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FMI: Irlanda, Bélgica e Holanda serão os mais afectados pelo Brexit. Portugal nem tanto

O FMI considera que ninguém vence com o Brexit, mas que o Reino Unido é quem perde mais. Entre os Estados-membros, Portugal não é o que sofre mais: impacto na Irlanda, Bélgica e Holanda será bem maior.

19 de Julho de 2018 às 15:00
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Seja 'soft' seja 'hard', a conclusão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é a mesma: o Reino Unido irá perder mais com a saída da União Europeia do que os 27 Estados-membros que se mantêm. Mas a perda será sentida em ambos os lados. Quem mais sofrerá na UE será a vizinha Irlanda, a Holanda e a Bélgica.

"A saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) irá inevitavelmente representar uma perda para ambas as partes", afirma a instituição liderada por Christine Lagarde num estudo ao abrigo do Artigo IV à Zona Euro. Recentemente, a Comissão Europeia decidiu rever em baixa as previsões de crescimento económico para 2018 e 2019, citando entre os riscos de curto prazo a dificuldade das negociações com o Reino Unido.

As contas do FMI apontam para um perdedor claro: "As perdas no PIB a longo prazo e no emprego (em percentagem) para a UE a 27 no nosso estudo são, em média, mais baixas do que as perdas correspondentes para o Reino Unido estimadas na literatura".

Ainda assim, há quem sofra na União Europeia. O principal afectado será a Irlanda que, nas contas do Fundo, é o único Estado-membro que poderá vir a ter perdas "de semelhante magnitude" àquelas que são calculadas para o Reino Unido. O impacto pode ir dos 2,5% aos 4% no rendimento real irlandês, semelhante ao efeito na economia britânica.

Já Portugal deverá ser afectado de forma mais modesta. Os gráficos do estudo do FMI mostram que a economia nacional é a sexta que mais sofre (impacto inferior a 0,5% no PIB) caso o Reino Unido abandone o mercado único europeu, mas faça um acordo de comércio livre (FTA) com a União Europeia.

No caso de não haver acordo e de se aplicarem as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), Portugal (PRT, no gráfico abaixo) surge como o 12.º Estado-membro mais afectado com o Brexit que tira cerca de 0,5% ao PIB nacional.

Numa análise anterior ao referendo, o FMI estimava que a saída do Reino Unido da União Europeia podia custar entre 0,2% a 0,5% à economia portuguesa, consoante haja acordo comercial ou não. 


A estimativa do impacto da saída do Reino Unido depende essencialmente do acordo final, ou seja, aquilo que se pode resumir entre um 'soft' (suave) ou um 'hard' (duro) Brexit. "O nível do PIB dos países da UE a 28 cai entre 0,06% até 1,5% no longo prazo", estima o FMI. Os extremos do intervalo correspondem aos dois cenários: o primeiro se o Reino Unido tiver acesso ao mercado único europeu, o segundo se não houver nenhum acordo comercial.

Contudo, o FMI recomenda cautela para grandes conclusões: "Estes resultados devem ser interpretados com algum cuidado". A incerteza estatística aliada à incerteza política do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia tornam difíceis estimativas mais sólidas.

Além disso, as contas do Fundo não incorporam a possibilidade de haver um acordo "híbrido", ou seja, um meio termo entre o 'soft' e o 'hard'. Além disso, Christine Lagarde já antecipou uma oportunidade para a qual a Zona Euro tem de se preparar, prevendo uma "chegada massiva" de financeiras aos países da moeda única. A concretizar-se, este podia ser um ponto positivo para a economia europeia. 

Quão ligadas estão as economias?

Numa análise à interligação do Reino Unido e, em específico, a Zona Euro, o FMI relata que, em termos brutos, o comércio total de bens e serviços entre o bloco e o país corresponde a 6% do PIB da Zona Euro. No que toca aos bens, os países da moeda única têm um excedente comercial face à economia britânica. 

Perante a Zona Euro, o Reino Unido destaca-se por fornecer serviços financeiros, registando um excedente comercial nos serviços. O mercado britânico é também a origem de uma parte considerável do fluxo de investimento estrangeiro directo nos países da moeda única.

Além da Irlanda, Bélgica e Holanda, também o Luxemburgo aparece nas estatísticas como tendo um grau elevado de dependência ao Reino Unido essencialmente devido aos serviços financeiros que exporta ou importa (ver gráfico abaixo). 

Já os fluxos migratórios entre o Reino Unido e a Zona Euro são "pequenos", na análise do FMI, em comparação com a dimensão populacional dos países da moeda única. Representam 0,1% desse total. Mas há países mais expostos: na Irlanda, Malta e Chipre os migrantes no Reino Unido representam 10% da população do respectivo país. 

Estes são elementos que levam o Fundo a concluir, mais uma vez, que a "força da integração da Zona Euro e Reino Unido implica que não haverá vencedores no Brexit", tanto ao nível do comércio internacional como do fluxo de capitais. Isto porque será destruída parcial ou totalmente a integração que se tem intensificado ao longo dos últimos anos: o FMI estima que após a crise financeira a integração tenha aumentado 20%.

E, por isso, o FMI está atento ao decorrer das reuniões entre Bruxelas e Londres, alertando que "a falta de progresso nas negociações do Brexit aumenta o risco de uma saída disruptiva, o que irá pesar no investimento e na confiança". As áreas mais preocupantes para o Fundo é o mercado de capitais e o sistema bancário. O sistema financeiro denota especial urgência dada a dependência da UE com os serviços sediados em Londres e os receios com um cenário de "vazio legal".

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