Notícia
FMI alerta para problemas estruturais que podem resultar dos apoios à economia
O FMI acredita que as medidas financeiras de combate à covid-19 e a procura por rentabilidade num ano atípico levaram os investidores a recalcular o preço do risco e a valorizar demasiado algumas ações, o que pode originar problemas estruturais.
O FMI alertou esta terça-feira para um potencial problema estrutural causado pelos apoios às economias mundiais. É que os investidores estão a aproveitar a lufada de ar fresco nas economias para assumir riscos superiores ao cenário pré-pandémico, o que conduz a avaliações exageradas que, se não forem corrigidas, podem causar os tais problemas estruturais na economia.
É este o medo expresso pelo FMI no relatório sobre a estabilidade financeira global divulgado esta terça-feira. O relatório explica que "a combinação de progresso nos cuidados de saúde e uma política monetária acomodatícia sem precedente tem sido altamente bem-sucedida na prevenção de um golpe ainda mais devastador à economia global e tem alimentado a esperança numa recuperação rápida". E isso tem tido impacto na maneira como os investidores têm utilizado o seu dinheiro.
Os mercados financeiros têm contribuído para a atual subida nos preços de aplicações de maior risco, o que tem levantado preocupações quanto ao excesso de risco assumido e às avaliações inflacionadas de ativos que, nos meses recentes, "alcançaram níveis substancialmente mais altos do que o previsto por modelos baseados em questões fundamentais".
Segundo o FMI, a preocupação levantou-se cedo no ano, "com alguns dias de volatilidade elevada no mercado americano". A situação voltou a repetir-se no final de fevereiro, quando os investidores "se começaram a preocupar com as implicações das taxas de juro a longo prazo em rápida ascensão" – nos EUA subiram 125 pontos base desde o verão. Mas mais recentemente, "perdas significativas de um fundo altamente alavancado parecem ter tido implicações num número de bancos de investimento que financiaram o fundo, levantando questões sobre o uso de medidas de alavancamento opacas e as suas possíveis implicações sistémicas".
Também as instituições financeiras não bancárias têm procurado aumentar a rentabilidade face aos juros baixos, com o exemplo dos fundos de pensões que, segundo o FMI, têm aumentado os seus investimentos em "infraestruturas, imobiliário e investimento em empresas já estabelecidas – estratégias com uma alavancagem e riscos de liquidação mais elevados".
Até ao início do ano, a subida dos juros a longo prazo (subiram 50 pontos base em 2021) foram atribuídos a uma recuperação das perdas expressivas durante os primeiros meses de pandemia, mas mais recentemente as taxas de juro reais têm crescido. Com isso, o FMI explica que os investidores esperam que as taxas a longo prazo regressem aos níveis pré-pandémicos nos próximos meses.
Contudo, o relatório explica que "enquanto um aumento gradual nas taxas à boleia de fundamentais pode ser saudável, um aumento rápido e persistente das taxas de juro (especialmente as reais) pode resultar numa reapreciação do risco e num aperto súbito das condições financeiras", o que afeta a confiança e pode resultar numa "desestabilização macrofinanceira".