Notícia
Decisões da cimeira da NATO obrigam ao aumento da despesa militar
A cimeira da NATO, que deveria discutir a saída das forças atlânticas do Afeganistão, acabou por se centrar nas ameaças mais recentes para a estabilidade geopolítica mundial: as crises na Ucrânia, no Iraque e na Síria. As decisões de Newport vão fazer crescer os orçamentos militares dos aliados.
São muitas as decisões adoptadas e também bastantes as questões que ficam por conhecer em maior detalhe após a conclusão da cimeira da NATO que reuniu esta quinta e sexta-feira em Newport, no País de Gales. Mas uma coisa parece certa – a rubrica da despesa no sector da Defesa dos aliados vai aumentar.
Não é ainda seguro se todos os países o farão, mas a garantia deixada foi a de que, a prazo, terá de haver maior comprometimento dos membros para com a Aliança Atlântica. Porque em matéria de "segurança tem-se aquilo para que se paga", lembrou o secretário-geral da NATO, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen.
A NATO, no documento final disponibilizado, anunciou que os líderes políticos dos 28 Estados-membros presentes em Gales acordaram aumentar os orçamentos militares para a fasquia mínima de 2% do produto, tal como acordado nos tratados de adesão. O prazo para o alcançar é, contudo, de 10 anos
O dinamarquês garantiu que todos os chefes de Estado perceberam a necessidade de investir na segurança comum, até porque esta decisão foi tomada "num completamente novo panorama securitário". "A agressão russa na Ucrânia foi uma chamada de alerta. Tornou-se evidente que não podemos dar a segurança por garantida", explicou.
A importância do investimento em despesa militar é explicitada pelo líder da NATO com um singelo exemplo. "A Rússia aumentou, nos anos mais recentes, em cerca de 50% a sua despesa militar, enquanto os aliados da NATO diminuíram a sua em cerca de 20%".
Por fim, a Aliança Atlântica confirmou que o prazo de um decénio não será uma forma de se adiar o compromisso dos aliados, tendo afiançado que alguns membros vão mesmo aumentar o orçamento militar em breve.
Coligação para o Iraque e reforço militar no leste europeu
As principais decisões puramente militares saídas de Newport foram a confirmação de um Plano de Acção Rápida e reforço da presença militar na Europa de Leste, e a constituição de uma coligação de dez países que irão efectuar ataques aéreos cirúrgicos contra o Estado Islâmico (EI) no Iraque.
Segundo a BBC, o reforço, anunciado por Rasmussen, de "vários milhares de tropas" em "bases alternadas" na Europa de Leste, deverá chegar aos 5 mil homens. Pretende-se aumentar e agilizar a capacidade de resposta perante uma eventual agressão russa. O objectivo essencial passa por reforçar o comprometimentos com os três países do Bálitco: Estónia, Lituânia e Letónia.
Mas houve mais novidades. A NATO pretende estender a sua parceria a países como a Geórgia, a Moldávia e a Jordânia. Em relação à Líbia, será considerado um possível contributo ao nível securitário.
Mas Rasmussen foi mais longe. Garantiu que a organização atlântica vai intensificar conversações para integrar no seu seio o Montenegro e garantiu que a Geórgia beneficiará de um pacote substancial que servirá para acelerar os progressos de Tbilisi para uma futura adesão à NATO.
Para o combate ao EI será constituída uma coligação formada por dez países: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Austrália, Turquia, Itália, Polónia e Dinamarca.
"Precisamos ataca-los [EI] para impedir que conquistem territórios, para reforçar as forças de segurança iraquianas e outras forças na região que estejam capacitadas para combater os extremistas", disse Jonh Kerry, secretário de Estado norte-americano. Kerry sublinhou que o recurso a ataques aéreos, tal como vem sendo feito por Washington, permite "o não comprometimento das nossas próprias tropas".
A intervenção militar das forças aéreas não será feita no âmbito da coligação do Atlântico Norte, ficando os encargos e contributos adstritos à disponibilidade de cada um deste dez membros da coligação. Mas não ficou colocada de parte uma intervenção da NATO no Iraque. O secretário-geral explicou, citado pelo Financial Times, da seguinte forma:
"Existem duas linhas de trabalho. Uma é a proposta de um determinado número de aliados, que estão determinados a tomar os passos necessários para apoiar o Iraque e parar o terror organizado [do EI]". A possibilidade que resta já havia sido assumida na quinta-feira. "A outra linha é a da NATO. Decidimos que no caso de recebermos um pedido de auxílio do Governo iraquiano, estamos preparados para considerar uma missão de reforço da capacidade defensiva [iraquiana]".
No entanto, sabe-se que a opção militar restrita ao Iraque dificilmente terá capacidade para derrotar amplamente o EI. Há alguns dias o Pentágono reconhecia que seria inviável considerar uma derrota destes jihadistas sem a assunção de uma operação que considerasse as bases do EI em território sírio.
O Presidente norte-americano foi cauteloso e preferiu afirmar que derrotar o EI "deve ser concretizado ao longo do tempo". Obama garante deter um plano para "degradar e, em última instância, derrotar" o EI, tendo realçado que o Iraque é "o factor chave".
Sanções contra Moscovo continuam de pé
Afinal as sanções económicas contra a Rússia, que estavam em preparação conjunta de Bruxelas e Washington, não foram deixadas cair depois de anunciado o acordo de cessar-fogo firmado em Minsk, capital da Bielorrússia.
Os líderes presentes em Newport temiam, já na quinta-feira, que o Kremlin pudesse estar a recorrer a "cortinas de fumo", ao alimentar expectativas de tréguas, por forma a esvaziar de sentido e conclusões a cimeira que decorria em Gales.
Como tal, e apesar de confirmado o acordo entre os representantes de Kiev, de Moscovo e dos separatistas, para um cessar-fogo com efeitos a partir das 16 horas, em Lisboa, desta sexta-feira, as sanções permanecerão no ar até tendo em conta que os desenvolvimentos no leste ucraniano venham a cumprir os compromissos assumidos.
"Obviamente estamos esperançosos", disse Obama, "mas, baseados na experiência, cépticos", acrescentou. O Presidente dos Estados Unidos, citado pelo Russia Today, disse que se irá avançar com as sanções mas reconheceu que, à medida que o plano de paz seja implementado no terreno, "essas sanções podem ser levantadas".
O La Repubblica nota que o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, seguiu pelo mesmo diapasão ao assegurar que a aplicação do novo "pacote de sanções duro e robusto", definido em coordenação com os Estados Unidos, será feita a par e passo tendo em conta a concretização do plano de paz assinado esta sexta-feira em Minsk.
"A questão política está nas mãos da Rússia e espero que o Presidente Putin queira colocar um ponto final aos confrontos violentos no terreno e ao desrespeito à soberania [ucraniana]", atirou Renzi.
Também citada por este diário italiano, Angela Merkel, chanceler alemã, notou que se optou por "uma estratégia bifurcada" em que se concilia uma "posição dura, com a manutenção de uma porta aberta para o diálogo".
Até ao momento a única reacção do Kremlin foi dada a conhecer através de um comunicado do ministério dos Negócios Estrangeiros. Moscovo, refere o La Repubblica, acusa a NATO de estar a utilizar "a crise ucraniana como pretexto para implementar planos concebidos há muito tempo", numa clara referência à aproximação da Aliança Atlântica, a partir dos anos 90, a países limítrofes da Rússia e ao processo de adesão de Kiev que se vem arrastando há anos.
O ministério liderado por Sergei Lavrov alerta para o facto de o reforço da NATO no leste europeu apenas servir para "aumentar a tensão e colocar em causa os progressos" alcançados nas várias negociações de paz que tiveram lugar ao longo das últimas semanas.
Só os próximos dias poderão confirmar qual o rumo que tomará a crise que afecta a parte oriental da Ucrânia. Todavia, a Reuters noticiava que tinham sido registadas explosões no norte de Donetsk, já depois da hora assinalada para o início do cessar-fogo. Por outro lado, o líder da auto-proclamada República Popular de Luhansk, Igor Plotnitsky, enviava um recado para Kiev. "O cessar-fogo não significa o fim da nossa política rumo à independência".
A resolução defendida por Putin desde o início, em Abril, dos combates na região de Donbass, sempre passou pela atribuição de maior autonomia a estas regiões que proclamaram unilateralmente a sua independência. O Kremlin dá preferência à via da federalização, o que serviria os dois lados: maior autonomia para o Donbass e a manutenção destas regiões sob a autoridade central de Kiev. Ver-se-á se o Presidente ucraniano Poroshenko está aberto a este tipo de solução, desde que garantida a pacificação do país.