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Centeno foi à escola, jogou matraquilhos e falou dos PIIGS e do Brexit
O tempo dos PIIGS ficou para trás e o Brexit foi uma péssima ideia, mas é possível mostrar que conseguimos ser amigos como dantes. Mário Centeno comemorou o Dia da Europa com os alunos de uma escola em Lisboa e ainda teve tempo para jogar xadrez e matraquilhos.
Eles chamam-se Carolina, Iris, Guilherme, Adrian, Manveer, Jonatan, Akashpreet e estão vestidos com trajes tradicionais de diferentes países. Há um toureiro, uma fadista, uma minhota, várias indianas, até um japonês que, na verdade, é português, mas gosta de tudo o que vem do Japão. Têm 12, 13, 14 anos e estão na entrada principal da Escola Francisco de Arruda, em Lisboa, a aguardar a chegada do presidente do Eurogrupo. São uma espécie de comité de recepção, em nome dos cerca de 600 alunos que ali têm aulas e têm preparadas várias perguntas para o ministro das Finanças que, já lhes explicaram, não está ali nessa qualidade, mas na de presidente do Eurogrupo.
Mário Centeno escolheu a EB Francisco Arruda para assinalar o Dia da Europa, que se comemora a 9 de Maio. Além de um passeio pela instituição, com paragem na biblioteca e no bar, o programa inclui uma sessão de perguntas e respostas na sala polivalente. Com os alunos, estão também à sua espera o director da escola e o director-geral de educação, mais os presidentes das juntas de freguesia de Alcântara e da Ajuda, entre as quais se divide a Francisco Arruda.
A visita foi cuidadosamente preparada e há alguma pompa e circunstância, que Centeno se esforça por dissipar. Distribui sorrisos e vai metendo conversa com alunos que, do nervoso de falar com o ministro, se esquecem do que tinham preparado para lhe dizer. Mais tarde, na altura das perguntas, já tudo será mais fácil. Centeno também levava o discurso alinhavado: "Este é o dia em que celebramos a Europa e a diversidade, porque Europa é sinónimo de paz, integração, cooperação, assimilação de diferenças." E declara: "O que é feito pelo Homem está sempre imperfeito e a Europa está sempre em construção. Alcântara hoje é o centro da Europa e do Eurogrupo".
Brexit? "Vamos ser amigos como dantes"
Na biblioteca, o ministro foi ver os trabalhos realizados pelos alunos no âmbito do Clube Europeu, sobre património imaterial e trajes regionais. Respondeu a uma pergunta do Jogo da Europa sobre fronteiras e fez uma jogada de xadrez. Também jogou matraquilhos, e até marcou um golo, ou não fosse ele o "Ronaldo das Finanças", como entre os presentes logo alguém se lembrou de dizer, numa alusão à frase de Wolfgang Schäuble.
Levou a lição preparada, falou de mitologia grega, do "namoro de Zeus e de Europa" e de como o deus grego se disfarçou de touro branco para não ser reconhecido. E avisou: "Vou tentar puxar a brasa à minha sardinha, para vos tentar convencer da importância da Europa e das boas ideias que os ministros das Finanças às vezes também podem ter, por mais estranho que isso possa parecer".
Mas numa Europa tão perfeita, porque está afinal o Reino Unido a sair? E porque há tantos movimentos nacionalistas? E porque razão é que os países do Norte duvidam sempre dos do Sul? Portugal ainda está nos PIIGS? O Brexit "é a prova de como às vezes os políticos podem ter más ideias", mas "temos de mostrar que sabemos ser amigos como dantes. E construir aquilo que seja possível construir para que a construção que estamos a fazer possa não ser muito danificada", disse o ministro.
Na resposta à pergunta sobre os PIIGS, puxou pelos galões: "Portugal mostrou a determinação com um ideal e com a participação nesse ideal. Por isso colocámos as contas públicas em ordem e voltámos a ser um país receptor de imigrantes. E temos hoje como corolário o ministro das Finanças como presidente do Eurogrupo. Essa sigla saiu do vocabulário europeu por estes dias".
Em dia de comemorações, em que se recusou a falar de outros temas que não tivessem a ver com o dia, Centeno foi até simpático para com o anterior Governo. Concede algum mérito a quem o antecedeu, questionou um dos alunos. "Como sempre nas nossas vidas, há coisas boas e más em todos os momentos de decisão. Hoje é o dia de valorizar todos e, em particular, a ideia de Europa, que não pode excluir ninguém", rematou.