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Vítor Constâncio lamenta morte de "um homem raro"

O vice-presidente do BCE sublinhou a "honestidade intelectual" e o "espírito de serviço público" de Silva Lopes, considerando serem "valores inevitavelmente em declínio numa época de extremado individualismo utilitarista", mas que "são valores fundamentais".

03 de Abril de 2015 às 17:33
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O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, lamentou hoje a morte de "um homem raro" como José da Silva Lopes, salientando que "deixa um enorme vazio na comunidade dos economistas portugueses".

 

"Sinto a sua morte como uma enorme perda pessoal", afirmou Vítor Constâncio numa mensagem escrita enviada à agência Lusa.

 

José da Silva Lopes, que foi ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal (BdP), entre 1975 e 1980, morreu na quinta-feira, aos 82 anos.

 

Vítor Constâncio, que também foi governador do BdP (2000-2010), recordou de Silva Lopes os "valores de probidade, de integridade, de enorme dedicação e capacidade de trabalho, de empenhamento numa contínua intervenção pública".

 

O vice-presidente do BCE sublinhou a "honestidade intelectual" e o "espírito de serviço público" de Silva Lopes, considerando serem "valores inevitavelmente em declínio numa época de extremado individualismo utilitarista", mas que "são valores fundamentais".

 

"Nunca vi o Dr. Silva Lopes hesitar em dizer o que lhe parece ser verdadeiro. Nem hesitar em exprimir dúvidas ou fazer perguntas, como é próprio dos homens seguros de si, a quem a verdade interessa mais do que a mera pretensão de saber, essa honestidade intelectual que o levava muitas vezes a ser politicamente ‘incorrecto’", recordou Constâncio.

 

"O seu proverbial pessimismo, uma deformação profissional dos economistas, era em parte o fruto desse honesto sentido da realidade", acrescentou.

 

Vítor Constâncio destacou, ainda, o "espírito de serviço público" de Silva Lopes, referindo que era o "paradigma em Portugal daquilo que os franceses designam como um Grande Servidor do Estado".

 

Recordou que Silva Lopes foi "assessor nas negociações para a entrada de Portugal na EFTA e na preparação do Acordo de Comércio Livre com a então CEE" e responsável numa primeira fase pelas negociações para a entrada na Comunidade Europeia como país membro, em que trabalharam juntos.

 

Aludiu igualmente ao trabalho de Silva Lopes no âmbito da regulação do sistema financeiro português ou sobre a reforma fiscal e "ainda o seu importante papel como governador do Banco de Portugal" e depois como ministro na "superação da crise da balança de pagamentos de 75-77".

 

Vítor Constâncio referiu também, na mensagem enviada à Lusa, que Silva Lopes "nunca foi propriamente um simples tecnocrata" e reconheceu sempre que "não existe neutralidade em economia aplicada e que, até mesmo na teoria, a economia não é uma asséptica ciência exacta".

 

O antigo ministro das Finanças, segundo Constâncio, "tinha um pensamento firmemente ancorado nos valores da solidariedade e da equidade social, mas teve sempre a honestidade de não acomodar reivindicações irrealistas ou de curto prazo mesmo quando pretendem passar por defesas justas de valores sociais".

 

"Silva Lopes sempre foi transparente sobre a perspectiva em que intervinha, a de um conceito de bem comum, de um interesse geral que procurava servir e que em democracia é o resultado do livre confronto de ideias e das escolhas das legítimas instâncias políticas e não um dado apriorístico e unívoco", acrescentou.

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