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Líderes europeus (ainda) sem acordo e com Costa a tentar jogar cartada decisiva
Com os conservadores a contrariarem a vontade de Merkel e a rejeitarem o plano que faria de Timmermans o futuro presidente da Comissão, António Costa e Martin Schulz dão presidência do Parlamento Europeu ao PPE pelo dobro do período habitual para tentar desbloquear o atual impasse.
Já se antecipava difícil encontrar o tom certo para a dança cadeiras nos lugares de topo das instituições europeias, porém a música desafinou mais ainda do que o previsto e deixou mais complexa a tarefa de encontrar o par certo para cada cargo.
Com menor peso político do que em situações semelhantes que aconteceram no passado, a chanceler alemã viu um conjunto de líderes europeus conservadores (PPE) rejeitar o plano acordado por Angela Merkel, no Japão, durante a cimeira do G20, como o presidente francês, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros espanhol, Pedro Sánchez, e holandês, Mark Rutte.
O pacote negociado entrega a liderança da Comissão Europeia aos socialistas (Socialistas & Democratas), mais concretamente ao candidato preferencial desta família política, o holandês Frans Timmermans. Mas, segundo o site Politico, a frente conservadora que se opõe ao pacote negociado entre conservadores, socialistas e liberais integra os primeiros-ministros da Bulgária, Croácia, Hungria e Irlanda, respetivamente, Boyko Borisov, Andrej Plenkovic, Viktor Orbán e Leo Varadkar, está alinhada com os restantes países de Visegrado (além da Hungria integra a Polónia, a Eslováquia e a República Checa) para evitar o nome de Timmermans.
Plenkovic e Varadkar, dois conservadores que alimentam expectativas de poder ocupar um dos lugares de topo em jogo - além da liderança da Comissão, os líderes europeu têm de escolher o presidente do Conselho Europeu, o Alto Representante para a Política Externa da União Europeia, o líder do Banco Central Europeu e o presidente do Parlamento Europeu -, fizeram questão de mostrar o seu descontentamento logo à chegada a Bruxelas para a cimeira extraordinária que começou no domingo.
O impasse adiou em mais de duas horas o início do jantar de ontem e prolongou, madrugada dentro e até ao pequeno-almoço de hoje (que estará para ser realizado após ter terminado há pouco o encontro dos líderes europeus pertencentes ao PPE), as negociações que decorreram sobretudo em reuniões bilaterais onde se procura responder ao desafio de garantir os equilíbrios políticos (entre as principais famílias europeias) e regionais (países grandes e pequenos, norte/sul e leste/oeste) necessários.
O plano que Donald Tusk, presidente do Conselho, trouxe no domingo de Osaka, onde decorreu o G20, está assim em banho-maria. Ainda de acordo com o Politico, o dirigente europeu polaco pondera nem sequer colocar nenhum nome a votação nesta cimeira, isto numa altura em que países como a Polónia e a Itália sugerem uma votação secreta.
Para assegurar a escolha para futuro presidente do órgão executivo da UE, é necessária uma maioria qualificada reforçada, o que significa o apoio de pelo menos 21 Estados-membros que representem, no mínimo, 65% da população europeia). Ora, tal dimensão de apoios está nesta fase de parte dada a rejeição do Grupo de Visegrado, em particular da Hungria e da Polónia, e da Itália ao nome de Timmermans. Recorde-se que este vice-presidente da Comissão foi o responsável pelos processos abertos a Budapeste e Varsóvia por violação das regras do Estado de Direito.
Costa também joga no xadrez europeu
É neste contexto que entra o primeiro-ministro António Costa. Novamente com base nas informações avançadas pelo Politico, o líder português conversou ao telefone com o antigo presidente do Parlamento Europeu e ex-líder do alemão SPD, Martin Schulz, para redefinir a estratégia em cima da mesa, concretamente a ideia de dar a presidência da Comissão a Timmermans em troca de um mandato mais longo do conservador Max Weber como líder do Parlamento Europeu.
Costa já assumiu protagonismo ao ser um dos negociadores do grupo dos seis líderes representantes das três maiores famílias políticas europeias (democrata-cristã, socialista e liberal) que prepararam o caminho para a distribuição de lugares de topo em função dos novos equilíbrios resultantes das eleições europeias de 26 de maio.
Weber, o candidato do PPE à Comissão que os conservadores terão deixado cair apesar, ficaria cinco anos à frente dos trabalhos do plenário comunitário, o dobro dos habituais dois anos e meio.
Se nem tudo parece fácil, aparentemente socialistas e liberais permanecem alinhados no essencial. E o essencial passa por uma solução de compromisso que foi reiterada por Merkel, Macron, Rutte e Sánchez no G20: Timmermans na Comissão, Weber no Parlamento Europeu, um liberal como Alto Representante (Margrethe Vestager como principal hipótese), e um conservador no Conselho (potencialmente Varadkar ou Plenkovic).
Ainda assim, tudo aponta para que Frans Timmermans suceda a Jean-Claude Juncker à frente da Comissão, pondo fim à prevalência conservadora nestas funções assegurada pelo PPE nos últimos 20 anos. Se for o nome escolhido pelos líderes europeus, o holandês deverá ser facilmente aprovado no Parlamento Europeu, onde dispõe do apoio da chamada frente progressista que além da bancada dos socialistas integra ainda liberais, verdes e esquerda radical.
Depois de a cimeira europeia convocada para o efeito ter sido inconclusiva, trata-se agora de uma corrida contra o tempo em que as diferentes capitais têm de chegar a acordo quanto a nomes e funções antes de 2 de julho, dia marcado para o início da nova legislatura do Parlamento Europeu.