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EUA pedem à Europa para evitar "década perdida"

Apelo de Washington surge em vésperas da cimeira do G20 onde a directora-geral do FMI vai pedir um objectivo de crescimento conjunto mais ambicioso sem o qual - diz Lagarde - será impossível reduzir o desemprego.

Bruno Simão/Negócios
13 de Novembro de 2014 às 14:00
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O secretário do Tesouro dos EUA considera que a Europa está a correr o risco de viver uma "década perdida" em termos de crescimento e de emprego, temendo impactos na economia mundial - desde logo, na norte-americana. Jack Lew está também preocupado com o Japão, de novo à beira de eleições antecipadas, segundo o que escreve a imprensa norte-americana que obteve o discurso que o responsável pela Finanças fará em Seattle, antes de partir para Brisbane, na Austrália, onde neste fim-de-semana se reúne a cimeira do G20.


"As políticas de ‘status quo’ na Europa não permitiram atingir objectivo comum que traçámos no G20 de ter um crescimento forte, sustentável e equilibrado". "O Banco Central Europeu (BCE) tomou medidas enérgicas para apoiar a economia através de uma política monetária acomodatícia. Mas isso, por si só, não tem se mostrado suficiente para restaurar o crescimento saudável". É preciso, acrescentou, uma "acção determinada das autoridades nacionais e dos organismos europeus para reduzir o risco de que a região poderia cair numa recessão profunda. O mundo não pode permitir uma década perdida  na Europa", frisou.

 

Já há um mês, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, havia lançado idêntica advertência. "Não estamos a dizer que a Zona Euro está a encaminhar-se para uma nova recessão, mas a dizer que existem sérios riscos de que isso ocorra se nada for feito para o evitar", afirmou, depois de o Fundo ter revisto de novo em baixa, para 0,8% neste ano e 1,3% em 2015, as suas previsões de crescimento para a área do euro.

 

Hoje, ,13 de Novembro, em entrevista ao "Australian Financial Review", Lagarde avisa que é preciso os governos das maiores economias do mundo tomarem mais medidas. O objectivo de crescimento económico que deverá ser assumido pelo G20 para os próximos cinco anos é insuficiente para criar "todos os empregos necessários", diz a antiga ministra francesa das Finanças. Os países do G20 – que representam 85% da riqueza mundial – prevêem um crescimento de 2% no Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos cinco anos, tendo prometido fazer reformas nas suas economias e incentivar investimentos privados em infra-estruturas. "Fazer avançar a agulha em 2% é certamente um avanço. Mas será que isso é suficiente para criar todos os empregos de que (o G20) precisa? A resposta é não", alerta Lagarde nessa entrevista.

 

Washington, por seu turno, tem reiteradamente considerando que é a sua economia, em particular o dinamismo do consumo dos norte-americanos, que está a funcionar como único motor do mundo, com impacto nefasto sobre o seu potencial de crescimento, dado o elevado endividamento externo e público que persiste nos Estados Unidos. "O mundo está a contar com a economia dos EUA para impulsionar a recuperação global. Mas a economia global não pode prosperar de forma abrangente se contar com os Estados Unidos como importador de primeiro e de último recurso, nem pode contar que os Estados Unidos cresçam com a velocidade suficiente para compensar o fraco crescimento em grandes economias mundiais", avisa o "ministro" norte-americano das Finanças.

 

Lew tem pedido uma política mais expansionista à Alemanha, maior economia europeia, sendo previsível que o assunto seja abordado em Brisbane entre o presidente Barack Obama e a chanceler alemã Angela Merkel. Idêntico apelo deverá ser feito ao primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe que, segundo Jack Lew, não está a fazer as reformas estruturais prometidas, em especial no sentido de abrir a sua economia à concorrência, minando os esforços do banco central que pôs em marcha uma política monetária agressiva, com taxas de juro nulas, tendo conseguido reanimar a inflação (que deverá acelerar de 0,4% em 2013 para 2,8% neste ano), mas não a economia.

 

"Os dois primeiros eixos  - estímulo monetário e orçamental - contribuíram para um crescimento mais forte em 2013, mas o crescimento enfraqueceu neste ano. O terceiro eixo - reformas estruturais - não foi totalmente executado", afirma Lew, em referência aos três pilares do programa de reanimação da economia japonesa conhecido por "Abenomics". O Financial Times escreve que Shinzo Abe está a ponderar antecipar eleições para o próximo mês, alegando que precisa de legitimidade reforçada para proceder, como previsto, ao segundo aumento dos impostos sobre o consumo. A primeira subida (em três pontos percentuais) ocorrida em Abril terá possivelmente castigado mais a economia do que se previa. De acordo com as mais recentes previsões do FMI, o Japão crescerá apenas 0,9% neste, após 0,8% em 2013, ainda assim acima do seu potencial, que rondará 0,75%.

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