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Tema da imigração ilegal regressa em força à Europa

Novo Governo italiano ataca hipocrisia da Europa e exige verdadeira solidariedade com o país que já recebe 170 mil imigrantes. Chanceler austríaco anuncia criação de eixo entre o seu país, a Alemanha e Itália para fazer face ao fenómeno da imigração ilegal.

EPA
13 de Junho de 2018 às 18:48
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O problema é antigo e nunca foi resolvido. Agora, com a eleição de mais um governo europeu que inclui forças de extrema-direita, em Itália, o tema da imigração ilegal voltou em força. Provocou um choque diplomático entre Itália e França, levou o chanceler austríaco a anunciar um novo eixo entre três países para combater o fenómeno e obrigou Angela Merkel, cada vez mais pressionada no seu país, a intervir. 

A decisão de Itália em não acolher um navio com 629 imigrantes oriundos do Norte de África foi o rastilho que reacendeu a polémica, levando a um coro de críticas dos países europeus. Porém as críticas particularmente duras do primeiro-ministro francês caíram muito mal em Itália. Emmanuel Macron lamentou "o cinismo e a irresponsabilidade do governo italiano" ao não cumprir o direito internacional e marítimo que determina que sejam as costas mais próximas a acolher os barcos nesta situação. "O que é inaceitável é o comportamento e a instrumentalização política feita pelo governo italiano", declarou o porta-voz do governo francês.

A resposta de Itália não se fez esperar. Num discurso no Parlamento, Matteo Salvini – ministro do Interior e líder do partido de extrema-direita que partilha o poder em Itália – exigiu um pedido formal de desculpas a França e denunciou a hipocrisia daquele país que acusa de não cumprir minimamente as metas de acolhimento de imigrantes. "Peço ao presidente Macron que passe das palavras aos actos e amanhã de manhã receba os 9.186 imigrantes que prometeu receber como um sinal de generosidade concreta e não apenas palavras", declarou um dos homens fortes do novo governo italiano.

O ministro italiano dos Negócios Estrangeiros convocou ainda o embaixador francês em Itália para exigir explicações sobre as declarações de Macron. Simultaneamente, o ministro italiano da Economia cancelou uma visita a Paris que estava prevista para esta quarta-feira.

O descontentamento de Itália já vem de trás e é partilhado por grande parte da opinião pública do país. Dada a sua localização geográfica, Itália tem estado especialmente pressionada com a chegada de imigrantes ilegais e queixa-se de os Estados-membros não partilharem o fardo e abrirem as suas fronteiras aos refugiados. França é acusada de ter um discurso contraditório com a sua prática, já que tem vindo a repatriar para Itália os imigrantes que tentam passar para a fronteira, que partilha com o país transalpino.

Não foi só em relação a França que seguiram palavras amargas. No seu discurso, Salvini também se referiu a Espanha, que decidiu autorizar a chegada do barco Aquarius, que está na origem deste conflito diplomático: "Agradeço aos amigos espanhóis o seu bom coração, mas o presidente Sánchez tem ainda ampla margem para exercitar a sua solidariedade nas próximas semanas", já que "tem apenas cerca de 16 mil refugiados, enquanto Itália conta com 170 mil".

O afluxo de refugiados em Itália diminuiu abruptamente este ano na sequência de acordos muito polémicos estabelecidos entre Itália e diversas autoridades locais na Líbia que, até à queda do regime de Khadafi, servia de tampão ao fenómeno da imigração. Estes acordos são alvo de várias acções no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, com acusações de tortura e escravatura em território líbio.

Novo "eixo" contra a imigração ilegal

Não é só o governo italiano que relança a questão da imigração ilegal na Europa. Também o chanceler austríaco anunciou esta quarta-feira a criação de um "eixo" com os ministros da Administração Interna da Áustria, Alemanha e Itália para lutar contra a imigração ilegal na União Europeia, quando os europeus se dividem acerca desta questão. "Estou satisfeito com a boa cooperação que queremos construir entre Roma, Viena e Berlim" nesta área, declarou Sebastian Kurz, durante uma conferência de imprensa em Berlim, citado pela agência Lusa. "Na nossa opinião, é necessário um eixo de voluntários na luta contra a imigração ilegal", acrescentou o responsável austríaco, depois de um encontro com o ministro da Administração Interna alemão, Horst Seehofer.

Sebastian Kurz está no cargo de chanceler desde final de 2017 em aliança com a extrema-direita e propôs um projecto anti-imigração. A Itália também passou a ter um governo duro acerca deste tema, ao reunir extrema-direita e populistas.

Merkel recusa acções unilaterais

Perante toda a polémica, Angela Merkel já veio a terreiro e pediu calma. A chanceler alemã veio assegurar que Itália não está sozinha, pediu união dos Estados-membros e rejeitou qualquer acção unilateral por parte dos países. "É muito, muito importante para mim que a Alemanha não aja unilateralmente e que tudo o que façamos seja discutido ordeiramente, com entendimentos com os outros países, de modo a termos uma abordagem europeia verdadeiramente unitária", disse Merkel, depois de um encontro com o primeiro-ministro belga.

A chanceler tem vindo a ser cada vez mais pressionada pelos parceiros conservadores, que discordam da política de imigração da Alemanha, que consideram demasiado permissiva.

 

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