Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Cartões multibanco: Banco de Portugal pede tempo para novas mexidas no imposto do Selo

Só o Fisco poderá garantir que o imposto do Selo que recai sobre as compras com cartões passará mesmo a ser suportada pelos bancos, diz o Banco de Portugal, que, contudo, sugere que seja dado tempo às instituições financeiras para se adaptarem às novas regras.

Miguel Baltazar/Negócios
22 de Março de 2017 às 17:09
  • ...

O Banco de Portugal distancia-se das duras críticas proferidas pela Associação Portuguesa de Bancos (APB) ao diploma que quer impedir a banca de exigir aos comerciantes o imposto do Selo que recai sobre as taxas com operações de cartões, mas concede que a solução jurídica encontrada pelo PS, PCP e Bloco de Esquerda é atípica e pode não ser eficaz nem no plano jurídico nem no plano económico. No plano técnico, defende apenas que os deputados dêem tempo à banca para se adaptarem à mudança das regras fiscais sobre a chamada "taxa de serviço do comerciante".

 

Esta quarta-feira, durante uma deslocação à Assembleia da República para dar a sua opinião sobre o polémico diploma, Gonçalo Castilho, porta-voz do regulador, recusou-se a acompanhar as adjectivações que a proposta vem amealhado: a APB já lhe chamou um "flagrante entorse" às regras fiscais e uma medida "avulsa", "arbitrária e discriminatória", e o CDS, pela voz de Cecília Meireles, apelida-a de "esdrúxula". Mas reconheceu que, do ponto de vista técnico, a proposta da esquerda "será uma excepção à tradição jurídico-tributária do Imposto do Selo" – isto é, por regra, o Selo recai sobre o consumidor dos serviços financeiros (comércio, restauração e serviços), e não sobre o prestador de serviços (os bancos).

Inverter a "tradição jurídico-tributária" é uma possibilidade que está à disposição dos deputados, mas também nada garante que o espírito da Lei será cumprido no futuro e que ela cumprirá os objectivos da esquerda parlamentar. Questionado sobre o assunto, Gonçalo Castilho remete para a Autoridade Tributária: "Mais importante do que a posição das entidades representativas do mercado é a do órgão competente para aplicar a Lei fiscal", considera o responsável, para quem o Fisco é que é a entidade que "precisa de estar confortável e segura de que esta solução lhe dá os instrumentos necessários à fiscalização".

Pela sua parte, o banco central apenas pode garantir aquilo que decorre das suas competências estritas: que fiscalizará o cumprimento "dos deveres de informação relativamente aos preçários", que "não haverá alterações contratuais unilaterais" nem "bloqueios dos sistemas de pagamentos".

Cecília Meireles, do CDS/PP, quis ainda saber se "o BdP está em condições de garantir que que os operadores não deixarão de repercutir nos comerciantes o que pagam a titulo de Selo", acrescentando que, "se não é possível que o BdP impeça isto de acontecer, estamos todos aqui a perder tempo".

E também aqui, a resposta foi negativa: "Concordo com a análise da senhora deputada de que pode haver formas de repercutir custos". "O Banco de Portugal não está em condições de assegurar que ela não se verifica".

O contributo do regulador para este tema praticamente fica-se pela recomendação de que os deputados prevejam uma "vacatio legis", isto é, que as futuras regras não entrem imediatamente em vigor se dê tempo para que os bancos se adaptem. 

Ver comentários
Saber mais taxa de serviço do comerciante Banco de Portugal Associação Portuguesa de Bancos Cecília Meireles Imposto do Selo
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio