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BCE vê alívio no travão aos salários na Zona Euro

Os especialistas que o BCE consulta regularmente para obter previsões sobreestimaram o crescimento salarial e o desemprego entre 2013 e 2015. Agora que já terão ajustado os seus modelos a uma nova realidade, os mesmos especialistas antecipam aumentos salariais para os próximos anos.

28 de Dezembro de 2017 às 11:30
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É um dos mistérios da grande recessão do século XXI: apesar da recuperação pós-2013, que se sentiu também na criação de emprego, os salários não subiram como previa a maioria dos economistas. Ora, sem subidas de salários, não há subida de inflação, e essa tornou-se numa das grandes dores de cabeça do BCE, especialmente porque a sua capacidade de intervenção por compras de activos tem limites. A resistência pode, contudo, estar a desvanecer-se, admite o BCE no seu boletim económico de final de ano. Essa é pelo menos a expectativa do banco central a partir da análise às últimas previsões dos especialistas que o BCE contacta regularmente para oferecerem previsões sobre o andamento da economia da Zona Euro.

"As expectativas sobre crescimento salarial subiram ao longo de 2017 em todos os horizontes de previsão. Em particular, o último Inquérito de Previsões Profissionais [Survey of Professional Forecasters - SPF] (para o último trimestre de 2017) mostra que as expectativas de crescimento salarial no longo prazo recuperaram mais de metade da queda verificada no período 2013-16. Isto pode sugerir que os factores que estiveram a travar os aumentos de salários são percepcionados como estando a enfraquecer", lê-se num artigo publicado no Boletim Económico do BCE publicado a 28 de Dezembro.

Esta expectativa do banco central confia que a capacidade de previsão dos especialistas que consulta regulamente melhorou nos últimos anos, incorporando já as lições da crise. É que no período da recuperação económica entre 2013 e 2015 verificaram-se desvios sistemáticos nas previsões dos especialistas, que sobrestimaram a evolução dos salários e do desemprego, levando o BCE a admitir que se verificou uma "quebra de estrutura" no comportamento do mercado de trabalho da região.

"O crescimento dos salários e a taxa de desemprego foram ambos sobreestimados pelo SPF no período 2013-2015, uma constelação de erros que parece pouco comum face ao histórico de previsões", descreve o BCE, considerando que este novo padrão pouco comum "pode sugerir uma quebra estrutural nas dinâmicas do mercado de trabalho da Zona Euro".

Ou seja, dado que a taxa de desemprego baixou mais do que se esperava sem provocar um aumento de salários, "outros factores estiveram a travar o crescimento salarial", nos quais se podem incluir a "flexibilidade salarial acrescida, resultante da profundidade da crise e das reformas no mercado de trabalho; um aumento maior de empregos de produtividade baixa; e os efeitos do ambiente de baixa inflação" que podem estar a ditar negociações salariais com base no histórico recente.

Por outro lado, admite ainda o BCE, o actual desempenho da economia "pode também sinalizar" que a actual taxa de desemprego subestima a fraqueza real do mercado de trabalho: "por exemplo, a proporção elevada de trabalhadores em "part-time" que querem aumentar as suas horas de trabalho ou de trabalhadores marginalmente ligados ao mercado de trabalho (os desempregados que dizem querer trabalhar, mas não procuram) podem ter permitido uma expansão do emprego sem gerar inflação salarial". Estes riscos já são assumidos nas últimas previsões do SPF, que ainda assim apontam para uma recuperação sustentada dos salários nos próximos anos.
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