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Britânicos descobriram que vivem num país racista

Faltam dois dias para o referendo. Mas num dos locais mais turísticos de Londres, junto ao parlamento, ninguém diria.

Reuters
21 de Junho de 2016 às 22:38
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As lágrimas caíram. Ao ler as mensagens deixadas num improvisado memorial a Jo Cox, deputado do Labour que na semana passada foi assassinada, e tantas flores, Moira Murray não se conteve. Poucos conheciam Jo Cox, mas a sua vida acabou revelada pelos acontecimentos. Dedicava-se a causas sociais e defendia quem estava em posições mais desfavorecidas. Era deputada do partido trabalhista e morreu às mãos de um extremista.

Moira Murray volta a emocionar-se. E lamenta o discurso extremado, de quem apela à saída do Reino unido da União Europeia. "Encorajam o racismo e esta terrível violência". O memorial, em frente ao Parlamento britânico, é agora mais um registo para os turistas de máquina em punho.

Para Andrew McLeod, um jovem que até diz ser de uma classe relativamente privilegiada, não pegou na máquina fotográfica. Pegou na caneta e deixou a sua mensagem. Como centenas de outras. Poucas falam do que divide o país por estes dias. Mas não deixa de haver referências. "Brexit histeria caused this death". A histeria do Brexit causou esta morte.

cotacao É triste acontecer isto a quem faz o que é correcto. Andrew McLeod Jovem no memorial de Jo Cox

Andrew acredita que este acontecimento não terá reflexo no resultado do referendo. Mas aponta o dedo ao que alguns britânicos se tornaram. Diz ser socialista de coração, mas não o socialista que ensinam na escola, do Lenine e Estaline. Assume que não sabia muito da deputada, mas agora gostaria de ter mais políticos como Cox. "É triste acontecer isto a quem faz o que é correcto". Aproveita para os atacar. "Os políticos não se preocupam em dizer a verdade, mas a construir uma narrativa".

E ambos os lados das campanhas não têm dito, acredita, toda a verdade. Atira em particular a Nigel Farage, lider do UKIP, e a Michael Gove. Já em relação a Boris Johnson, as comparações são feitas com Trump.

Moira faz o mesmo paralelismo: já imaginou o Reino Unido ter como primeiro-ministro Boris Johnson e os EUA como presidente Trump?, pergunta horrorizada. "É um oportunista. Quer chegar ao poder. E finge ser uma pessoa simpática. Mas não é. É uma pessoa cheia de esquemas que quer ganhar poder". Aponta para os arranha-céus do outro lado do Rio Tamisa, para dizer que foram autorizados por Johnson quando era presidente da câmara de Londres. "E estão vazios..." e os jovens têm de pagar rendas altíssimas pelas casas, atira. Num desses prédios, do outro lado do rio, está registada a sede do Vote Leave, a campanha autorizada de Boris Johnson. Mas quem por lá passa, não diz que ali reside o coração da campanha.

Nem uma bandeira, nem um cartaz

Aliás, por Londres, pouco se vai notando que dentro de dois dias há um referendo, que pode mudar a face do Reino unido. Andrew diz que é normal. Acredita que os britânicos, apesar de lerem muito, estão mal informados. Não se discutem os assuntos devidamente, diz. Para Moira, o debate centrou-se demasiado nos emigrantes e no racismo. Andrew lamenta ter descoberto um país tão racista. E, por isso, até vai admitindo que se o extremismo vencer...  saia à rua a reclamar. Moira nem quer pensar nesse cenário. "I hope we stay", diz depois de confessar ter visitado Lisboa e ter gostado muito.


*Enviada especial do Negócios a Londres

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