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Boris Johnson revoluciona para ter governo de linha dura no Brexit

O novo primeiro-ministro do Reino Unido não se limitou a fazer retoques no governo, promovendo antes uma profunda remodelação. Boris Johnson tem agora um executivo repleto de elementos da ala "brexiteer" do Partido Conservador, o que reforça a mensagem de que o Brexit é mesmo para concretizar a 31 de outubro.

EPA
25 de Julho de 2019 às 10:33
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Foi sem margem para contemplações que Boris Johnson promoveu uma revolução na composição do governo britânico, agora integrado sobretudo por conservadores da linha dura do Brexit e da ala mais à direita e liberal do Partido Conservador.

Um dia depois da rainha o ter apontado primeiro-ministro e o ter convidado a formar governo, o primeiro-ministro do Reino Unido mudou mais de metade do executivo até aqui chefiado por Theresa May.

Segundo contas do Politico, 17 ministros e altos membros do governo foram afastados por Johnson ou saíram pelo próprio pé antecipando o afastamento.  

Há três nomes que saltam à vista. O ex-ministro de May para o Brexit, Dominic Raab, que saíra do governo em oposição à estratégia e ao acordo de saída da União Europeia que a então primeira-ministra alcançou com Bruxelas, é o novo ministro dos Negócios Estrangeiros, substituindo Jeremy Hunt, o candidato derrotado por Johnson na corrida à liderança dos "tories".

Raab, um defensor desde a primeira hora da saída do bloco europeu, será o número dois do novo executivo conservador.  

A pasta das Finanças será entregue a Sajid Javid, um adepto do liberalismo de Margaret Thatcher e um eurocético de sempre que depois de ter feito campanha pela permanência no referendo de 2016 disse ter-se arrependido de tal posição. Javid também se candidatou à sucessão de May, ficando em quarto na disputa interna. Sucede a Philip Hammond, que prometera demitir-se se Boris Johnson conquistasse a liderança dos "tories".

Já o ministério do Interior fica a carga de Priti Patel, uma "hard brexiteer" da ala mais ortodoxa dos "tories" que é também uma admiradora do legado de Thatcher e que em 2011 defendia a readoção da pena de morte.

Outra escolha que mostra ao que vem Boris Johnson não diz respeito ao governo, mas à Câmara dos Comuns. O novo primeiro-ministro e presidente conservador escolheu Jacob Rees-Mogg, líder do think tank European Research Group (ERG) que agrega conservadores eurocéticos e anti-UE e que foi determinante na campanha interna que ajudou a derrubar Theresa May, foi apontado para liderar (speaker) a câmara baixa do parlamento britânico.  

Em termos de continuidade, destaque para o eurocético Stephen Barclay, que continua com a missão de liderar a equipa britânica responsável por negociar com o elenco europeu chefiado pelo negociador Michel Barnier os termos do divórcio.

Barclay é reconhecidamente eurocético e terá doravante no primeiro-ministro e no ministro dos Estrangeiros posições mais alinhadas com a defesa de uma rutura mais acentuada dos laços que ligam Londres a Bruxelas.  

Boris chama irmão para o governo

Entre as novidades no elenco está a escolha de Boris Johnson para secretário de Estado da Economia, Energia e Indústria. O nome escolhido foi o de Jo Johnson, com quem partilha não só o apelido mas parentesco já que são irmãos. Jo trabalhará de perto com outra "brexiteer", Andrea Leadsom, escolhida como nova ministra da Economia, Energia e Estratégia Industrial.

No âmbito das mudanças, surgem contudo nomes que se distanciam da fação que defende uma saída dura da UE, como é o caso de Ben Wallace, um defensor da permanência no bloco europeu que fica com a tutela da Defesa. Wallace, que substitui no cargo Penny Mordaunt, apoiante de Jeremy Hunt na disputa com Boris Johnson, é agora o elemento mais relevante do governo pertencente aos "remainers", ele que em 2018 alertava que uma saída sem acordo da União levantava riscos para a segurança pública. 

No primeiro discurso realizado esta quarta-feira à porta do n.º 10 de Downing Street, Boris Johnson reiterou a garantia de que o Reino Unido vai mesmo abandonar a UE na data prevista, o próximo dia 31 de outubro, "sem ses, nem mas". Insistiu ainda na garantia de que Londres conseguirá obter um "novo" e "melhor" acordo de saída nas futuras negociações com os líderes europeus.

Pelo seu lado, Bruxelas repete que os termos estabelecidos no tratado jurídico que define os termos do divórcio, e que foi três vezes chumbado pelo parlamento britânico, são inegociáveis, deixando apenas margem para uma renegociação da declaração política conjunta que estabelece os princípios que deverão nortear a futura relação entre o Reino Unido e a UE. 

A ampla reformulação do governo promovida por Boris Johnson garante um executivo mais próximo do seu pensamento no que toca à relação com a UE, porém o novo primeiro-ministro, como salienta uma análise feita pela BBC, não pode mudar nem a fortemente dividida bancada parlamentar "torie" (fraturada entre três correntes: defensores da permanência, favoráveis a uma saída consensualizada e adeptos de uma rutura com a UE) nem a aritmética parlamentar, já que a Câmara dos Comuns permanece também ela muito fragmentada. 

Enquanto Theresa May ficou muito fragilizada pela oposição feita pelos deputados conservadores "hard brexiteers", Boris Johnson corre agora o risco de ver o seu trabalho minado pelos "tories" que rejeitam uma saída desordenada da União, os quais poderão arregimentar esforços em resposta ao afastamento da quase totalidade de "remainers" do novo executivo. 

(Notícia atualizada às 10:45)

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