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PSOE vence mas pouco. Bloqueio agrava-se com subida do PP e Vox

O PSOE ganhou as eleições gerais espanholas deste domingo. Sabe-se ainda que o Vox é o principal vencedor da noite eleitoral e que o Cidadãos é o grande derrotado. E que nem o bloco da esquerda nem o da direita perfazem maioria absoluta. Contudo, continua a não se saber quem e como poderá governar.

David Santiago dsantiago@negocios.pt 10 de Novembro de 2019 às 22:12

O PSOE do primeiro-ministro em exercício, Pedro Sánchez, venceu as eleições gerais espanholas deste domingo, porém foi uma espécie de vitória de Pirro na medida em que das urnas voltou a não sair uma solução governativa óbvia, ou natural.

O bloqueio político que já provocou três eleições antecipadas persiste, pelo menos no que à aritmética parlamentar diz respeito, e é até agravado face ao crescimento do PP e, em especial, do Vox. As eleições deste domingo não só reafirmaram a preferência pelo sistema pluripartidário que, em 2015, substituiu o tradicional bipartidarismo como mantiveram a fragmentação parlamentar que dificulta a obtenção dos 176 mandatos necessários à maioria absoluta. Assim, só a negociação de uma aliança parlamentar ou de governo permitirá a Espanha ultrapassar este longo período de ingovernabilidade.

Com 98,43% dos votos contados, o PSOE (centro-esquerda) obteve 28,01% (120 mandatos), menos três deputados do que na eleição de 28 de abril. Mas se os socialistas conseguiram estancar a perspetiva de quebra eleitoral, o mesmo não aconteceu com o Unidas Podemos (aliança de esquerda radical). O partido de Pablo Iglesias elegeu 35 deputados, menos sete mandatos face à última eleição.

A grande alteração relativamente às eleições de 28 de abril deu-se no campo da direita, onde o Vox (extrema-direita) disparou de 24 deputados para 52 mandatos, beneficiando sobretudo da transferência de votos oriundos do Cidadãos.

O partido liderado por Santiago Abascal é o maior vencedor da noite eleitoral, mais do que duplicando os mandatos eleitos em abril, superando o Cidadãos (liberal) e desafiando a hegemonia do PP (centro-direita) no bloco da direita. Numa eleição muito marcada pela cisão espanholismo-independentismo, o discurso patriótico do Vox colheu frutos.

O PP de Pablo Casado reforçou-se em votos e mandatos, passando de 66 para 87 assentos parlamentares, o que permite aos conservadores espanhóis afirmarem-se claramente como única alternativa a Pedro Sánchez.

Já o Cidadãos é claramente o maior derrotado, ao perder 47 mandatos para ficar com somente 10 deputados. O partido nascido na Catalunha passa de terceira a sexta força, ficando inclusivamente atrás dos independentistas catalães da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha).

Aparentemente, os eleitores penalizaram a indisponibilidade de Albert Rivera para participar em qualquer tipo de solução de governo protagonizado por Sánchez. O fracasso registado na negociação entre PSOE e Podemos com vista à formação de um governo de coligação também resultou numa punição eleitoral maior para o partido de Iglesias do que para os socialistas.

Esquerda vence direita mas fica mais aquém da maioria

Ao contrário do que chegou a ser vaticinado pelas sondagens, o bloco das direitas (PP, Cidadãos, Vox), com um total de 149 deputados, ficou atrás do somatório das forças de esquerda (PSOE, Unidas Podemos e Más País), que asseguraram 157 mandatos.

No entanto, enquanto o campo da direita ganhou dois assentos parlamentares comparativamente com a eleição anterior, o bloco da esquerda perdeu oito mandatos face aos 165 que PSOE e Unidas Podemos elegeram a 28 de abril.

Dado que as três direitas não se bastam para alcançar 176 mandatos, e que não se identifica nenhum partido com quem estas forças se pudessem aliar, tudo aponte para que sobrem duas vias para desbloquear o atual impasse político.

Um entendimento de bloco central entre os dois maiores partidos, designadamente uma abstenção do PP para viabilizar a investidura de Sánchez como primeiro-ministro, é uma hipótese académica com difícil margem para se concretizar.

Sobre um cenário de aliança de esquerda (PSOE, Unidas Podemos e Más País) a que Pedro Sánchez precisaria somar partidos independentistas. O apoio dos dois principais partidos independentistas da Catalunha - os 10 deputados da ERC e os JxCat (centro-esquerda) – bastam para a maioria absoluta, contudo para não ficar somente dependente de forças catalãs Sánchez poderá olhar também para as forças soberanistas bascas (PNV e EH Bildu).

Uma vez que a esquerda conta com menos deputados e que o PSOE enfrenta agora maior concorrência à direita dado o importante reforço de Vox e PP, Pedro Sánchez precisa ainda mais (e de mais) apoios oriundos de partidos separatistas, hipótese que poderá ser difícil de vender a um eleitorado descontente com a ameaça independentista, o que se traduziu no enorme crescimento da extrema-direita.

Estas eleições agravaram a necessidade de serem negociados pactos, método utilizado pelos partidos em diversas comunidades autonómicas e autarquias, porém nunca usado para governar o país.

Consciente dessa necessidade, até porque os eleitores confirmaram querer uma solução governativa dependente de várias formações políticas, Pedro Sánchez reagiu à vitória com a garantia de que o projeto socialista passa por "formar um governo estável".

Para o conseguir, o secretário-geral socialista pede aos restantes partidos que atuem "com generosidade e responsabilidade para desbloquear a situação política em Espanha". Assegurando que "desta vez, sim ou sim", será formado um "governo progressista liderado pelo PSOE", Sánchez não deixou qualquer indicação sobre a via a seguir, limitando-se a proclamar que falará com todos os partidos à exceção daqueles que se auto-excluem do diálogo e que preferem um discurso de ódio.

Iglesias quer coligação proporcional com o PSOE

Na reação aos resultados, Pablo Iglesias mostrou apreensão com "uma das extremas-direitas mais fortes da Europa" e atacou Sánchez por ter inviabilizado um governo de coligação com o Podemos.

Iglesias sublinhou continuar disponível para negociar uma coligação de governo com o PSOE, a que podem juntar-se outras forças de esquerda, nomeadamente o Más País de Íñigo Errejón, ex-número dois do Podemos, e em que cada partido teria uma representação no executivo proporcional à votação que teve nas urnas.

Na mesma linha, Errejón declarou-se favorável à formação de um "governo progressista" capaz de evitar "terceiras eleições".

Distinta foi a leitura feita à direita. Santiago Abascal proclamou o Vox como a "terceira força política de Espanha" e Pablo Casado sustentou que a perda eleitoral de Sánchez mostra que o líder socialista perdeu, desafiou o PSOE a tirar consequências e antecipou que, "em breve", os populares estarão de regresso ao poder.

Por sua vez, Rivera reconheceu a derrota e anunciou que será realizado um congresso extraordinário do Cidadãos.


(Notícia atualizada às 22:45)

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