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Troika "cortou" a felicidade dos portugueses
Um estudo divulgado pela ONU comprova que os portugueses são hoje menos felizes do que antes da crise. Grécia e Venezuela entre os que mais caíram nos últimos anos num ranking dominado pelos países nórdicos.
Após cair de 88.º para 94.º na edição de 2016, Portugal recuperou algumas das posições que tinha perdido e surge este ano classificado na posição 89 do ranking da felicidade, divulgado esta segunda-feira, 20 de Março, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Com uma pontuação de 5,195 (numa escala de 0 a 10), o país surge entre o Líbano e a Bósnia numa lista constituída por 155 países.
A quinta edição do "World Happiness Report", em que participaram perto de três mil pessoas em cada um dos países, mostra que para a felicidade dos portugueses contribuem quase em igual proporção o rendimento (PIB per capita) e os apoios sociais. A generosidade ("ter alguém com quem contar nos momentos difíceis") e a percepção de corrupção nos negócios e no governo são factores analisados neste estudo que dão um menor contributo.
No comparativo entre a época 2005-2007, antes do início da recessão global, e o período 2014-2016, os portugueses pioraram (-0,21 pontos) a avaliação à felicidade nas suas vidas. Surgem no 95.º lugar nessa tabela comparativa (com 126 países), que coincide com a aplicação do programa de assistência da troika. O estudo frisa que o desemprego é uma das maiores razões para a quebra da felicidade, afectando também a qualidade do trabalho dos que mantiveram o emprego.
Esse efeito combinado da crise económica com o aumento das tensões políticas e sociais é bem visível nas variações registadas no conjunto dos países da Europa Ocidental, com 11 deles a registarem "perdas significativas". Aliás, três dos 15 países que perderam mais felicidade neste período estiveram envolvidos na crise da Zona Euro: Grécia, Itália e Espanha.
Os gregos, que já vão no terceiro resgate, surgem inclusive a fechar este pódio indesejável devido à perda registada de -1,099 nessa escala de 0 a 10. Pior só a República Centro-Africana – no ranking de 2017 surge no último lugar – e a Venezuela, comandada por Nicolas Maduro, que atravessa uma grave crise e cujo Parlamento acaba de declarar o estado de emergência alimentar no país. Mesmo com o maior recuo a nível global na última década, o país da América Latina ainda é mais feliz (5,250) do que Portugal, ocupando a 82.ª posição.
Alegria brasileira contrasta com tristeza americana
Entre os países de língua oficial portuguesa incluídos neste estudo, divulgado esta segunda-feira para assinalar o Dia Internacional da Felicidade, o destaque vai para o Brasil, que nos últimos dez anos subiu ligeiramente os índices de felicidade e ocupa actualmente o 22.º lugar. Os outros dois surgem atrás de Portugal, com Moçambique (113.º) à frente de Angola (140.º).
Numa lista em que a diferença entre os dez do topo e os dez do fundo ascende a quatro pontos, o relatório mantém a mesma dezena de países na frente em relação a 2016. Apesar de notar que as diferenças entre eles são tão curtas que não são estatisticamente significativas, a Noruega saltou para a liderança (7,537) e relegou a Dinamarca para a segunda posição. Seguem-se a Islândia, a Suíça e a Finlândia.
O estudo dedica um capítulo aos Estados Unidos, que apresenta como "uma história de felicidade reduzida". É que do terceiro posto que ocupava em 2007 entre os países da OCDE, a maior economia do mundo passou para o 14.º lugar dez anos depois. "As razões passam pelo declínio nos apoios sociais e pelo aumento da [percepção da] corrupção", lê-se no estudo, que sublinha que estes são "precisamente os factores que explicam por que é que os países nórdicos fazem muito melhor" neste ranking da felicidade do que a nação agora liderada por Donald Trump.