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Tecido produtivo não acompanha qualidade de licenciados, alerta Carlos Costa
Em causa está a "dimensão reduzida das empresas portuguesas" que, para Carlos Costa, traz uma "grande limitação" nas saídas profissionais e na absorção de mão-de-obra.
"Não temos um tecido produtivo que acompanhe a qualidade dos licenciados, dos mestrados ou dos doutorados que a universidade já fornece, porque não consegue ter a especialização funcional que seria necessária para os utilizar plenamente", alertou esta terça-feira o ex-governador do Banco de Portugal (BdP) Carlos Costa durante a aula inaugural do ano letivo no ISAG - – European Business School.
Em causa está a "dimensão reduzida das empresas portuguesas" que, para Carlos Costa, traz uma "grande limitação" nas saídas profissionais e na absorção de mão-de-obra. "A fuga de cérebros é o reflexo da fragilidade do tecido produtivo e da qualidade do sistema educativo", afirmou mesmo o economista.
"Temos de ir ao encontro dos fatores que determinam esta fragmentação empresarial", afirmou o antigo governador, que indicou também caminhos de solução: "o primeiro elemento que temos de olhar claramente é o da política económica que, no fundo, conforta a falta de transparência e a opção pela pequenez".
"Defendo claramente uma redução substancial do IRC para as empresas que aceitem modelos de governação com separação entre propriedade e gestão e com transparência de contas", explicou Carlos Costa.
Na intervenção no ISAG, o antigo Governador do Banco de Portugal apontou ainda desafios de futuro para o sistema de ensino. Entre eles, a especialização das instituições, a "adequação da educação às necessidades de cada etapa de desenvolvimento do país", incluindo ao desenvolvimento tecnológico, e ainda a necessidade de ganhar escala e sustentabilidade através da captação internacional de estudantes.
"Há um elemento decisivo com que estão confrontadas as escolas, que é entender o tecido produtivo, pressionar o poder político no sentido de regenerar o tecido produtivo e, ao mesmo tempo, encontrar escala, em termos de alunos, para continuarem a ser melhores, não obstante estarem atrofiadas pelo mercado local. Passam a ser exportadoras de serviços", explicou Carlos Costa.
Ainda assim, apesar de considerar a escola como "a pedra angular do desenvolvimento económico", Carlos Costa afirmou que isso "não significa que gastar mais em educação gera mais desenvolvimento económico".
"Em Portugal, temos obrigação não é de nos interrogarmos sobre quanto gastamos. É de interrogarmos sobre o que retiramos daquilo que gastamos", afirmou, sobre o sistema educativo, o antigo líder do BdP.
Para Carlos Costa, é necessária uma "adequação daquilo que se produz em matéria educativa àquilo que são as necessidades do tecido económico" e é importante gerar "eficiência do sistema educativo do ponto de vista do aproveitamento dos recursos".
"Temos de nos perguntar se este ecossistema está eficientemente organizado ou se, pelo contrário, gera resultados que são de segunda ou terceira ordem". Para o economista, "não há um ecossistema educativo que funcione com professores insatisfeitos" ou "com alunos que não entendam que a educação em si é um trabalho por parte deles", sublinhou Carlos Costa.