Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Professores: contagem do tempo de serviço nas mãos do PSD

O Governo aprovou o diploma que prevê que os professores recuperem dois anos, nove meses e 18 dias do tempo de serviço que esteve congelado. Bloco e PCP já avisaram que pedirão apreciação parlamentar se Belém promulgar o decreto-lei de modo a que sejam contabilizados os mais de nove anos. PSD fica numa posição decisiva e com a batata quente nas mãos.

Lusa
05 de Outubro de 2018 às 09:00
  • 151
  • ...

A esquerda quer evitar a todo o custo a entrada em vigor do decreto-lei aprovado esta quinta-feira, 4 de Outubro, pelo Governo e que permite aos professores recuperar apenas dois anos, nove meses e 18 dias do tempo de serviço em que as carreiras docentes estiveram congeladas (os "famosos" nove anos, quatro meses e dois dias). No entanto, para travar os intentos do Executivo socialista a esquerda precisa do PSD. O mesmo acontece com o Governo e o PS, que precisam do PSD para garantir a aprovação do diploma.

Por partes. O Conselho de Ministros aprovou esta quinta-feira um diploma que estabelece um "modelo de recuperação do tempo de serviço dos docentes", contabilizando a "recuperação de dois anos, nove meses e 18 dias". Em reacção, Bloco de Esquerda e PCP anunciaram que se o decreto for promulgado pelo Presidente da República vão pedir a apreciação parlamentar do decreto.

Mais: o Bloco começa por pedir a Marcelo Rebelo de Sousa que chumbe o diploma e o PCP anuncia também que vai apresentar um requerimento, "com carácter de urgência", para que o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, compareça na Assembleia da República para explicar os contornos da decisão. 

Contactada pelo Negócios, a Presidência da República não adianta pormenores sublinhando que "não comenta diplomas que não conhece", antecipando que o decreto-lei chegue a Belém no decurso da próxima semana. Seja como for, Marcelo, que na abertura do ano lectivo afirmou que "os professores de Portugal são dos melhores do mundo", tem duas opções: promulgar ou chumbar o diploma.


Se o Presidente optar pela primeira, a esquerda avança com os já anunciados pedidos de apreciação parlamentar. Mas para que esses pedidos sejam aprovados a esquerda precisa, pelo menos, do apoio do PSD.


No entanto, para já o PSD não se pronuncia e adopta posição idêntica à de Marcelo Rebelo de Sousa, preferindo primeiro conhecer o documento. Ao Negócios, David Justino, líder do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD e coordenador desta espécie de governo-sombra social-democrata para a Educação, diz que o PSD "não comenta um diploma que não conhece".

Ainda assim, o professor David Justino reitera que o partido liderado por Rui Rio defende o "reconhecimento total do tempo de serviço", embora admitindo margem negocial para a modalidade em que esse reconhecimento for feito. Em Junho, o PSD começou por defender a contagem integral para depois recuar e admitir outra opção se o Governo tivesse uma "explicação convincente" para a falta de dinheiro com que justificou a impossibilidade de contabilizar os mais de nove anos. Ontem, Rui Rio acusou, em entrevista à RTP, o Governo de António Costa de "prometer o que não pode cumprir", considerando que os professores têm razão quando exigem a recuperação dos nove anos.

 

Antes de assumir qualquer posicionamento numa discussão do tema em sede parlamentar, Justino quer não só conhecer o diploma mas também o estudo de impacte orçamental da contagem do tempo de serviço para efeitos de progressão na carreira docente que o PSD solicitou ao Governo, mas que não foi ainda facultado.  

Há cerca de seis meses, a direita (PSD e CDS) votou ao lado do BE, PCP e Verdes um pedido de apreciação que procedia a alterações ao concurso extraordinário de mobilidade dos professores aprovado pelo Governo.

Professores arriscam chegar a 2019 sem nenhum tempo contabilizado

Com a entrega do Orçamento do Estado para 2019 à porta, vai-se fechando a janela de oportunidade para resolver o problema em tempo útil. Um pedido de apreciação pode prever a revogação do diploma ou propor alterações à lei, havendo diferentes leituras legais quanto às respectivas implicações.

A deputada bloquista Joana Mortágua defende, em declarações ao Negócios, que, no caso de revogação, passa a valer aquilo que consta do Orçamento do Estado em vigor e que estabelece que a "expressão remuneratória do tempo de serviço" deverá ser negociada nos casos em que tal influenciar a progressão na carreira.

Contudo, Mortágua lembra que o Governo "recusa negociar com os sindicatos", optando por agir de forma "arbitrária". Na mesma linha, a deputada comunista Paula Sá, citada pela Lusa, lamenta que o Executivo tenha terminado "unilateralmente as negociações com vista ao cumprimento integral daquilo que a lei, já hoje, estabelece sobre o tempo de serviço para efeitos de progressão na carreira".

Já fonte governamental nota que aquilo que consta do OE-2018 exige um decreto-lei que o operacionalize, algo que não existe. Além de que após a entrega do OE-2019 no Parlamento, não podem ser agendadas votações antes da votação global da proposta orçamental, que terá lugar apenas no final de Novembro.


Assim, num caso e no outro, os professores arriscam chegar ao final deste ano sem uma lei em vigor que defina o modo de contagem do tempo de serviço, o que significa que podem entrar em 2019 sem verem contabilizados nem os mais de nove anos nem os dois anos propostos pelo Governo.

Ver comentários
Saber mais Professores Marcelo Rebelo de Sousa Governo Tempo de Serviço BE PCP PSD Verdes CDS PS Tiago Brandão Rodrigues David Justino Joana Mortágua
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio