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Weidmann estará a ponderar demitir-se do Bundesbank

Jornal alemão cita deputado do partido de Merkel que admite que Weidmann não resista ao confronto com o presidente do BCE. Compras de dívida pública estã a partir, de novo, o mundo das finanças e da política germânica.

30 de Agosto de 2012 às 16:06
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Jens Weidmann (na foto), Presidente do Bundesbank, poderá “bater com a porta”, seguindo os passos de Axel Weber, seu antecessor, e de Jürgen Stark, antigo economista-chefe do BCE, que abandonaram os seus cargos em protesto contra as opções que estão a ser seguidas pelo Banco Central Europeu na tentativa de debelar a crise das dívidas soberanas.

A hipótese é admitida por Emil Willsch, membro da CDU de Angela Merkel e da comissão do Orçamento do parlamento alemão, em declarações ao jornal alemão “Handelsblatt”, reproduzidas pelo espanhol “Cinco Dias”.

Em causa está o novo programa de compra de dívida pública – que se antecipa de grande envergadura – que o BCE está a preparar para apoiar, no imediato, Espanha e Itália. Ambos os queixam-se de que os mercados de dívida estão a cobrar-lhes uma factura pesada devido ao risco de implosão do euro, elevando os seus custos de financiamento a níveis incomportáveis e sem aderência à realidade económica e financeira de ambos os países.

Esse argumento foi abertamente aceite pelo presidente do BCE quando, no início de Agosto, Mário Draghi se referiu ao “receio de reversibilidade do euro” como elemento que estará por detrás dos “prémios excepcionalmente elevados” cobrados a alguns países do euro, tendo então prometido a intervenção do BCE.

Desde então, o Bundesbank fez saber por vários meios que não via com bons olhos a possibilidade de serem retomadas as compras de dívida no mercado secundário que, no passado, serviram de meras aspirinas no alívio da febre dos juros.


Viciante como uma droga

Neste fim-de-semana, o próprio Jens Weidmann advertiu que esta medida poderá "ser viciante como uma droga", alegando que distorcerá os mercados e adormecerá os incentivos para que os Governos façam as reformas estruturais necessárias, tendo igualmente acusado o BCE de estar a ir além do seu mandato, argumentando que não são bancos centrais, mas os Governos do euro (e respectivos parlamentos, igualmente eleitos) que têm a legitimidade para decidir se e como ajudam um parceiro.

Em resposta, Draghi escreveu nesta quarta-feira no “Die Ziet” que, de facto, “o BCE não é uma instituição política”. “Mas está comprometido com as suas responsabilidades enquanto instituição da União Europeia. Como tal, não se pode perder de vista a nossa missão de garantir uma moeda forte e estável. As notas que emitimos ostentam a bandeira da Europa e são um poderoso símbolo da identidade europeia”.

O presidente do banco central alemão terá sido o único membro do conselho do BCE a votar contra a possibilidade de compra de dívida na reunião no início de Agosto. Aliados tradicionais do Bundesbank, como os dirigentes dos bancos centrais da Finlândia e da Holanda, terão votado ao lado do presidente do BCE, o italiano Mário Draghi.

Nem Jörg Asmussen (na foto) lhe deu apoio.

O alemão que integra a comissão executiva (órgão máximo) do BCE e que em tempos trabalhou lado a lado com Weidmann no Governo de Angela Merkel (Weidmann como conselheiro económico da chanceler, Asmussen como Secretário de estado do Ministério das Finanças, numa “equipa de sonho”, como refere a revista alemã “Der Spiegel”) não votou nessa reunião (estava de férias). Mas acabou por manifestar publicamente o seu apoio à proposta de Draghi, embora sublinhando que o BCE terá de se assegurar que não está a financiar Estados (possibilidade vedada pelos Tratados) e que não se desviará do seu mandato de manter a estabilidade dos preços (o que poderá exigir a "esterilização" das compras de dívida, para evitar que o aumento de liquidez gere inflação).

No seio do Governo alemão, a posição de Weidmann também não teve muito eco, embora Merkel tenha chamado a atenção para a importância de serem levadas em conta as preocupações manifestadas pelo Bundesbank.

Quinta-feira decisiva?

O novo modelo de compras do BCE deve ser discutido, em detalhe, pelo Conselho de Governadores do BCE na próxima quinta-feira, 6 de Setembro. A preparação do encontro, num contexto de confronto persistente com o Bundesbank, foi o motivo que levou o italiano a cancelar a sua participação na conferência de banqueiros centrais de Jackson Hole, Estados Unidos, que começa amanhã. Jens Weidmann, no entanto, viajou para Jackson Hole, escreve a “Der Spigel”.
Até agora, o que se sabe do novo modelo é relativamente pouco e decorre da exposição oral feita por Draghi em Agosto: a intervenção do BCE exigirá o pedido formal de assistência de um país (Espanha estará já na lista de espera), que terá, portanto, de se conformar com as condições de ajustamento e mecanismos de acompanhamento impostos pelos seus parceiros, e deverá concentrar-se no mercado secundário de dívida de mais curto prazo.

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