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Dilma acusa Temer de "golpista" e "chefe conspirador"
Num discurso violento contra o seu vice, a Presidente brasileira disse que caiu "a máscara dos conspiradores" depois da divulgação "acidental" de um discurso em que Temer se assume como presidente substituto.
A Presidente brasileira Dilma Rousseff sugeriu esta terça-feira, 12 de Abril, que o seu vice-Presidente Michel Temer (do PMDB) estará por detrás da "conspiração" e do "golpe" da destituição da chefe de Estado.
Num discurso em Brasília, no Palácio do Planalto (que aloja a Presidência), Dilma referiu-se à gravação ontem divulgada alegadamente por acidente por Michel Temer - cujo partido se desvinculou do Governo a 29 de Março – e em que aquele discursava como se a destituição da Presidente já tivesse acontecido.
"Nós vivemos tempos de golpe, de farsa e de traição. Agora, conspiram abertamente, à luz do dia, para desestabilizar uma presidente legitimamente eleita", referiu a Presidente, citada pelo jornal "Folha de São Paulo".
Dilma afirmou mesmo que a divulgação da gravação revelou "a traição" contra si "e contra a democracia e que o chefe conspirador não tem compromisso com o povo", além de acusar Temer de deliberada e premeditadamente tentar passar a imagem de uma divulgação acidental da gravação.
O áudio, de cerca de 15 minutos, foi enviado aos deputados do PMDB "por acidente", segundo a assessoria de imprensa do vice-Presidente. "Trata-se de um exercício que o vice estava fazendo em seu celular e que foi enviado acidentalmente para a bancada", referiu a assessoria à Folha de São Paulo.
Nele, Temer faz o seu primeiro discurso à nação como se tivesse sido aprovada na Câmara dos Deputados a destituição da Presidente – cuja votação só está prevista para domingo – e assumindo-se como "substituto constitucional da senhora presidente da República". Se a destituição for aprovada na Câmara e posteriormente no Senado, Dilma deixará o cargo, pelo menos temporariamente - até se decidir depois se a medida será permanente.
"Cai a máscara dos conspiradores e o país e a democracia não merecem tamanha farsa", disse, associando também o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ao "golpe", a quem apelidou de "vice-chefe assumido da conspiração".
Há várias semanas que o nome de Temer é citado pela imprensa brasileira como estando em conversações com partidos da oposição, como o PSDB, para substituir Dilma Rousseff em caso de aprovação do "impeachment" da Presidente. Contactos que Temer sempre negou.
No final do mês passado, o partido abandonou o Governo Dilma e Temer acabou também por deixar a presidência do PMDB para que esta formação partidária pudesse assumir um papel mais interventivo no processo de destituição.
O Partido dos Trabalhadores, que lidera o Governo, viu esta segunda-feira à noite ser aprovado em comissão especial o parecer favorável ao processo de destituição de Dilma Rousseff, que segue para votação no plenário da Câmara dos Deputados.
O parecer defende que a Presidente cometeu um crime de responsabilidade ao abrir créditos suplementares sem autorização do Congresso Nacional e ao atrasar transferências para o Plano Safra, no que ficou conhecido como "pedaladas orçamentais". Um documento que Dilma considerou esta terça-feira ser um "instrumento de uma fraude", além de "frágil" e "sem fundamento".
Para ser aprovado, serão necessários os votos de dois terços dos deputados, ou seja, 342 dos 513 parlamentares. Se não obtiver esses 342 votos, a denúncia será arquivada. Se for aprovado, o processo seguirá para o Senado.