Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Banif trava saída do país dos défices excessivos

O encerramento do procedimento aberto em 2009 terá de esperar mais um ano, pois a resolução do Banif deixará o défice acima de 3%. Bruxelas não aplicará sanções se for essa a justificação, mas adivinha-se um braço-de-ferro no OE 2016.

Mário Centeno: Foi o arquitecto do programa económico do PS e Costa tornou-o ministro.
29 de Dezembro de 2015 às 18:41
  • 15
  • ...

As regras europeias são claras. Não é possível fechar um Procedimento dos Défices Excessivos (PDE) com um défice orçamental acima de 3% do PIB. Se o desvio se justificar apenas pelo dinheiro injectado no Banif, Bruxelas não imporá sanções por mais um ano de atraso a fechar o procedimento aberto já em 2009, apurou o Negócios. Adivinha-se no entanto um braço de ferro com o Orçamento para 2016, o qual se poderá prolongar até 2017.

A resolução do Banif ditará segundo o próprio ministro das Finanças um aumento no défice orçamental de 2015 de 1,25% do PIB. Considerando que o ministério apontava para um défice de cerca de 3% do PIB, o desequilíbrio entre as receitas e as despesas públicas deverá subir para um valor na casa do 4% do PIB. Neste caso, não será possível encerrar o Procedimento por Défices Excessivos, como admitiu há dias a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) a trabalhar no Parlamento.

As regras que governam o PDE não permitem a sua conclusão quando o défice global permanece acima da barreira dos 3% do PIB – sendo a única excepção admitida reformas de sistemas de pensões que prevejam a introdução de mecanismos privados de formulação de pensões. "O encerramento [do PDE] ocorre com base na verificação de objectivos nominais, com a excepção dos do caso especial das pensões, o impacto de medidas extraordinárias e temporárias (incluindo intervenções no sector financeiro) não é excluída dos números considerados", lê-se no documento europeu que guia a aplicação das regras do pacto de estabilidade e crescimento.


Banif não implica sanções

Se o excesso face ao limite de 3% se justificar exclusivamente por uma medida de apoio ao sistema financeiro aplicada para garantir a sua estabilidade, a Comissão Europeia não aplicará sanções, isto desde que considere que o Governo tomou as medidas necessárias para fechar o PDE, apurou o Negócios. A UTAO refere que pode ser concedido ao país mais um ano para fechar o PDE. As sanções por desvios não justificados começam pelo agravamento do procedimento que inclui declações publicas e visistas ao país, e terminam em multas que poderão rondar os 350 milhões de euros.

Mesmo sem sanções, há consequências financeiras e políticas relevantes. E nem todas são negativas para o governo. O país não poderá beneficiar  em 2016 da flexibilidade orçamental que é permitida a países com défices inferiores a 3% do PIB, e que o PS afirmou pretender usar; António Costa terá também menor margem para negociar em Bruxelas uma trajectória orçamental menos exigente para os próximos anos. Em compensação, o primeiro-ministro abre a porta a poder reclamar daqui a um ano que foi o seu governo a terminar um procedimento que se arrastava há seis anos.


Braço-de-ferro de um ano

E é aqui que entram os planos do Governo que serão enviados para Bruxelas até ao início de Janeiro. Para convencer, Mário Centeno terá de garantir duas condições. A mais importante e rígida é a de que o país tenha em 2016 e em 2017 défices orçamentais globais inferiores a 3% do PIB. A segunda, que tem sido desafiada por vários países, incluindo Portugal, é a de que reduzirá o saldo orçamental estrutural (o que desconta o efeito positivo da recuperação económica  nas contas públicas) em pelo menos 0,5% do PIB por ano.

Nos planos conhecidos até agora o Governo prevê os défices globais necessários em 2016 e 2017, mas não a redução esperada no défice estrutural. Para o próximo ano este desequilíbrio até se deverá agravar, contrariando a recomendação europeia de Julho de 2015 que apontava para uma diminuição do défice estrutural de 0,6 pontos percentuais.

Se assim for na frente estrutural, na análise que fará à proposta de orçamento que deverá dar entrada no Parlamento em Janeiro, a Comissão Europeia identificará um "desvio significativo"  (entendido como superior a 0,5 pontos) na trajectória orçamental portuguesa. Daqui resultará um convite para que o Governo altere a proposta orçamental ainda antes da sua aprovação no Parlamento em Fevereiro. Caso o desvio se concretize – o que só se oficializará no início de 2017 - então a Comissão abrirá daqui a um ano uma análise abrangente à situação orçamental em Portugal, podendo propor sanções ao abrigo das regras europeias.

Ver comentários
Saber mais Procedimentos dos Défices Excessivos Comissão Europeia Banif Comissão Europeia Mário Centeno
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio