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Ataque químico na Síria provoca dezenas de mortes
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos reporta que um ataque com alegado recurso a armamento químico causou pelo menos 67 mortos numa zona controlada pelas forças opositoras ao regime do presidente Bashar al-Assad.
Várias dezenas de pessoas morreram na localidade de Khan Sheikhun, província de Idlib, uma zona actualmente controlada pelas forças rebeldes de oposição ao regime de Damasco, segundo reportou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. A BBC escreve que, segundo aquela organização activista, o bombardeamento com recurso a agentes químicos que ocorreu na manhã desta terça-feira, 4 de Abril, foi perpetrado pelo exército sírio leal ao presidente Bashar al-Assad ou pela aviação russa.
O The Guardian noticia que o número de mortos ascende já a 67 pessoas e que os médicos garantem que as vítimas exibiam sintomas habitualmente visíveis aquando da exposição a gás sarin. Este jornal britânico acrescenta que depois do primeiro ataque atribuído a forças leais a Assad, foram realizados bombardeamentos sobre um hospital e pelo menos dois centros de emergência.
Apesar de o exército sírio e de o regime de Damasco terem já negado o recurso a armamento químico, nesta ou noutra qualquer ocasião, a Casa Branca, através do porta-voz Sean Spicer, já reagiu atribuindo "estas acções hediondas" ao "regime de Bashar al-Assad".
Spicer justificou ainda estes acontecimentos como uma "consequência da fraqueza" demonstrada pela anterior administração norte-americana, liderada por Barack Obama. No entanto, este ataque acontece precisamente um dia depois de a embaixadora dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, Nikki Haley, ter dito que o Governo americano já não estava focado no objectivo de remover Assad do poder. Durante a campanha eleitoral, o agora presidente Donald Trump defendeu que Washington deve aliar-se à Rússia - país com interesses conflituantes em relação aos dos EUA - para estabilizar o Médio Oriente.
O porta-voz da Casa Branca recordou que no Verão de 2013 o presidente Obama traçou uma "linha vermelha" contra o "recurso a armamento químico e depois não fez nada", referindo-se aos bombardeamento então realizados pelas forças leais a Assad e que a ONU e várias organizações activistas com presença na região garantiram terem sido levadas a cabo contra civis e com recurso a agentes químicos.
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault, citado pela Reuters, considera que esta acção se tratou de "um teste" àquela que é a posição da nova administração americana em relação à Síria. "É por isso que a França repete a mensagem, designadamente [dirigida] aos americanos, para clarificarem a sua posição". Ayrault pediu ainda uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A Síria vive em guerra civil desde 2011, ano em que, no âmbito de um movimento desencadeado pela chamada Primavera Árabe, grupos oposicionistas se sublevaram contra o regime ditatorial de Assad. Contudo, esta é um conflito em que se travam também guerras por procuração por parte de outros Estados com presença e interesses na região, a que se junta a presença de grupos terrorista no país, como é o caso do Estado Islâmico (EI).
É o caso da Rússia, que apoia a manutenção de Assad no poder e que junto com as forças do Irão (país de maioria xiita - Assad é alauita, um ramo do islão xiita) e do libanês Hezbollah apoiam no terreno, a pretexto do combate a organizações terroristas como o Estado Islâmico, o regime de Damasco. Já a Turquia também tem marcado presença, em especial na zona fronteiriça entre os dois países, onde tem combatido forças terroristas e também as forças curdas que, no terreno, se têm mostrado as mais eficazes no combate ao EI.
Pelo seu lado, os Estados Unidos lideram uma coligação internacional, integrada, por exemplo, pela França e também por países de maioria sunita como a Arábia Saudita, que tem, através de meios aéreos, combatido as grupos terroristas. Defensores do afastamento de Assad, e mesmo não tendo presença militar no terreno, os Estados Unidos continuam a apoiar (com treino e equipamento militar) alguns dos principais grupos opositores ao regime sírio.