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FMI vê maiores riscos para a estabilidade financeira mundial
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para o aumento dos riscos a médio prazo para a estabilidade financeira a nível global. Brexit e tensões comerciais entre EUA e China são duas das ameaças.
No mais recente relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado esta quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) assinala que as condições financeiras ficaram mais restritivas desde o anterior relatório, de outubro do ano passado, mas continuam "relativamente acomodatícias", em particular nos EUA. E adverte que os riscos para a estabilidade financeira no médio prazo estão mais elevados.
O documento alerta que as vulnerabilidades financeiras permanecem elevadas, em vários países com forte peso na economia mundial, nos setores soberano, empresarial e financeiro não bancário. Uma vez que estas vulnerabilidades tendem a "ampliar e propagar" os efeitos de choques adversos, podem aumentar os riscos para a estabilidade financeira, sublinha o relatório.
No entanto, os riscos de instabilidade política na Europa devido ao Brexit e a incerteza quanto à situação das finanças públicas de Itália continuam a ameaçar o crescimento na Europa e os sinais de abrandamento global acentuam-se, nota o documento.
EUA com empresas mais vulneráveis
Em relação aos Estados Unidos, o documento destaca a deterioração da dinâmica da dívida pública devido à política fiscal adoptada e assinala que as vulnerabilidades aumentaram no setor empresarial e financeiro não bancário.
Dívida pública é maior problema na Zona Euro
Na Zona Euro, refere o relatório, o maior problema reside no setor da dívida soberana, com a dívida pública em vários países a permanecer elevada ou a aumentar, como no caso de Itália.
O documento aponta ainda para os riscos para alguns bancos devido à forte diminuição da avaliação do património.
China com vulnerabilidades em muitos setores
A economia chinesa apresenta vulnerabilidades elevadas em diversos setores, sublinha o FMI. E Pequim tem pela frente diversos desafios: apoiar o crescimento de curto prazo, fazer face aos choques externos adversos e conter a alavancagem através de uma regulamentação mais rigorosa.
O Fundo considera que, apesar das medidas adotadas por Pequim, quer o setor financeiro quer o não financeiro continuam a apresentar vulnerabilidades elevadas.
O FMI refere que, desde o relatório de outubro, as autoridades chinesas aliviaram as políticas monetária e de crédito, tendo reduzido por três vezes os rácios de capital exigidos aos bancos, a par de outras medidas de injeção de liquidez.
O Fundo recomenda a Pequim que dê continuidade às políticas de desalavancagem e eliminação de riscos do setor financeiro e que dê mais atenção ao tratamento das vulnerabilidades bancárias, bem como à implementação de reformas estruturais, como a redução do ênfase nas metas de crescimento e o aperto das restrições orçamentárias para as empresas estatais chinesas.
O que pode levar a um "sell off" de ativos de risco?
O relatório identifica vários factores que poderão provocar uma venda massiva de ativos com maior risco e ameaçar no curto prazo a estabilidade financeira.
Entre estes contam-se um abrandamento económico global maior do que o esperado, mudanças inesperadas nas expectativas quanto às políticas monetárias de alguns países mais avançados, o agravamento das tensões comerciais entre os EUA e a China e um impasse no processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
Recomendações do FMI
Perante um cenário de aumento dos riscos de "deterioração do crescimento mundial", o FMI aconselha as autoridades a tentar evitar uma desaceleração económica mais acentuada e, simultaneamente, manter sob controlo as vulnerabilidades financeiras.
Nesse sentido, o relatório recomenda que qualquer reavaliação da orientação da política monetária deverá ser comunicada de forma clara, para evitar "mudanças bruscas desnecessárias" nos mercados financeiros e um aumento da volatilidade.
No caso dos países com vulnerabilidades financeiras mais elevadas, as autoridades devem atuar de forma proativa, através de instrumentos prudenciais, por exemplo reforçando as reservas de capital anticíclicas e realizando testes de "stress" mais abrangentes ao setor financeiro, bancário e não bancário.
O Fundo defende ainda a recomposição dos balanços públicos e privados, instando os países a realizar um ajustamento fiscal gradual e, no caso da Zona Euro, a prosseguir os esforços de redução do crédito malparado da banca.