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Acordo para um Brexit suave dita demissão de ministro

Depois de na sexta-feira o governo britânico ter chegado a acordo para promover uma saída que garanta laços mais estreitos no relacionamento comercial entre o Reino Unido e a UE, o eurocéptico e responsável pela negociação do Brexit com Bruxelas apresentou a demissão.

Chris Ratcliffe/Bloomberg
David Santiago dsantiago@negocios.pt 09 de Julho de 2018 às 09:25

Mais um contratempo para a primeira-ministra britânica. Depois da aparente vitória alcançada na passada sexta-feira, ao conseguir um acordo no seio do governo britânico com vista a um Brexit mais suave, Theresa May perde o até agora ministro responsável pela saída britânica da União Europeia.

Este domingo, o eurocéptico e defensor de um "hard Brexit" David Davis pediu a demissão considerando que ficaria desautorizado na sua missão depois do acordo alcançado entre os ministros conservadores.

Para Davis, o acordo obtido em sede governamental "não vai certamente devolver" ao Reino Unido o controlo sobre as leis britânicas e vai deixar o Parlamento do país, "na melhor hipótese, numa fraca posição negocial".

A demissão de David Davis é acompanhada pelos secretários de Estado mais directamente envolvidos na negociação do Brexit, Steve Baker e Suella Braverman. Estas demissões dificultam a vida de Theresa May que enfrenta o risco de nova crise governamental e que, em simultâneo, terá de garantir apoio dos deputados "tories" ao plano ministerial.

Por outro lado, a saída de Davis e restante equipa poderá trazer renovadas dificuldades na já difícil e atrasada negociação em curso do Brexit, isto quando faltam cerca de oito meses para a formalização da saída.

É que tanto na bancada parlamentar como dentro do próprio governo é representativa e ruidosa a facção favorável à chamada "saída dura" da UE, uma ala do Partido Conservador que ameaça mesmo a liderança de May.

Numa altura em que persistem bloqueios quanto à negociação sobre a relação futura entre Bruxelas e Londres uma vez concretizado o Brexit agendado para 29 de Março de 2019, o governo britânico chegou a acordo para propor a criação de uma "zona de livre comércio" entre o Reino Unido e a UE assente em "regras comuns".

Na missiva dirigida ontem para a primeira-ministra, David Davis argumentou que a nova "corrente estratégica" do governo britânico faz com que seja "cada vez menos provável" que o Reino Unido abandone o mercado único europeu e a união aduaneira e poderá levar Bruxelas a exigir novas concessões.

No entender da editor de política da BBC, Laura Kuenssberg, esta demissão não causa surpresa na medida em que há muito se colocava a possibilidade de David Davis se afastar do governo. Mas a formalização da intenção de prosseguir um "Brexit suave" foi a última gota de água para o diplomata britânico.

No entanto, para Kuenssberg esta saída adensa as dúvidas quanto ao apoio real existente no governo chefiado por Theresa May acerca da estratégia para o Brexit.

Já em declarações feitas esta manhã e reproduzidas pelo Guardian, David Davis defendeu ser "muito importante" que May aponte como seu sucessor alguém que acredite na nova estratégia governamental.

 

Theresa May enfrenta duro teste

A primeira-ministra discorda das razões invocadas pelo agora seu ex-ministro bem como a "caracterização" feita por Davis, mas agradeceu o seu trabalho desde que, em 2016, assumiu funções.

Esta segunda-feira de manhã, Theresa May vai marcar presença na Câmara dos Comuns do parlamento britânico onde tentará recolher apoio junto da bancada dos conservadores para a política sobre o Brexit num momento em que diversos deputados "tories" contemplam a possibilidade de contestar a liderança do partido.

Além da oposição interna, também do lado dos trabalhistas chovem críticas. O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn considera que May mostrou ser "incapaz de concretizar o Brexit".

May comprometeu-se em enviar esta semana para Bruxelas um Libro Branco com as novas propostas do governo do Reino Unido para enquadrar a saída da União e a relação futura entre os dois blocos económicos. No Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho, os líderes europeus reiteraram as dificuldades na negociação da saída britânica do bloco europeu com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a sinalizar como hipótese real um cenário de não acordo.

Ao contrário das garantias iniciais de May quando sucedeu a Cameron na liderança dos "tories" e do governo conservador, Londres está agora inclinada para um "Brexit suave" e não para um "Brexit duro". O problema é que nem todos pensam assim no Reino Unido e ainda se está longe de poder dar como garantida esta nova abordagem do governo britânico. 

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