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“Temos de analisar de onde vêm os lucros das agências de rating”
Jornal de Negócios publica hoje uma entrevista ao Comissário Europeu para o Mercado Interno, Charlie Mccreevy.
O Jornal de Negócios publica hoje uma entrevista ao Comissário Europeu para o Mercado Interno, Charlie Mccreevy.
Quais as conclusões sobre o documento do Comité Económico e Financeiro relativo a maior estabilidade financeira?
O relatório da CEF tem algum alcance, mas não gostaria de avançar para onde vamos, uma vez que ainda há alguns pontos críticos a resolver. A questão central é saber como criar um mecanismo satisfatório para lidar com os bancos que operam em mais de um Estado e que têm operações transfronteiriças.
Como é que as questões de falta de transparência que têm vindo a público vão ser atacadas?
Há ainda visões muito diferentes e muito, muito fortes sobre como é que isto pode ser feito. Estamos à procura de um consenso.
Fez questão de notar que grande parte da crise se explica por acção dos sectores financeiros regulados. Como vão ser combatidas estas falhas?
Há um número grande de assuntos a analisar. Vamos ver o que se pode aprender com esta crise, e depois, se entendermos que há aspectos regulatórios que devem mudar, tenhamos então um debate muito aberto.
Têm dito que não querem encontrar bodes expiatórios, mas o facto é tanto você como Trichet estão a apontar o dedo às agências de "rating".
Já disse diversas vezes que as agências não são o único elemento a ser considerado. Mas o facto é que o papel das agências tem de ser analisado e haverá concerteza lições a aprender. Porquê? Porque as agências têm a confiança dos investidores e das autoridades de supervisão e são reconhecidas em alguma da nossa legislação. Além disso há uma óbvia percepção de conflitos de interesse.
Pediu que se analisasse de onde vêm as receitas das agências e de que modo elas se ligam ao desempenho. Não é diferenciar?
Fazemos análises semelhantes para outros sectores. As agências são usadas pelas instituições que emitem dívida e que usam os veículos especiais. São muitas vezes consultoras no processo de emissão e recebem os seus "fees" [comissões]. Depois fazem as notações de risco sobre esses investimentos. Temos de garantir que há boa "governance" e combater potenciais conflitos de interesse. Veja os números das agências: os seus lucros têm estado a subir. Se olhar com mais profundidade, verá de onde vêem os lucros. Isto é algo que temos de analisar.
O facto de muitos bancos terem criado instrumentos estruturados com os quais retiram do balanço algumas responsabilidades que depois voltaram a assumir vai ter de ser resolvido? Como?
A teoria é a de que estes veículos especiais permitiam a transferência de risco para outras entidades. Por razões de reputação e outras os bancos voltaram a assumir os riscos. Outro problema é que estão a ser estendidas linhas de crédito das instituições até aos veículos. As autoridades de supervisão terão de olhar para tudo isto.
É necessária nova regulação que evite práticas comerciais agressivas como as praticadas nos EUA e que levaram à implosão do "subprime"?
Estivemos num longo ciclo benigno de risco no crédito, o que levou os bancos a práticas menos cuidadas. Além disso, a procura de lucros cada vez maiores, por parte dos investidores, accionistas e empresas, levou onde tinha de levar: as pessoas deixaram de valorizar os riscos adequadamente.
Faz parecer que estas situações são inevitáveis.
Quem pensar que vai regular o risco para fora do mercado, estará a pensar no fim do capitalismo. Mas o capitalismo sobrevive. Tem de haver elementos de risco em tudo. Temos de ver se existem falhas na regulação, mas não vamos conseguir regular todos os riscos.
Após os escândalos contabilísticos nos EUA, surgiu um conjunto de nova regulação (Sarbanes Oxley). Muitos queixaram-se de tal ter colocado demasiado peso administrativo sobre as empresas. Teme algo semelhante?
Esse é um bom exemplo. Nos EUA houve uma reacção muito rápida. Nós levamos o nosso tempo na Europa e creio que tivemos um resultado melhor.