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Crise política à espreita na Turquia

A provável demissão do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu significa que a visão rival do presidente Erdogan, de uma Turquia mais centralizada e fechada, está a prevalecer. A lira turca sofreu a maior queda desde 2008.

Reuters
Negócios 05 de Maio de 2016 às 10:01
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O primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu (na foto) deverá apresentar em breve a sua demissão, eventualmente ainda nesta quinta-feira, 5 de Maio. Essa probabilidade está a ser amplamente noticiada e significa que Davutoglu – o principal interlocutor de Ancara com Bruxelas - terá dado por perdida a guerra que travava com o presidente Recep Tayyip Erdogan por um regime mais transparente, aberto e descentralizado no país islâmico que detém a segundo maior exército da NATO.

A luta pelo poder entre o Presidente e o primeiro-ministro deve levar ao afastamento de Davutoglu da direcção do Governo mas também do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), a que ambos pertencem, antecipa a Bloomberg. É provável que seja marcada convenção extraordinária do AKP e que Davutoglu não se recandidate.

Ahmet Davutoglu e Recep Tayyip Erdogan estiveram reunidos ontem à noite. Não houve qualquer declaração oficial no final do encontro, mas as agências noticiosas estão a dar como certo o afastamento de Davutoglu citando uma fonte próxima do processo. No rescaldo, a lira turca sofreu ainda esta quarta-feira a maior desvalorização face ao dólar desde 2008. Esta manhã estava a recuperar, mas ligeiramente.


Erdogan governou a Turquia por mais de uma década como primeiro-ministro mas tem mantido controlo apertado sobre o país mesmo depois de ter subido à presidência em 2014, tentando usurpar protagonismo a Davutoglu. Os confrontos entre os dois têm sido cada vez mais públicos e notórios numa altura em que o país se debate com uma crise económica e duas outras frentes de conflito crescentes: com os rebeldes curdos e com militantes do chamado "Estado Islâmico".

Na semana passada, enquanto estava em visita oficial ao Qatar, o partido fez uma alteração ao estatutos retirando ao seu presidente o poder de nomear os líderes das filiais. Essa terá sido a gota de água, mas as divergências entre os dois líderes vêm de 2014, quando Davutoglu propôs um "pacote de transparência" para combater a corrupção que Erdogan vetou por considerada a iniciativa prematura.


O primeiro-ministro tem sido também o interlocutor privilegiado da União Europeia, que ofereceu dinheiro e a antecipação do fim da exigência de vistos para cidadãos turcos a troco de apoio de Ancara na contenção da vaga migratória. "A credibilidade da estrada da Turquia para a União Europeia repousa hoje com o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu", comentou no  Twitter Carl Bildt, ex-primeiro-ministro da Suécia e velho defensor da adesão da Turquia à UE. "Se ele sai, torna-se tudo imprevisível ".
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