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Quem é o suspeito do Lava Jato detido em Lisboa?

O luso-brasileiro Raul Schmidt, 57 anos, trabalhou quatro anos em Angola e tem uma milionária colecção de arte, que mostrou aos portugueses em 2012.

21 de Março de 2016 às 16:27
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Raul Schmidt Felippe Júnior, detido esta segunda-feira, 21 de Março, em Lisboa, no âmbito da Operação Lava Jato, festejou em Fevereiro o seu 57.º aniversário num apartamento avaliado em três milhões de euros, no centro da capital portuguesa, onde estava escondido das autoridades, sendo que o seu nome constava inclusive na lista de criminosos procurados pela Interpol.

 

Com dupla nacionalidade, o homem agora detido pela Polícia Judiciária tem empresas e imóveis também no Rio de Janeiro, Genebra e Paris, tendo começado na Petrobras como funcionário de nível médio e, mais tarde, prosseguido a carreira na área internacional. Entre 1994 e 1997 esteve na gerência de uma subsidiária da Braspetro, em Angola, tornando-se depois consultor de negócios no sector privado, intermediando inclusive negócios de fornecedores da petrolífera estatal.

 

Antes de se refugiar em Portugal devido à investigação Lava Jato, Raul Schmidt morou cinco anos em Londres, onde mantinha uma galeria de arte, como informou o Ministério Público Federal do Brasil. Ali apresentava-se como mecenas e coleccionador. Num vídeo realizado em 2014 pelo reputado "Victoria and Albert Museum", como antevisão de um evento sobre o Brasil Contemporâneo, o próprio conta que dividia o seu trabalho entre França, Alemanha, Reino Unido e Suíça, frisando que "o coleccionador gosta de coleccionar, não interessa o quê, [e] está sempre a comprar para coleccionar e aumentar o número de peças importantes".

 

 

Dois anos antes, Lisboa tinha sido uma das cidades europeias a ver a colecção avaliada em mais de um milhão de euros. Inserida (e financiada) no Ano do Brasil em Portugal, a exposição com o título "Design Brasileiro - Mobiliário Moderno e Contemporâneo", instalada no MUDE – Museu do Design e da Moda, foi apresentada pelo jornal Público como "fruto da fome coleccionista de Schmidt, que há 30 anos constrói um espólio nas artes plásticas e que desde 2010 começou a coligir mais intensamente mobiliário brasileiro da era do modernismo (desde 1940 até ao início dos anos 1970) e dos mais jovens designers".

 

Além do investimento nestas obras de design, o ex-namorado da popular actriz Drica Morais é suspeito de ter lavado dinheiro em várias produções de cinema. O jornal Valor Econômico escreveu em Julho que Schmidt foi produtor executivo do filme "Jean Charles" (disponível na íntegra no YouTube), entrando como investidor nesta produção anglo-brasileira de 2009, com um orçamento de oito milhões de reais (dois milhões de euros ao câmbio actual), protagonizada pelo actor Selton Mello. No mesmo ano pagou ainda perto de 300 mil reais (74 mil euros) para co-produzir o documentário "Simonal - Ninguém Sabe O Duro Que Dei".

O juiz Sérgio Moro, que lidera a Operação Lavo Jato, decretou há meio ano o congelamento de bens do suspeito agora detido em Portugal.
O juiz Sérgio Moro, que lidera a Operação Lavo Jato, decretou há meio ano o congelamento de bens do suspeito agora detido em Portugal.

Antigo vizinho do cineasta Walter Salles no Arpoador, na zona sul do Rio de Janeiro, o consultor agora detido naquela que é a 25.ª fase do Lava Jato desde o início das investigações, em Março de 2014, é suspeito de estar envolvido no pagamento de luvas aos antigos directores da Petrobras, Renato de Souza Duque, Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada. Além disso, terá actuado como intermediário de várias empresas internacionais na obtenção de contratos de exploração de plataformas da Petrobras.

 

Foi o caso da norueguesa Sevan Marine, que Schmidt terá "ajudado" na assinatura de um mega contrato de 975 milhões de dólares (866 milhões de euros) para fornecer à Petrobras equipamentos em operações de exploração em águas profundas. Segundo a Globo, os investigadores ligaram-no também ao estaleiro Samsung, responsável pela construção dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, um processo no qual uma auditoria interna descobriu quase 12 milhões de reais (três milhões de euros) de sobrefacturação.

 

O sócio e os milhões congelados

 

Foi como inspector de plataformas na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, que, logo no início da carreira na Petrobras, Raul Schmidt conheceu Jorge Zelada, que foi condenado em Fevereiro a 12 anos de prisão por corrupção e branqueamento de capitais no âmbito da operação conduzida pelo juiz Sérgio Moro. Zelada cobrou um suborno de 31 milhões de dólares (27,5 milhões de euros) à empresa Vantage Drilling Corporation para contratar um barco sonda para a petrolífera.

 

Este ex-director da Petrobras é sócio do homem detido esta madrugada em Lisboa – será ouvido por um juiz do Tribunal da Relação de Lisboa – na empresa TVP Solar do Brasil, uma subsidiária da TVP Solar, com sede em Genebra, que vende sistemas de armazenamento e uso de energia solar. Foi também ele quem apresentou Zelada a um executivo do banco suíço Julius Baer, para abrir uma conta em Fevereiro de 2011 quando ainda era director da Petrobras. Segundo as informações partilhadas pelas autoridades monegascas, que também foram envolvidas na investigação por causa da componente financeira, os dois são "amigos de longa data" e foram até proprietários de um apartamento.

 

Sete milhões de reais, o equivalente a 1,7 milhões de euros. É este o valor dos bens de Raul Schmidt que foram congelados em Julho de 2015 pelo juiz Sérgio Moro, que citou "indícios de seu envolvimento em lavagem de dinheiro" dos outros ex-directores da empresa estatal. O Ministério Público Federal explicou que o valor em causa corresponde ao "montante de vantagem indevida que o investigado teria pago" ao ex-director de Serviços da Petrobras, Renato Duque. Pela participação neste mega esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, estão os três ex-directores presos em Curitiba, a base da Lava Jato. As autoridades brasileiras querem juntar agora o luso-brasileiro, tendo já avançado com um pedido de extradição.

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