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Lula pragmático ou populista, o enigma para 2018
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera as sondagens de intenção de votos para 2018 e é também o foco de atenção dos agentes de mercado. Ainda que possa ser impedido de se candidatar, a dúvida que divide analistas é se Lula, se for eleito, será pragmático, como em 2003, ou se governaria na linha mais populista que sugere o seu discurso actual. O único consenso é que a disputa eleitoral do próximo ano deve trazer volatilidade aos activos.
Lula é um "político hábil, mas que está com a cabeça errada", e não deve repetir o pragmatismo do que primeiro governo, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria. O responsável espera uma reacção negativa do mercado no caso de vitória do ex-presidente.
Antes de tomar posse em 2003, Lula chegou a escrever a Carta ao Povo Brasileiro, comprometendo-se com o controle das contas públicas e da inflação. Desta vez, o facto de o ex-presidente enfrentar processos na Justiça poderá levar a uma postura diferente. Ele tem afirmado, por exemplo, que convocará um referendo para revogar medidas do governo de Michel Temer. Lula pode tentar uma via "extremamente populista" para sair do foco das acusações que sofre, diz Patrícia Pereira, gestora na Mongeral Aegon Investimentos.
"Lula já exerceu dois mandatos como presidente da República, nos quais a bolsa do país teve o melhor desempenho da sua história", diz a assessoria de imprensa do ex-presidente, em nota à Bloomberg. Segundo a nota, a defesa "está confiante" porque a sentença que o condenou em primeira instância "não revela qual o acto de corrupção que Lula terá cometido".
A possibilidade de um Lula candidato adoptar um discurso mais moderado para reconquistar a classe média não elimina dúvidas sobre como seria o seu governo, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
"O PT é muito mais fraco do que era no passado, com capacidade de coligação menor. Não será igual o mar de rosas de 2003, em que o governo conseguiu aprovar muita coisa no primeiro ano", diz Vale referindo-se ao primeiro mandato de Lula, quando o "petista" surpreendeu positivamente o mercado com uma política económica ortodoxa.
Na semana passada, a XP Investimentos divulgou um relatório baseado num inquérito a 211 investidores institucionais a respeito do cenário para eleição de 2018. Na simulação onde o ex-presidente Lula vencia as eleições em 2018, 98% dos entrevistados indicam que o dólar subiria, sendo que 36% vêem a moeda americana acima de 4,10 reais nesse cenário.
Apesar da incerteza sobre 2018 ser um consenso, há nuances no grau de preocupação dos investidores. Para uma ala do mercado, por exemplo, a crise fiscal é tão séria que pode tornar inevitável um ajuste nas contas públicas após as eleições. Seja qual for o candidato a liderar as sondagens, deve fazer alguma sinalização no sentido de um programa de austeridade fiscal, diz o economista-chefe do banco Santander no Brasil, Maurício Molon. "A eleição vai gerar ruído, mas os candidatos sabem que vão precisar de liderar o país com um grau razoável de estabilidade" e devem acabar a manifestar-se de maneira favorável ao ajuste, diz Molon.
Embora também reconheça o grau elevado de incertezas, Rodrigo Borges, da Templeton, firma de investimentos com foco em mercados emergentes, não espera uma forte queda de activos brasileiros em 2018. O cenário hoje é diferente de 2015, quando a onda vendedora à crise política do governo Dilma foi agravada pelo défice em conta corrente de mais de 4% do PIB, diz Borges. Este défice encolheu significativamente desde então, para menos de 1% do PIB.
Lula em 2018 é "uma das maiores incertezas" para 2018, mas o mais provável é que não seja candidato, diz Lucas de Aragão, cientista político da Arko Advice. Para Aragão, o "barulho" do discurso de Lula faz parte da estratégia de defesa.