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As misteriosas finanças do maior apoiante da campanha do Brexit
Desde que fez a maior contribuição política da história do Reino Unido, o apoiante do Brexit Arron Banks tem sido questionado sobre a origem do seu dinheiro.
Para um homem que disse ao Financial Times que tinha 100 milhões de libras (116 milhões de euros, ao câmbio atual) em 2015 e que chegou à Sunday Times Rich List dois anos depois com 250 milhões de libras, oito milhões de libras não é necessariamente impressionante. Mas será que Banks - alvo de uma investigação criminal sobre o financiamento da campanha a favor da saída do Reino Undio da União Europeia - é realmente assim tão rico?
Uma análise do Bloomberg Billionaires Index estimou o património líquido de Banks em 25 milhões de libras a partir do que pode ser compilado publicamente. O valor engloba 34 milhões de libras em ativos em seguros, serviços financeiros e produção de diamantes. O número líquido deduz o montante ao Leave.eu, o grupo pró-Brexit que ajudou a fundar.
Alguns dos seus ativos estão em dezenas de empresas estrangeiras de capital fechado, o que dificulta qualquer contabilidade real do seu património líquido. Quando detalhes de ativos de capital fechado não podem ser verificados, não são incluídos nos cálculos da Bloomberg, por isso, a sua fortuna pode ser maior.
Banks afirma que o valor corporativo dos seus ativos de seguros foi calculado em cerca de 200 milhões de libras numa avaliação realizada pela firma de contabilidade BDO em 2017. Ele não permitiu que a Bloomberg acedesse ao relatório, nem revelou quanto desse montante são dívidas, o que reduziria o valor patrimonial da sua participação.
Banks disse que a análise da Bloomberg "falha em quase todos os aspetos" e preferiu não fornecer mais nenhuma informação, não vendo razão para divulgar informações privadas.
Com o Reino Unido atolado numa turbulência política e a proximidade do fim do prazo do Brexit, a decisão da Agência Nacional Anticrime (NCA, na sigla em inglês) de investigar Banks e o valor que alocou à campanha do referendo poderá gerar uma nova reviravolta nesta saga. De facto, dependendo do desenrolar da situação, o Reino Unido tem uma pequena possibilidade de repetir o referendo tão influenciado pelo dinheiro de Banks.
A NCA investiga se Banks, de 52 anos, foi a verdadeira fonte dos recursos da campanha do Brexit e se o dinheiro era permitido segundo as regras eleitorais. A agência tem poder de investigação para eliminar o véu do sigilo que cobre as finanças de Banks. Membros do Parlamento britânico também têm feito perguntas sobre encontros de com autoridades russas. Banks rejeita estas ligações e afirma que fez a doação usando recursos pessoais ou das suas empresas britânicas seguindo a lei.
Quando Rebecca Pow, do Partido Conservador – o do governo – observou que o emaranhado de empresas de Banks equivalia a "arranjos tortuosos e complicados" que deixaram muita gente com a impressão de que tinha algo a esconder, Banks retorquiu: "Gosto de pensar que sou um génio do mal com um gato branco que controla toda a democracia ocidental, mas é claro que isso é um absurdo."
(Texto original: The Mysterious Finances of the Brexit Campaign’s Biggest Backer)