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China diz para não se abrir o champanhe após acordo parcial com EUA

O mais recente desenvolvimento nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China, que foi classificado por Trump como "substancial", não está a ser visto como grande ânimo nem pelos analistas nem pela imprensa chinesa. Fontes próximas indicam que a China não está satisfeita com o acordo obtido.

Reuters
14 de Outubro de 2019 às 11:09
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Washington e Pequim conseguiram, no final da semana passada, alcançar um acordo comercial parcial. Este passo, contudo, não está a ser visto como um ponto de viragem nas negociações mas sim encarado com cautela, tanto por analistas como pelos media chineses, que são controlados pelo Estado. Fontes ligadas ao Governo também refream os ânimos.

Os media chineses veicularam, durante o fim-de-semana, a mensagem de que os Estados Unidos deviam "evitar retroceder" nos pontos que foram acordados provisoriamente e indicaram que ainda é cedo para festejar. "Enquanto parece que as negociações produziram um entendimento básico nos assuntos chave e nos benefícios alargados de relações amigáveis, o champanhe deve provavelmente ser mantido no gelo, pelo menos até ambos os presidentes descerem as canetas sobre os papéis", lia-se no China Daily deste domingo.

A mesma publicação evidencia a volatilidade que se tem verificado na atitude dos Estados Unidos face às negociações comerciais: "tendo em conta as práticas passadas, há sempre a possibilidade de que Washington decida cancelar o acordo se pensar que é isso que melhor serve os seus interesses".

Na sequência destas conclusões, o China Daily defende que a Casa Branca "deve evitar retroceder, tal como fez no passado" e, pelo contrário, aconselha que se "estime" um acordo que é "do interesse de ambas as nações e do mundo".

Paralelamente, o People’s Daily também abordou a questão, mas de forma mais vaga. O editorial de sábado deste jornal considera que "não existem vencedores na guerra comercial" e que "o mundo precisa que a China e os Estados Unidos cooperem entre si para injetar energia positiva na economia mundial de forma a conduzir a oportunidades para um futuro melhor".

Analistas também de pé atrás

Para os analistas, mais do que um acordo provisório, o entendimento entre as maiores economias do mundo marcam tréguas provisórias. A Allianz Global Investors disse à CNBC que o consenso"parece-se mais com tréguas do que como um acordo genuíno".

A mesma entidade sublinha que o entendimento não retira a carga de tarifas aplicada pelos Estados Unidos à China – embora cancele o reforço de sanções previsto para o fim do mês – "nem reduz a incerteza vivida pelos negócios no que toca à relação futura" entre os dois países.

A Macquarie Capital refere-se ao mesmo como "tréguas temporárias". "No que toca aos assuntos realmente espinhosos, nenhum é arrumado" na redação do acordo, reforçam os analistas da mesma empresa. As cedência que foram feitas, na opinião dos mesmos especialistas, "não parecem grandes sacrifícios para nenhuma das partes".

Ficaram de fora do acordo assuntos como o futuro das empresas chinesas que estão na lista negra dos Estados Unidos, matérias como a propriedade intelectual, transferência de tecnologia, cibersegurança e propriedade intelectual.

O acordo não tão "substancial"

O entendimento, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à direita na foto), após uma reunião com o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He (à esqueda na foto), prevê que a China fará algumas concessões no âmbito agrícola, nomeadamente com um aumento das suas compras de produtos norte-americanos, e os Estados Unidos "congelam" o agravamento das tarifas previsto para 15 de outubro.

Apesar de Trump ter descrito o acordo como "substancial"e de a China ter acusado "progressos substanciais", de acordo com fontes próximas das negociações, citadas pela Bloomberg, a China quer voltar a reunir-se com os Estados Unidos antes  do final de outubro para afinar os detalhes antes de o presidente Xi estar disposto a assinar. Uma delegação, chefiada pelo vice primeiro-ministro Liu He, pode voltar a deslocar-se a Washington para finalizar o acordo antes da conferência para a Cooperação Económica na Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), que acontece no próximo mês. Uma das exigências de pequim será o cancelamento da ronda de tarifas prevista para dezembro.

O antigo ministro do Coméricio chinês e atual vice-president da Sociedade Chinesa para Estudos sobre a Organização Mundial do Comércio, Huo Jianguo, defendeu, em declarações à Bloomberg, que "os Estados Unidos mostraram, claramente, gestos positivos mas não devíamos excluir a possibilidade de mais uma reviravolta", apontando que "os Estados Unidos devem ceder no que toca à ameaça de tarifas em dezembro se querem assinar um acordo durante a conferência da APEC, pois de outra forma seria um acordo humilhante para a China". 

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