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Sánchez e Iglesias não se entendem e beco de Espanha continua sem saída
No dia em que o rei convocou a presidente do parlamento espanhol para conhecer o estado da arte no processo de investidura, o líder do PSOE rejeitou o desafio para conversações "cara a cara" lançado por Pablo Iglesias. Sánchez mantém rejeição a uma coligação de governo com o Unidas Podemos e só aceita negociar um programa de governo.
Persiste o impasse político em Espanha que, assim, continua em risco de ter de realizar novas eleições gerais dada a até agora verificada impossibilidade de entendimento entre PSOE e Unidas Podemos para o primeiro governo de esquerdas desde a transição democrática.
Um dia depois do término, em rutura, das negociações entre os dois partidos com vista à procura de uma solução governativa e a um dia de o rei Felipe VI receber a presidente do parlamento espanhol, Meritxell Batet, para tomar conhecimento do pé em que estão as conversações para a investidura de um primeiro-ministro, Pedro Sánchez manteve-se intransigente quanto à recusa de uma coligação de governo com o Unidas Podemos.
Tendo ido ao parlamento para dar conta do sucedido nos últimos conselhos europeus e prestar informações sobre o processo do Brexit, o secretário-geral do PSOE e primeiro-ministro espanhol em funções ouviu o líder da aliança de esquerda radical, Pablo Iglesias, desafiá-lo para um diálogo "cara a cara".
"Sentemo-nos à mesa. Volto a estender-lhe a mão. Você e eu, ponhamo-nos a trabalhar", desafiou Iglesias que recorreu ao exemplo italiano, onde 5 Estrelas e PD forjaram uma aliança contranatura e sempre rejeitada por ambos os partidos, para sustentar que "é preferível uma coligação a repetir eleições".
Na resposta, Sánchez limitou-se a dizer que se o Unidas Podemos tem algo a apresentar para lá da intenção de governar em coligação com o PSOE, então que convoque as equipas nomeadas por cada um dos partidos a fim de que sejam retomadas as negociações.
O líder socialista preferiu apelar novamente à oposição, voltando-se designadamente para a sua direita (PP e Cidadãos), para que "abandone o bloqueio" de modo a permitir a sua investidura como primeiro-ministro e impedir as quartas eleições em quatro anos, prometendo "tentar até ao último segundo" superar o bloqueio vigente desde as eleições de 28 de abril.
Já Iglesias fez ainda questão de recordar o "veto" feito por Sánchez a que integrasse um eventual governo de coligação durante as negociações prévias à primeira sessão de investidura que o líder do PSOE fracassou dada a abstenção do Unidas Podemos que, à última hora, exigira assegurar competências na área das políticas ativas de emprego, cenário que os socialistas recusaram.
Todavia, Pedro Sánchez não mudou de posição, mantendo que quer liderar um "governo coeso e não dois governos num" e reiterando estar apenas disponível para um compromisso em torno de um programa de governo para quatro anos, executado pelo PSOE com o apoio do Podemos no parlamento.
Rutura à vista
Tanto Sánchez como Iglesias asseguram querer evitar a todo o custo o regresso às urnas mas, na prática, as rejeições e exigências mutuamente impostas apontam cada vez mais nesse sentido. Se se confirmar a rutura definitiva neste diálogo à esquerda, tudo aponta para que Espanha realize eleições gerais antecipadas, previsivelmente a 10 de novembro.
A aproximação a essa rutura deu-se esta terça-feira, com os representantes de cada um dos partidos a admitirem a inexistências das condições necessárias a um compromisso.
A porta-voz do PSOE, Adriana Lastra, notou que os socialistas não veem uma "saída para a situação devido à recusa do Unidas Podemos" em acordar um programa político para a legislatura.
Pelo Unidas Podemos falou o porta-voz Pablo Echenique, afastando qualquer possibilidade de entendimento enquanto o PSOE quiser formar um "governo de partido único como se tivesse maioria absoluta".
Corrida contra o tempo
Já quase não há margem temporal para evitar a formalização de uma nova crise política e a ida a eleições. Tendo em conta o disposto no artigo 99.º da Constituição de Espanha, seria necessário que o rei iniciasse uma nova ronda de consulta aos partidos entre as próximas segunda e quinta-feira, isto para que a 20 ou 21 deste mês pudesse ter lugar o primeiro debate de investidura.
Só assim seria possível que a segunda sessão de investidura (em que basta uma maioria simples – mais votos a favor do que contra – para garantir a investidura e que se realiza 48 horas da primeira votação fracassada) se realizasse a 23 de setembro, o último dia do prazo de dois meses que corre a partir do momento em que Sánchez falhou a primeira tentativa de investidura.
Se até 24 de setembro não houver um primeiro-ministro em plenitude de funções, o rei dissolve as cortes e marca eleições antecipadas.