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Merkel vem a Portugal discutir o futuro da Europa com Costa e Marcelo
A chanceler alemã vem a Portugal nos próximos dias 30 e 31 de Maio para discutir o futuro do projecto de integração europeia com o primeiro-ministro, apurou o Negócios. Merkel será também recebida pelo Presidente da República.
No programa da visita, Merkel tem agendados encontros com o Presidente da República e com o primeiro-ministro. Com Costa terá oportunidade de discutir as relações bilaterais e o futuro da União Europeia, preparando assim o Conselho Europeu de finais de Junho em que os líderes europeus vão discutir a proposta conjunta de reforma da Zona Euro da chanceler germânica e do presidente francês Emmanuel Macron.
No primeiro dia da viagem (30 de Maio), a chanceler visita, acompanhada por António Costa, o novo Centro de Investigação e Desenvolvimento da empresa alemã Bosch, em Braga, e o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto. Merkel marcará também presença num debate sobre o projecto europeu com estudantes de doutoramento da Universidade do Porto.
A última vez que Merkel esteve em Portugal foi em Novembro de 2012, era Passos Coelho primeiro-ministro e estava o país sensivelmente a meio do programa de assistência externa. Nessa altura, a chanceler empreendia um périplo pelos países mais atingidos pela crise das dívidas soberanas. Agora, Merkel vem a Portugal num momento distinto e em que se discute o futuro da União Europeia, designadamente o reforço da integração do bloco do euro.
O objectivo de Macron passa por criar mecanismos que permitam corrigir assimetrias e impedir choques assimétricos caso surja uma nova crise financeira. No entanto, existe ainda uma grande distância entre Merkel e as propostas "radicais" feitas pelo presidente gaulês. A capacidade de acção de Merkel em matéria de integração europeia ficou mais limitada neste quarto mandato como chanceler devido à pressão exercida pelo seu próprio partido (CDU) e à posição crescentemente eurocéptica do partido-irmão bávaro (CSU).
António Costa tem-se destacado como um dos actuais líderes europeus de maior pendor europeísta, defendendo um orçamento comum e mecanismos de convergência na Zona Euro. Costa e o ministro das Finanças Mário Centeno, que é também, desde Janeiro, líder do Eurogrupo, consideram prioritário completar a união económica e monetária (UEM), desde logo finalizando os pilares da união bancária. A actual conjuntura económica na área do euro é, para Centeno, uma "janela de oportunidade" que tem ser aproveitada para reforçar a Europa.
Um dos pilares da união bancária passa pela criação de um fundo de garantia de depósitos no seio do euro, porém, a Alemanha não parece disponível para aceitar grandes avanços nesta matéria, já que Berlim considera que antes de concretizar essa intenção é necessário reduzir os riscos. Ou seja, antes da partilha de riscos no sector financeiro é preciso reduzi-los, em especial no que concerne ao malparado.
Lisboa e Berlim divergem sobre orçamento comunitário
No encontro entre Costa e Merkel haverá um tema que deverá confirmar divergências entre ambos. A proposta para o próximo orçamento comunitário feita pela Comissão Europeia não deixou ninguém satisfeito, mas por motivos diferentes. A redução prevista nas políticas de coesão e na Política Agrícola Comum (PAC) suscitou críticas de Lisboa, com Costa a considerar que a proposta da Comissão é "um mau ponto de partida". Também Marcelo fez declarações nesse sentido.
Para compensar o "buraco" resultante do Brexit, a instituição liderada por Jean-Claude Juncker pede um reforço das contribuições dos restantes 27 Estados-membros. Contudo, o fardo assumido pela Alemanha aumenta em 10 mil milhões de euros por ano, o que levou o governo germânico a considerar que para "reforçar a União Europeia" é "necessária uma justa partilha dos encargos orçamentais por parte de todos os Estados-membros".
Costa e Merkel: uma relação que não começou bem que agora vai de vento em popa
António Costa tinha assumido a chefia do Governo português havia pouco mais de dois meses quando viajou até Berlim para se reunir com Angela Merkel. Depois desse encontro, a chanceler fez questão de elogiar o já ex-primeiro-ministro Passos Coelho, deixando um recado que não caiu bem ao Executivo socialista. "O antecessor de António Costa conduziu Portugal por um período bastante conturbado, não foi fácil, mas na verdade foram conseguidas coisas impressionantes e deve-se fazer tudo para continuar este caminho bem-sucedido."
A solução governativa que ficou celebrizada pela expressão "geringonça" vivia uns difíceis primeiros dias de vida, alvo de dúvidas e críticas, quer interna quer externamente. Dúvidas que se mantiveram durante vários meses. Já perto do final de 2016 e ao cabo de quase um ano de Governo socialista, o então ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, afirmava que "Portugal vinha tendo muito sucesso até [à chegada] de um novo Governo".
Contudo, os bons resultados alcançados na frente orçamental foram mudando a percepção relativamente ao Governo português. O que também contribuiu para uma notória melhoria na relação entre Costa e Merkel, que se sentam lado a lado no Conselho Europeu e que já trocaram elogios mútuos. A eleição de Centeno para a presidência do Eurogrupo foi o corolário dessa mudança de atitude relativamente a Lisboa.
(Notícia actualizada pela última vez às 17:45)