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Inflação é temporária? "É preciso ter cuidado com essa perspetiva", avisa CFP
Embora alguns economistas continuem a considerar que os níveis de inflação são temporários, a presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP) pede cautela com esse entendimento. Nazaré da Costa Cabral admite mesmo que a previsão do Governo para a alta de preços já esteja desatualizada. E avisa que a inflação põe pressão nas contas públicas sobretudo para 2023.
A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP) considerou que é necessário ter cuidado com a assunção de que a inflação é temporária. "Há o risco de a inflação não estar controlada tão cedo", avisou Nazaré da Costa Cabral.
"Por ora o entendimento de alguns economistas ainda vai nesse sentido, de que a subida da inflação é temporária.Mas temos de ter cuidado com essa perspetiva", alertou a presidente do CFP, numa audição no Parlamento, a propósito da discussão na especialidade da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2022.
Nazaré da Costa Cabral, que respondia a questões colocadas pela deputada da Iniciativa Liberal Carla Castro, disse que "há o risco de a inflação não estar controlada tão cedo".
Antes, a economista já tinha alertado para a possibilidade de as estimativas de inflação do Governo já estarem desatualizadas. "Neste momento, tudo aponta para valores de inflação mais elevados do que esses que estão previstos na proposta de Orçamento do Estado", disse.
A presidente do CFP respondia a questões colocadas pelo Chega, mas recusou adiantar uma estimativa para o valor final da inflação. Na proposta de OE para este ano, o Governo antecipa que a inflação suba 4% este ano (medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor). O CFP, usando esse mesmo indicador, estimava, em março, que a inflação subisse 3,9%.
"Evidentemente que se traduz em perda de poder de compra", caso os salários dos trabalhadores não subam na mesma dimensão, admitiu.
Por isso, considerou "é muito importante garantir que a inflação estibiliza". E embora, como admitiu, há quem já admita que o pico da inflação já tenha passado, "o que é expectável é que quando a inflação estabilizar estabilize num valor mais alto do que o histórico recente".
Inflação pode trazer problema nas contas de 2023
Apesar de a inflação ter um efeito na perda de poder de compra das famílias, Nazaré da Costa Cabral considera que os efeitos da inflação elevada "tendem a ser neutros" do ponto de vista orçamental, porque as receitas e as despesas estão ancoradas na inflação.
"Mas o problema pode estar em 2023", avisou. "Em 2023, a receita pode já não ser tão sensível ao efeito da inflação [criando receita fiscal adicional] e por outro lado a despesa pode sofrer pressões - induzidas por várias frentes, como a atualização dos salários da Função Pública ou novos contratos de fornecimentos de bens e serviços ao Estado para colmatar o efeito inflacionista", explicou.
Outro efeito da inflação elevada pode sentir-se na execução do Plano de Recuperação e Resiliência. "É que para o mesmo nível de investimento os fundos podem não ser suficientes pelo efeito da inflação, o que pode comprometer o nível de investimento a realizar", disse a economista.