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Independentistas catalães mantêm investidura de Sánchez longínqua
Depois de uma primeira reunião com o PSOE, o maior partido independentista catalão mantém o não à investidura do líder socialista. Pedro Sánchez pergunta "que governo querem" afinal e lembra que PSOE e Unidas Podemos querem "superar a crise política através do diálogo".
O pré-acordo entre PSOE e Unidas Podemos com vista a uma coligação para um "governo progressista" permanece distante de garantir os apoios necessários à respetiva entrada em funções.
Na sequência da primeira reunião de trabalho entre o PSOE e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, esquerda independentista), o partido soberanista revelou que mantém o não à investidura do secretário-geral socialista, Pedro Sánchez, como primeiro-ministro.
Como explica o jornal catalão La Vanguardia, de entre todos os encontros que o PSOE vai realizar com os partidos nacionalistas e regionalistas, a reunião com a ERC será a mais relevante, já que a viabilidade da investidura parece estar nas mãos deste partido – os socialistas precisam, pelo menos, da abstenção para tornar a investidura de Sánchez viável.
No final do encontro desta manhã entre a porta-voz do grupo parlamentar do PSOE, Adriana Lastra, e o número dois da ERC no parlamento, Gabriel Rufián, os catalães emitiram um comunicado em que justificam a manutenção do não a Sánchez com o facto de não haver "nenhum indício de que o PSOE venha a abandonar a via repressiva para resolver o conflito político entre a Catalunha e o Estado [espanhol]".
Ainda assim, a ERC acrescenta que os dois partidos "coincidem sobre a necessidade de continuarem a manter contactos", o que significa que existe margem para a negociação continuar.
De um lado, o PSOE considera que o maior problema referente ao soberanismo catalão prende-se com a convivência no seio da região autonómica.
Do outro, a ERC sustenta que o diferente assenta no conflito entre a Catalunha e o Estado central, reclama a realização de um referendo acordado com Madrid e a libertação dos independentistas condenados pelo Supremo Tribunal, entre os quais Oriol Junqueras, o ainda líder do partido.
Como o Podemos tem posições mais próxima à ERC do que o PSOE, os catalães acreditam que a inclusão de Iglesias num governo de coligação poderá facilitar um acordo.
Sánchez reagiu de pronto à posição formalizada pela ERC. O primeiro-ministro espanhol em exercício frisa que o acordo de princípio fechado com a formação de Pablo Iglesias é o único "que garante uma saída para o bloqueio da governabilidade" e pergunta aos catalães "que governo querem" afinal.
"O PSOE e o Unidas Podemos são as duas únicas organizações a nível nacional que apostam no diálogo dentro da Constituição para resolver a crise política na Catalunha", prosseguiu Sánchez insistindo na ideia de que são mesmo as "duas únicas".
Num aparente recuo face à proposta eleitoral em que prometeu voltar a incluir no código penal espanhol a criminalização da realização de referendos ilegais à luz da Constituição, o líder do PSOE rejeita agora dizer se mantém essa intenção.
Perante a perda nas sondagens e o crescimento da direita, em particular do Vox e do PP, na sequência do agudizar da crise catalã depois das pesadas penas judiciais aplicadas aos dirigentes independentistas catalães, Pedro Sánchez endureceu a sua posição face aos soberanistas.
No entanto, ao sair fragilizado das eleições gerais do passado domingo e dado o reforço da ERC, agora Sánchez precisa ainda mais do apoio dessas forças para chegar governar em plenitude de funções.
Como tal, Sánchez promete que no discurso que fará aquando da sua sessão de investidura vai explicitar quais as medidas que pretender incluir no programa de governo para solucionar o diferendo com a Catalunha.
Contas difíceis
Nesta altura, PSOE (120) e Unidas Podemos (35) somam 155 mandatos, sendo necessários 176 para a maioria absoluta. E somando os deputados do Más País (3), dos nacionalistas bascos (PNV, 6 mantados), do PRC (1), do Terul Existe (1), do Nova Canárias (1) e do BNG (1), não vai além dos 168 votos favoráveis.
Mesmo numa segunda votação de investidura, em que basta uma maioria simples (mais votos a favor do que contra), aqueles apoios não chegam para superar o bloco de partidos contra: PP (89),Vox (52), Cidadãos (10), Navarra Suma (2), Coligação Canária (1), Juntos pela Catalunha (8), CUP (2), ERC (13) e EH Bildu (5).
Isto significa que para conseguir a investidura, Sánchez tem, pelo menos, de contar com a abstenção da ERC e dos separatistas bascos do EH Bildu (aliança de esquerda basca independentista).