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Quanto custaria à economia acabar com Schengen?
Um estudo francês mede o impacto na diminuição do turismo, das trocas comerciais e do fluxo de trabalhadores.
Quais seriam as consequências económicas de uma reintrodução permanente dos controles de fronteira dentro do espaço Schengen? A France Stratégie, uma agência de estudos e planeamento do Governo, foi à procura do número. No longo prazo, os países do espaço Schengen podem perder o equivalente a 100 mil milhões de euros ou 0,8% do PIB.
"O restabelecimento de controles nas fronteiras interiores do espaço Shengen provocará constrangimentos inevitáveis nas fronteiras, que terão consequências no fluxo de pessoas e na actividade económica", conclui o estudo "Les Conséquences Économiques d’un Abandon des Accords Schengen".
O turismo, as trocas comerciais e o trabalho do outro lado da fronteira, que cresceram com Schengen, seriam afectados em virtude do aumento dos tempos de passagem e da necessidade de obter autorizações adicionais.
A vaga de refugiados vindos do Afeganistão, Síria, Iraque e outros países do Médio Oriente – mais de um milhão só em 2015 – está a levar a um regresso dos controlos de fronteira nos países do espaço Shengen. Áustria, Alemanha, França, Suécia e Dinamarca contam-se entre os países que repuseram barreiras temporárias à entrada no seu território.
O acordo prevê uma reactivação temporária e de curta duração dos controles. Mas a Comissão Europeia está a preparar legislação para possibilitar a suspensão do acordo por um prazo de dois anos. Medida que poderá em breve ser aplicada em toda a fronteira da Grécia.
O estudo estima um impacto negativo de curto prazo, que em França chegaria a 2.000 mil milhões de euros anuais, sem contar com o aumento da despesa pública provocado pelo custo operacional da reposição dos controles. Só no turismo a perda de receita poderá variar entre 500 milhões e mil milhões de euros.
Taxa de 3% sobre o comércio
A longo prazo a factura cresce. Partindo das conclusões de outros estudos académicos, o relatório conclui que a suspensão de Schengen seria equivalente a impor uma taxa de 3% sobre as trocas comerciais. Um prolongamento dos controles até 2025 induziria uma quebra de 11,4% nas exportações e importações francesas para os outros Estados-membros da União Europeia. O PIB francês diminuiria em 0,5% no prazo de 10 anos.
O custo para espaço Schengen no seu conjunto seria de 0,8% do PIB em 2025, o equivalente a uma perda de mais de 100 mil milhões de euros. O estudo cita ainda outras consequências, como a diminuição dos fluxos financeiros, que são mais difíceis de quantificar. "A diminuição dos fluxos transfronteiriços de pessoas tem um impacto no investimento estrangeiro e de carteira", escrevem os autores.
Os economistas recuperam ainda um Eurobarómetro sobre quais os resultados mais positivos da União Europeia, em que a liberdade de circulação de pessoas, bens e serviços surge em segundo lugar. E concluem: "O abandono [de Schengen] terá consequências para o projecto europeu difíceis de avaliar mas que não devem ser subestimadas".