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Marine Le Pen: A extrema direita na escalada do poder

A Frente Nacional dá o tudo por tudo na segunda volta das regionais em França, precisamente um mês depois dos atentados de Paris. É a extrema-direita a marcar pontos e a aproximar-se do poder. Mas quem é esta mulher de quem se fala, que consegue convencer cada vez mais franceses?

Reuters
13 de Dezembro de 2015 às 10:00
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Um "animal político". É frequente encontrarmos esta expressão associada a Marine Le Pen e quando a ouvimos a falar, em discursos de campanha ou em entrevistas às televisões, é precisamente essa a impressão que transmite a líder da Frente Nacional (FN), o partido de extrema-direita francês que no passado Domingo, 6 de Dezembro deixou o país em choque ao conseguir ultrapassar conservadores e socialistas em seis regiões. Em duas delas, aliás, a vantagem ultrapassou os 40% e este domingo, 13, Le Pen volta a dar o tudo por tudo na segunda volta. A apesar de as sondagens não lhe serem favoráveis, até já marcou o lugar onde pretende "festejar a vitória": um pequeno restaurante de um emigrante português, perto da sede do seu partido e onde costuma almoçar regularmente com o seu "staff".

Marine Le Pen, de seu nome Marion Anne Perrine Le Pen, nasceu a 5 de Agosto de 1968 em Neuilly-sur-Seine, Paris. Foi a terceira filha de Jean-Marie Le Pen, fundador e histórico presidente da Frente nacional, e aderiu ao partido quando fez 18 anos. No entanto, começou o seu percurso profissional longe da política nos corredores dos tribunais, mais exactamente no Tribunal de Grande Instância de Paris, equivalente ao nosso Supremo Tribunal de Justiça. Licenciada em Direito, só mais tarde entraria para a FN, onde exerceu funções no departamento jurídico do partido.

Terá iniciado aí a sua vocação política. Em 1998 concorreu e foi eleita para o Conselho Regional de Nord-Pas-de-Calais e depois também para o de d’Île-de-France, no coração de Paris. Gradualmente foi ganhando força dentro do partido e adquirindo cada vez mais responsabilidades. E em 2002 foi ela o cérebro da candidatura do seu pai à Presidência da República francesa, nas eleições em que Jean-Marie Le Pen chegou à segunda volta, juntamente com Jacques Chirac. Em 2004 entrou na corrida para o
Parlamento Europeu e foi eleita. Prosseguiu a ascensão dentro do partido e em 2012 foi ela a cara da FN nas presidenciais, onde arrecadou uns promissores 17,9%, embora se tenha ficado pela primeira volta. Nessa altura era já ela a líder do partido desde o afastamento do seu pai, em 2011, devido às suas posições demasiado radicais até para a Frente Nacional. Este ano, a revista Time incluiu o seu nome na lista dos 100 mais influentes na categoria de líder.

Uma vida privada envolta em segredo

A vida privada de Marine, escrevem os jornais franceses, é tão tumultuosa como a do seu próprio partido. No seu currículo conta já com dois divórcios, ambos com membros do partido. Actualmente tem um relacionamento com Louis Aliot, 45 anos, também ele advogado, vice-presidente da Frente Nacional e antigo chefe de gabinete de Jean-Marie Le Pen. Discretos, estão juntos desde 2000, mas só em 2010 oficializaram a relação. Só muito raramente aparecem em público como casal e até há bem pouco tempo, segundo as revistas sociais francesas, viviam em casas separadas e encontravam-se sobretudo aos fins-de-semana. Quando têm eventos públicos, de natureza partidária, a que comparecem os dois, fazem questão de chegar separados e em carros diferente.

Louis tem dois filhos, Marine três, cuja privacidade protege furiosamente. A ponto de processar jornais por escreverem sobre eles. Uma infância e uma juventude como filha de Jean-Marie Le Pen deixaram marcas e receios sobre o ódio que pode despertar a sua família – em 1972 o apartamento da família, em Paris, foi alvo de um ataque bombista que traumatizou a filha do fundador da FN e que a leva a ser cuidadosa, até à exaustão, com as questões de segurança.

Alta, loura, voz rouca de ex-fumadora – agora usa cigarros electrónicos – Marine Le Pen leva tudo à frente e marca pontos nas suas exuberantes intervenções públicas. Fez uma limpeza no partido quando lhe tomou as rédeas. Objectivo: afastar extremistas e acabar com posições radicais de racismo e anti-semitismo. A começar pelo seu próprio pai, com quem se incompatibilizou e que, entre várias pérolas, ficaria célebre por comentários como aquele em que afirmou que as câmaras de gás nazis não passaram de um detalhe na história da Segunda Guerra Mundial.

Segurança, imigração e o terreno fértil do medo

Marine apostou antes num programa eleitoral proteccionista e num discurso contra o euro e a perda de poderes do país, que tinha como alvo os mais jovens. Depois, acompanhando o ritmo dos acontecimentos na Europa, mudou rapidamente a agenda e concentrou-se nos temas da segurança e da imigração. Um terreno cada vez mais fértil, com a crise dos refugiados às portas da Europa a incendiar opiniões no país. A eurodeputada cavalgou o tema e em Janeiro deste ano, depois do atentado contra os jornalistas do Charlie Hebdo, que vitimou 17 pessoas, concentrou nele todas as suas forças.

Os atentados de 13 de Novembro, em Paris, deram um novo fôlego à FN e a Marine Le Pen, que sabe que sabe que o medo é terreno que dá frutos e aposta nele. Logo no dia a seguir aos violentos ataques perpetrados por activistas do auto-proclamado Estado islâmico, a líder da FN veio exigir que fosse reposto imediatamente o controlo "definitivo" das fronteiras, retirada a cidadania francesa a quem participasse em movimentos radicais islâmicos e que se encerrassem as mesquitas salafistas, ortodoxas e ultra-conservadoras, defensoras da aplicação da sharia. "A França e os franceses já não estão em segurança. Impõem-se medidas de urgência", declarou. A França deve "rearmar-se" e o fundamentalismo islâmico "varrido" do país. E estas foram as suas grandes bandeiras eleitorais nas eleições regionais.

As sondagens não são favoráveis à FN para este domino, reduzindo as efectivas hipóteses de a extrema direita chegar ao poder. Para evitar a vitória da extrema direita, de Marine e da sua sobrinha Marion Le Pen - outro membro da família a escalar o poder dentro do partido -, alguns candidatos socialistas aceitaram o pedido da direcção e desistiram das respectivas candidaturas a favor dos republicanos. E o primeiro-ministro, Manuel Valls, apelou ao eleitorado da esquerda para que vote no centro-direita, para evitar que a Frente Nacional chegue ao poder. No entanto, as distâncias que, segundo as sondagens, separam os candidatos são curtas e tudo pode ainda acontecer, dando razões a Marine Le Pen para, efectivamente, ter o que festejar no restaurante Chez Tonton. 

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