Notícia
Crise política em Itália após Di Maio confirmar saída da chefia do 5 Estrelas?
Luigi Di Maio anunciou a demissão de líder político do Movimento 5 Estrelas, decisão que não coloca em causa a permanência como chefe da diplomacia transalpina na coligação de governo entre o partido anti-sistema e o PD. Divisões internas no 5 Estrelas põem em causa o governo italiano e ameaçam promover nova crise política.
"É chegado o momento de nos refundarmos. Hoje fecha-se uma era. Cumpri até ao fim o meu dever", declarou Di Maio no discurso em que confirmou a saída da liderança do 5 Estrelas durante um evento em que foram revelados os novos responsáveis regionais do partido e em que tem início a preparação dos estados gerais dos "grillini", dentro de dois meses.
Após ter recordado o seu percurso e o do partido desde 2013, Di Maio sublinhou que a intenção do 5 Estrelas foi "sempre ser a bússola dos cidadãos", desafio que se mantém tão ou mais premente tendo em conta que "estão a mudar os pontos cardeais da política em todo o mundo". E lembrou que, ao exercer funções executivas, o 5 Estrelas teve de fazer "escolhas duras e muitas vezes incompreensíveis" pelos respetivos apoiantes, com muitos a dizerem que a "sua confiança foi traída".
A liderança do partido ficará agora temporariamente com Vito Crimi, que será o regente do 5 Estrelas até à escolha de novo líder. Crimi é o membro mais antigo da atual direção dos "grillini".
Também Nicola Zingaretti, secretário-geral do PD (partido júnior da coligação governativa), deu garantias de que o governo transalpino está seguro e irá prosseguir o seu trabalho. Salvini quase ignorou Di Maio e acabou por tecer duras críticas ao fundador do 5 Estrelas, Beppe Grillo, que o chamou de "traidor" por ter aceitado aliar-se ao PD, partido "dos poderosos e dos banqueiros". Mesmo sem certezas quanto ao futuro do cenário político, os juros da dívida italiana aliviaram esta quarta-feira.
Da euforia à crise em menos de dois anos
O anti-sistema Movimento 5 Estrelas não se está a dar bem com o exercício do poder e isso fica claro quando se olha para a forma como tem decorrido o mandato de Virginia Raggi (também alvo de fortes críticas no seio do partido) na câmara de Roma e, em especial, a participação do partido nos dois executivos formados desde as eleições gerais de março de 2018.
Desde então, a Liga manteve-se como maior força e o PD recuperou terreno ao ponto de superar o 5 Estrelas nas sondagens, que agora não vai além dos 16%. Nesta conjuntura, o 5 Estrelas foi perdendo diversos deputados ao longo dos últimos meses, parlamentares que saíram sobretudo para a Liga e para o novo partido de Matteo Renzi (Itália Viva).
A agravar o cenário estão as sondagens que colocam o 5 Estrelas em torno dos 5% para as eleições regionais do próximo fim de semana na Calabria e na Emilia-Romagna. Neste último caso, a Liga lidera e Salvini espera um resultado robusto que lhe permita reabrir o debate sobre a legitimidade do atual executivo.
Esta tarde, Luigi Di Maio quis calar os críticos garantindo que sem convulsões internas o 5 Estrelas teria "ainda melhores resultados" e invocando o "direito sacrossanto" de o 5 Estrelas não poder ser "julgado por 20 meses no governo", mas depois de concluídos os "cinco anos da legislatura". "Em frente até ao fim da legislatura", proclamou.
A duração do governo depende, porém, menos da proclamação de vontade de Di Maio e mais daquele que for o caminho escolhido pela próxima direção de um partido envolto em polémicas e divisões pois também o filho do co-fundador do 5 Estrelas, Davide Casaleggio, responsável pela gestão da plataforma Rousseau (na qual assenta a democracia direta preconizada e da qual saem as principais decisões do partido) tem sido alvo de fortes críticas.
À fragilização da coligação de governo decorrente da incerteza quanto ao futuro do 5 Estrelas junta-se a tendência de Itália para se enredar em crises políticas cíclicas, o que deixa em aberto a possibilidade de uma nova fase de instabilidade política no horizonte.
(Notícia atualizada)