Notícia
Luaty Beirão: "Eduardo dos Santos tem de sair pelo próprio pé. Outro cenário seria trágico"
Luaty Beirão acredita que "alguma coisa vai mudar" quando José Eduardo dos Santos abandonar a presidência de Angola. "A mudança é necessária, independentemente de ser para melhor ou não", afirma em entrevista ao Negócios.
"José Eduardo dos Santos tem que sair pelo próprio pé. Qualquer outro cenário seria trágico". É assim que o músico e activista, Henrique Luaty Beirão, comenta a decisão do actual Presidente da República de Angola de não concorrer às eleições marcadas ara 2017, a qual terá sido comunicada no decurso da reunião do comité central do MPLA que teve lugar esta sexta-feira, 2 de Dezembro, em Luanda.
Luaty Beirão, um crítico do regime, explica assim as suas reservas. " Quem vier agora pode ter que se impor e com isso tomar algumas atitudes musculadas. Porque o ‘establishment ‘ habituou-se a usar força como forma de argumento e de convencer as pessoas a não se meterem com eles e a não lhe causarem entraves. Eu não posso dizer que seja melhor. Acho que a mudança é necessária, independentemente de ser para melhor ou não e que tem de ser desta forma. Ou seja, "José Eduardo dos Santos tem que sair pelo próprio pé. Qualquer outro cenário seria quase de certeza trágico".
Luaty Beirão, que esteve preso e foi condenado, em Março deste ano, a cinco anos e meio de prisão pelos crimes de actos preparatórios e falsificação de documentos, acredita que "forçosamente vai mudar" alguma coisa no país com a saída de José Eduardo dos Santos, mas recusa-se a projectar o futuro.
"Não quero fazer esse prognóstico, mas quero acreditar que estas pessoas, ao começarem a ter poder, vão revelar um lado delas que não conhecemos. Espero que seja o melhor lado", afirma Luaty Beirão em entrevista ao Negócios, referindo-se à personalidade avançada para suceder a José Eduardo dos Santos, o actual ministro da Defesa, João Lourenço, mas também a Bornito de Sousa, ministro da Administração do Território apontado para ser o vice-presidente do país.
Terá de haver "alguma coisa que muda" com o abandono do cargo de uma "figura que foi tão endeusada e que agora felizmente está a ser trazida à terra, constata o autor do livro "Sou eu mais livre, então", um diário sobre a sua vida na prisão, que foi lançado no dia 1 de Dezembro em Lisboa.
João Lourenço e Bornito de Sousa poderão protagonizar essa mudança? "O que aconteceu foi que José Eduardo dos Santos não permitiu que nós soubéssemos quem são esses indivíduos, eles estiveram sempre a meter-se voluntariamente na sombra. Nós não sabemos quais são as ideias deles para o país. Sabemos, é que fazem parte desse grupo hegemónico e que se tiverem a mesma atitude que o seu antecessor, as coisas vão levar mais tempo a mudar. Mas que muda, pelo menos a nível da psique dos cidadãos, lá isso muda, porque desaparece uma figura omnipresente enquanto líder", sublinha Luaty Beirão.