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Desafios em série para o sucessor de Eduardo dos Santos

O futuro inquilino do Palácio da Cidade Alta não vai ter uma vida fácil. O crescimento da economia é débil, há pouco dinheiro para investir e o sistema financeiro precisa de se credibilizar.

Carlos Muyenga
22 de Agosto de 2017 às 21:00
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O sucessor de José Eduardo dos Santos na liderança de Angola não vai ter vida fácil depois de assumir o poder. Herda um país cuja economia, depois de ter crescido 1,2%, em 2016, não deverá avançar mais de 2,3%, este ano, pressionada pelo preço do petróleo, em níveis baixos para uma Angola que continua a depender, sobretudo, destas receitas. Um dos desafios será a tomada de novas medidas que promovam, ou acelerem, a diversificação da economia, uma meta que entrou no discurso político diário desde que o "ouro negro" baixou de preço, evidenciando as fragilidades de um país que não produz quase nada do que consome.

Além de cimento e alguns materiais de construção, bebidas não alcoólicas e água, alguns alimentos e, mais recentemente, gás butano, poucos são os produtos em que o país é auto-suficiente, apesar dos vastos recursos agrícolas e piscatórios – entre outros - de que dispõe. Inverter esta situação é um dos desafios do próximo Presidente da República, mas a diversificação da economia não passa apenas pelo investimento privado de que o Angola precisa, e que vai sendo escasso. É necessário que o Governo invista em mais infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias que garantam o escoamento dos produtos para consumo interno, e também em energia (produção e redes), para que o preço do gasóleo dos geradores usados nas actuais explorações agrícolas não destrua a competitividade dos produtos, em termos de preços.

O problema é o dinheiro para investir, que não abunda. Este ano, o Orçamento Geral do Estado prevê um défice de cerca de 6% do PIB. Semanalmente, o país emite o equivalente a dezenas de milhões de euros em dívida pública, comprada sobretudo por aqueles que economistas e empresários defendem que devem ser os primeiros a apoiar o investimento privado: os bancos. Esta é, aliás, uma das críticas mais comuns, por exemplo, da Associação Industrial de Angola: o governo ‘seca’ os bancos, que preferem comprar dívida pública, correndo poucos ou nenhuns riscos, do que apoiar a iniciativa privada.

Trazer investidores externos faz parte deste desafio da diversificação, sendo que o objectivo é promover parcerias entre estes e empresários angolanos. Mas também aqui há alguns problemas: quem investe quer poder repatriar os lucros e, numa altura em que as divisas são poucas, essa não é uma tarefa fácil, como não é fácil o envio de salários, ou ajudas familiares, para o exterior.

Mas os desafios não terminam aqui, incluindo no que diz respeito às divisas, que se tornaram num bem raro desde que o preço do petróleo caiu, sobretudo a partir do final do primeiro trimestre de 2014, quando começou a tornar-se muito difícil fazer transferências e o preço do dólar na rua começou a disparar. O Banco Nacional de Angola tem feito um esforço de credibilização, dentro, mas sobretudo, fora de portas, do sistema financeiro, que deixou de poder contar com bancos correspondentes, excepto um ou outro… de Portugal. Por isso mesmo, nos leilões de divisas que o banco central faz semanalmente, há muito deixaram de surgir dólares: há euros, umas semanas mais, outras menos, que vão garantindo as importações mais importantes, da alimentação à saúde, passando pela compra de maquinaria.

A credibilização do sistema financeiro – que em muitos casos resiste a adoptar as normas internacionais de "compliance" e governação – é outros dos grandes desafios do próximo Presidente da República, que encontra uma população cheia de expectativas em relação ao novo ciclo que aí vem. É preciso criar empregos, melhorar a saúde, a educação, a formação profissional e também conter os preços, nomeadamente da alimentação, que têm vindo a cair, graças a um maior controlo da especulação, por parte do Governo, mas permanecem altos. Uma ida ao supermercado para comprar os produtos básicos para uma família de quatro pessoas – carne, peixe, etc., por exemplo – dificilmente fica por menos de 40 mil kwanzas, o equivalente a cerca de 200 euros.

Director Editorial do grupo angolano Media Rumo

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