A primeira encíclica redigida pelo Papa Francisco vai ser uma defesa apaixonada da natureza e está praticamente pronta, podendo ser conhecida ainda durante este mês de Janeiro, escreve esta sexta-feira o jornal espanhol El Pais. Este é um dos temas que preocupa Jorge Mario Bergoglio, que já várias vezes o tem mencionado, e a encíclica está a ser preparada desde o Outono de 2013, com a colaboração de um significativo grupo de assessores entre os quais o cardeal ganês Peter Turkson e os teólogos argentinos Carlos María Galli e Víctor Manuel Fernández.

Esta será a primeira encíclica totalmente redigida pelo actual Papa, já que a anterior, de Julho de 2013, já no seu pontificado, pertencia na sua maior parte a Ratzinger. Segundo fontes citadas pelo El Pais, o texto dirigido ao mundo católico será uma "bomba mediática", ao mais puro "estilo Bergoglio" que continua a deixar desconcertados os sectores mais tradicionalistas do Vaticano. 

Já na sua primeira missa, de inauguração do pontificado, a 19 de Março de 2013, o Papa Francisco sublinhou a importância de se proteger a natureza. Afirmou então que Francisco de Assis, em cujo nome e mensagem quer inspirar o seu papado, representa o modelo de vida austero, respeitoso com a criação  e contrário à actual "cultura do descarte", na sequência da qual em alguns países  se desperdiçam alimentos e recursos naturais enquanto que noutras zonas do globo, milhões de pessoas morrem à fome. Só cuidando da natureza é possível também "cuidar das pessoas, e preocuparmo-nos com todos, especialmente com as crianças, os idosos e os mais frágeis", advertiu então.

Entre as primeiras deslocações de Jorge Mario Bergoglio, recorde-se, estiveram as ilhas de Lampedusa e Cerdeña, onde chamou a atenção para os grandes problemas de emigração e do desemprego.

Em Maio de 2015, numa homilia na praça de São Pedro, no Vaticano, perante uma audiência de 100 mil peregrinos, o Papa voltou a referir-se às suas preocupações com a ecologia. "A natureza não é uma propriedade de que possamos abusar, nem, muito menos, propriedade de uns poucos. É, sim, um dom de todos, que devemos proteger. Se destruímos a criação, a criação nos destruirá a nós. Nunca o esqueçamos".

E, em mais do que uma ocasião usou uma frase popular segundo a qual "Deus perdoa sempre, os homens algumas vezes, a natureza nunca".