carlucci fez voar para Portugal
"Portugal perdeu um bom amigo", sublinhou o embaixador António Martins da Cruz ao Negócios. Segundo o antigo diplomata, Carlucci foi importante para Portugal em três momentos.
O primeiro, enquanto embaixador em Lisboa. Nestas circunstâncias "contrariou a indicação de Henry Kissinger [então secretário de Estado norte-americano] de fazer de Portugal uma vacina contra os regimes comunista". "Kissinger estava pronto para isolar Portugal dentro da NATO e cortar os programas de assistência dos EUA, mas Carlucci não concordou. Argumentou que o país poderia ser salvo para a democracia por causa dos seus laços com o Ocidente e pela força da Igreja Católica a nível local", corrobora o Washington Post, num obituário publicado na segunda-feira.
Depois, enquanto secretário de Estado da Defesa e durante uma visita do primeiro-ministro, Cavaco Silva, aos EUA, em 1988, criou as condições para que Portugal recebesse os primeiros aviões F-16, que tinham pertencido à Guarda Nacional norte-americana.
Finalmente, lembra Martins da Cruz, enquanto presidente honorário do grupo empresarial Carlyle, sempre teve Portugal em atenção. Através da Euromaer concretizou investimentos imobiliários na Alta de Lisboa e em 2004 o grupo Carlyle, em parceria com o BES e o empresário Américo Amorim, apresentou ao Governo uma proposta para substituir os italianos da ENI na posição de maior accionista da Galp. Esta última não se chegou a concretizar e a Euroamer, onde um dos sócios era Artur Albarran (jornalista da RTP e TVI) aparecia em 2016 na lista das 13 empresas que deviam mais de cinco milhões ao Estado.
A equipa da CIA fazia "o que lhes mandava"
O epíteto de homem da CIA em Portugal, afinal, era mesmo apropriado. "Tudo o que a CIA fez foi sob o meu comando. Qualquer acção que possa ter desenvolvido destinava-se a executar a política dos EUA, que era apoiar as forças democráticas em Portugal. A CIA era parte da equipa [da embaixada] e eles faziam o que lhes mandava", afirmou Carlucci no livro "Carlucci vs. Kissinger - Os EUA e a Revolução Portuguesa", de Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá. Segundo os autores deste livro, publicado a 2008, "a acção da América acabou mesmo por contribuir para a vitória das forças democráticas".
Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela Lusa, considera que Carlucci "desempenhou funções num período muito difícil, que foi o período talvez mais quente da revolução em Portugal" e "foi um dos dois grandes protagonistas do período da revolução".
Nascido a 19 de Outubro de 1939 em Scranton, na Pensilvânia, Frank Carlucci estudou na Universidade de Princeton, tendo depois transitado para a Harvard Business School. Segundo a Wikipédia serviu na Marinha entre 1952 e 1954, passou pelos serviços externos de 1956 a 1969, tendo participado em 1961 numa missão da CIA no antigo Congo belga, tendo de seguida passado por vários lugares durante a administração de Richard Nixon, entre as quais a de secretário de Estado da Defesa entre 1987 e 1989.
Frank Carlucci, nos períodos de "brasa" da revolução era catalogado como o homem da CIA em Portugal e "persona non grata" para a esquerda radical. Mário Soares, o amigo dos americanos. Carlucci acabou por ser agraciado a 24 de Novembro de 2003 com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.
Os F-16 que Carlucci fez voar para Portugal
"Portugal perdeu um bom amigo", sublinhou o embaixador António Martins da Cruz ao Negócios. Segundo o antigo diplomata, Carlucci foi importante para Portugal em três momentos.
O primeiro, enquanto embaixador em Lisboa. Nestas circunstâncias "contrariou a indicação de Henry Kissinger [então secretário de Estado norte-americano] de fazer de Portugal uma vacina contra os regimes comunista". "Kissinger estava pronto para isolar Portugal dentro da NATO e cortar os programas de assistência dos EUA, mas Carlucci não concordou. Argumentou que o país poderia ser salvo para a democracia por causa dos seus laços com o Ocidente e pela força da Igreja Católica a nível local", corrobora o Washington Post, num obituário publicado na segunda-feira.
Depois, enquanto secretário de Estado da Defesa e durante uma visita do primeiro-ministro, Cavaco Silva, aos EUA, em 1988, criou as condições para que Portugal recebesse os primeiros aviões F-16, que tinham pertencido à Guarda Nacional norte-americana.
Finalmente, lembra Martins da Cruz, enquanto presidente honorário do grupo empresarial Carlyle, sempre teve Portugal em atenção. Através da Euromaer concretizou investimentos imobiliários na Alta de Lisboa e em 2004 o grupo Carlyle, em parceria com o BES e o empresário Américo Amorim, apresentou ao Governo uma proposta para substituir os italianos da ENI na posição de maior accionista da Galp. Esta última não se chegou a concretizar e a Euroamer, onde um dos sócios era Artur Albarran (jornalista da RTP e TVI) aparecia em 2016 na lista das 13 empresas que deviam mais de cinco milhões ao Estado.
A equipa da CIA fazia "o que lhes mandava"
O epíteto de homem da CIA em Portugal, afinal, era mesmo apropriado. "Tudo o que a CIA fez foi sob o meu comando. Qualquer acção que possa ter desenvolvido destinava-se a executar a política dos EUA, que era apoiar as forças democráticas em Portugal. A CIA era parte da equipa [da embaixada] e eles faziam o que lhes mandava", afirmou Carlucci no livro "Carlucci vs. Kissinger - Os EUA e a Revolução Portuguesa", de Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá. Segundo os autores deste livro, publicado a 2008, "a acção da América acabou mesmo por contribuir para a vitória das forças democráticas".
Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela Lusa, considera que Carlucci "desempenhou funções num período muito difícil, que foi o período talvez mais quente da revolução em Portugal" e "foi um dos dois grandes protagonistas do período da revolução".
Nascido a 19 de Outubro de 1939 em Scranton, na Pensilvânia, Frank Carlucci estudou na Universidade de Princeton, tendo depois transitado para a Harvard Business School. Segundo a Wikipédia serviu na Marinha entre 1952 e 1954, passou pelos serviços externos de 1956 a 1969, tendo participado em 1961 numa missão da CIA no antigo Congo belga, tendo de seguida passado por vários lugares durante a administração de Richard Nixon, entre as quais a de secretário de Estado da Defesa entre 1987 e 1989.