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Bloqueio do Canal de Suez agrava crise logística global

Mesmo antes do Ever Given encalhar no Canal de Suez na terça-feira, a rede de comércio global mostrava sinais de tensão devido aos problemas económicos da pandemia.

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28 de Março de 2021 às 17:00
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Desencalhar o navio porta-contentores que bloqueia o Canal de Suez vai demorar pelo menos até quarta-feira, um período mais longo do que o previsto que agrava os problemas das cadeias globais de vários produtos, como petróleo, grãos e carros.

 

A paralisação prolongada do tráfego numa das vias marítimas mais importantes do mundo coloca ainda mais pressão sobre transportadoras de contentores que já operam com capacidade total. O que pode causar atrasos custosos para empresas europeias que dependem de um fluxo constante de importações da Ásia e para consumidores, que se habituaram com compras online rápidas durante a pandemia.

 

A tarefa de desencalhar o navio Ever Given, de 200 mil toneladas, exigirá cerca de uma semana de trabalho e possivelmente mais, disseram pessoas com conhecimento do assunto, que não quiseram ser identificadas. A expectativa inicial era de que a operação durasse apenas alguns dias.

 

"Os atrasos provavelmente aumentarão os custos, colocando ainda mais pressão inflacionista nas cadeias de fornecimentos", disse Chris Rogers, analista-chefe de comércio da Panjiva, da S&P Global Market Intelligence.

 

"Os efeitos em cascata de curto prazo serão uma possibilidade maior de esgotamento de stocks de bens de consumo e o risco de que as cadeias de fornecimentos da indústria just-in-time, já atingidas pelo Brexit e pela escassez de matérias-primas, possam enfrentar constrangimentos adicionais."

 

Mesmo antes do Ever Given encalhar no Canal de Suez na terça-feira, a rede de comércio global mostrava sinais de tensão devido aos problemas económicos da pandemia.

 

O maior fluxo de mercadorias do mundo - entre a China e os EUA - enfrentou quase cinco meses de problemas nos portos de Los Angeles e Long Beach. Importadores têm esperado várias semanas pela chegada das cargas, com o efeito indireto de que os exportadores não conseguem receber contentores de aço vazios necessários para enviar carregamentos a outros países.

 

O receio agora é que a crise no Canal de Suez piore os desafios logísticos da Europa, resultando em viagens canceladas, escassez de contentores e taxas de frete mais elevadas.

 

Os trabalhos realizados desde terça-feira por rebocadores e retro-escavadoras - equipamentos minúsculos em comparação com o navio de 400 metros - não deram resultados até agora. Enquanto as equipas de resgate trabalham, a fila de espera de navios carregados com milhares de milhões de dólares em petróleo e bens de consumo aumentou para mais de 300 em relação a 186 na quarta-feira, de acordo com dados da Bloomberg.

 

Caso a carga do navio encalhado tenha de ser descarregada ou grandes reparos feitos no próprio canal, "então o tempo de inatividade certamente pode durar pelo menos duas semanas", de acordo com Randy Giveans, vice-presidente sénior da Equity Research for Energy Maritime, da Jefferies LLC. O Ever Given pode estar carregado com quase mil milhões de dólares em mercadorias, de acordo com a IHS Markit.

 

Os navios com planos para atravessar o Canal de Suez começam a optar por desvios caros e demorados em torno de África para manter o fluxo das entregas.

 

Os custos de frete também estão a subir - o preço de enviar um contentor de 12 metros da China para a Europa quase quadruplicou em relação à um ano atrás -, o que representa mais um peso sobre os problemas causados pela pandemia.

Com o bloqueio do canal, cerca de 2 milhões de barris por dia de fluxos de petróleo estão retidos, de acordo com estimativas da Braemar. A paralisação também afeta navios que transportam produtos como trigo e minério de ferro. Fabricantes globais já se preparam tanto para atrasos dos embarques de produtos acabados quanto de matérias-primas cruciais para as linhas de produção.

 

A Caterpillar, maior produtora de máquinas dos EUA, disse que enfrenta atrasos para os embarques e até considera enviar produtos por via aérea se necessário, enquanto a japonesa Envision AESC, fornecedora de baterias para veículos elétricos, disse que depende do Canal de Suez para algumas importações de eletrodos.

 

Para as linhas de contentores que transportam cerca de 80% do comércio global de mercadorias, um constrangimento prolongado entre a Europa e a Ásia pode prejudicar os calendários dos navios definidos com meses de antecedência para que os importadores possam planear as compras, gerir os stocks e manter as prateleiras das lojas abastecidas ou as linhas de produção em funcionamento.

 

O problema agrava-se a cada dia. Navios que chegam com vários dias de atraso não podem ser esvaziados e recarregados a tempo de fazer a viagem de regresso programada. Com isso, as transportadoras cancelam viagens e limitam ainda mais a capacidade, o que também eleva as taxas de frete.

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