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Bruxelas rejeita orçamento italiano e abre caminho a sanções
Sem surpresas, a Comissão Europeia chumbou a proposta orçamental transalpina, dando assim o primeiro passo no sentido da abertura de um procedimento por défices excessivos contra Itália. Governo italiano poderá avançar com venda de imobiliário para aumentar receitas.
"Este passo é lógico e uma inevitável consequência da decisão tomada pelas autoridades italianas", justificou Pierre Moscovici referindo-se ao facto de o executivo transalpino não ter alterado o respectivo esboço orçamental como solicitado pela Comissão.
As dúvidas da Comissão quanto à exequibilidade das projecções italianas "persistem" e continuam "sem resposta", acrescenta Moscovici que pergunta de onde virá o crescimento extra e quem pagará a despesa suplementar prevista na proposta de orçamento expansionista feita pelo governo eurocéptico de aliança entre o 5 Estrelas e a Liga.
O gaulês acrescenta que a "preocupação-chave", para a Comissão, prende-se com o facto de o plano do executivo de Roma implicar que a dívida pública não desça nos próximos dois anos, com Dombrovskis a frisar que, como tal, permanecerá em torno dos 131% em 2019 e 2020. "Não vemos como é que perpetuar esta dívida pode potenciar o crescimento económico", duvida o letão concluindo que "os números falam por si".
Pierre Moscovici sustenta que "este orçamento acarreta riscos para a economia italiana, empresas, aforradores e contribuintes", constituindo, portanto, um risco para o conjunto da área do euro. O dirigente europeu adiantou ainda que a Comissão divulga ainda hoje uma nova recomendação dirigida a Roma e que reitera o pedido de "correcção da trajectória do défice e da dívida".
Lembrando que tanto ele próprio como Dombrovskis se encontraram "vezes sem conta" com o ministro italiano das Finanças, Giovanni Tria, Moscovici afirmou que nesta fase o "diálogo é mais necessário do que nunca". O francês admite que este chumbo esboço orçamental italiano deixa mais próxima a "abertura de um procedimento por défices excessivos", pelo que é "essencial" que as autoridades transalpinas adoptem doravante "uma abordagem construtiva".
Roma pode mesmo alienar activos do Estado para compensar reforço da despesa
Apesar de ter mantido o essencial da primeira proposta, no segundo esboço orçamental enviado para Bruxelas, o governo italiano chefiado por Giuseppe Conte previa a possibilidade de recorrer a mecanismos de salvaguarda que podem ser automaticamente activados perante a hipótese de agravamento inesperado do défice definido para 2019 (2,4% do PIB). E propunha também a alienação de activos do Estado para compensar o reforço da despesa decorrente da implementação das principais promessas eleitorais do 5 Estrelas (rendimento mínimos incondicional para os mais pobres) e da Liga (cortes de impostos sobre empresas).
Ora, segundo avança esta quarta-feira o Corriere della Sera, o governo italiano considera que o "isolamento" face os restantes países do euro está a tornar-se perigoso para Itália, pelo que ganha força a ideia de constituição de um Fundo Patrimonial destinado a alienar imóveis do Estado sempre e quando algum desvio das contas públicas o exigir.
No próximo sábado, o presidente do órgão executivo da União Europeia, Jean-Claude Juncker, vai reunir-se com Conte para tentar encontrar uma forma de superar este braço-de-ferro entre Bruxelas e Roma. Conte já avisou que irá falar com Juncker "convencido" dos méritos inscritos no esboço orçamental.
A dificultar ainda mais a vida das autoridades transalpinas, esta manhã o Istat (instituto de estatísticas italiano) reviu em baixa as perspectivas de crescimento económico em 2018 para apenas 1,1%. Por outro lado, os juros da dívida pública italiana estão a negociar em queda, com a "yield" correspondente aos títulos a 10 anos a recuar 9,3 pontos base para 3,524%.
(Notícia actualizada às 12:50)