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Estados Unidos e China chocam de frente no primeiro encontro da era Biden

Se as relações diplomáticas entre as duas maiores economias mundiais estavam más com Donald Trump, o primeiro encontro de alto nível entre os dois países desde que Joe Biden assumiu a presidência foi tudo menos auspicioso. Antes ainda das conversações, os dois lados trocaram acusações duras e nada diplomáticas.

EPA
19 de Março de 2021 às 17:37
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Se se esperava uma normalização das relações bilaterais entre os Estados e a China com a chegada do mais diplomático Joe Biden à Casa Branca, em janeiro e em substituição do mais truculento Donald Trump, o primeiro exemplo indicia que a tensão persiste em níveis elevados.

No primeiro encontro de dois dias entre representantes de alto nível de ambas as partes sob a administração Biden, realizado no Alasca, e que hoje termina, Washington e Pequim mantiveram uma dura troca de acusações que foi tudo menos diplomática.

De acordo com o relato feito pela imprensa norte-americana, aquilo que estava previsto não passar de um período inicial de quatro minutos para as fotografias da praxe, habitualmente marcado por palavras de circunstância para jornalista ver, acabou por se prolongar por mais de uma hora.

Durante esses largos minutos, sucederam-se as acusações e pareceu claro que os dois lados faziam questão de ficar com a última palavra, leia-se o último ataque, desde logo pela ordem dada aos jornalistas para que permanecessem na sala.

No que diz respeito à contenda propriamente dita, Jake Sullivan, conselheiro para a segurança nacional americana, começou por assegurar que os EUA não estão à procura de um conflito com a China, garantiu estar preparado para uma "competição dura" com Pequim e assegurou que Washington irá sempre zelar pelos princípios que defende e pelos seus aliados.

Já o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acusou Pequim de minar a estabilidade global, em especial devido à atuação na região administrativa de Hong Kong, mas também em relação ao território autónomo de Xinjiang e relativamente a Taiwan.

"Cada uma dessas ações ameaça a ordem assente em regras que mantém a estabilidade global", argumentou o chefe da diplomacia americana, assegurando que os EUA não deixarão de responsabilizar Pequim pelas suas ações, reiterando o exemplo das ações anti-democráticas em Hong Kong, a chantagem económica a países da sua esfera regional e de influência ou aquilo que o lado americano considera tratar-se de promoção de um genocídio contra a minoria muçulmana em Xinjiang (uigures).

Além de Blinken e Sullivan, o lado chinês conta com dois diplomatas e importantes quadros do Partido Comunista Chinês, Yang Jiechi e Wang Yi. O primeiro, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre 2007 e 2013, manteve a retórica chinesa de que os EUA não devem intrometer-se na vida doméstica da China e que, ao fazê-lo, está a contribuir para desestabilizar o continente asiático.

Yang Jiechi acusou mesmo Washington de hipocrisia por usar o seu poderio económico e militar para reprimir outros países e apontou o dedo aos problemas que os EUA há longas décadas enfrentam ao nível dos direitos humanos, exemplificando com os confrontos do ano passado a propósito do movimento Black Lives Matter para afirmar que há pessoas negras a serem "abatidas". O diplomata defendeu ainda que até os próprios americanos desconfiam hoje da sua democracia e instituições democráticas.

Note-se que Joe Biden já reconheceu a China como o grande competidor dos EUA e o seu principal rival geopolítico – há indicadores que apontam para que a economia chinesa suplante a americana já durante a década de 2030.

Potências de costas voltadas
Os dois países contabilizam diversas discordâncias, desde a disputa comercial iniciada pela administração Trump, que se mantém e que Biden já garantiu que não será deixada cair de mão beijada (as tarifas aplicadas por Trump continuam de pé), aos ataques cibernéticos e passando pela ações militaristas desenvolvidas por Pequim no Mar do Sul da China, sempre com resposta via manobras navais da parte de Washington.

Seja como for, Joe Biden assegurou durante a campanha presidencial que pretendia recolocar a relação bilateral com Pequim nos eixos tradicionais, não negligenciando a ameaça chinesa em várias áreas, trocando o tom mais agressivo usado por Trump por uma abordagem mais dialogante e conciliatória. Pelo exemplo agora conhecido, ainda terá de limar bastante essas arestas.

Segundo avançou a agência Bloomberg na antecâmara da cimeira do Alasca, Pequim pretendia, se estas conversações corressem bem, realizar uma cimeira entre os presidentes dos dois países, Biden e Xi Jinping, em abril. Para já, os sinais indiciam que não haverá cimeira no próximo mês, mas no xadrez diplomático há sempre surpresas.
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